Pétala é de estação, e seu temperamento é climático. Tem dias em que ela é fria, em outros, calorosa. A conheci na primavera do ano passado, quando eu observava a mudança dos novos vizinhos.
— Oi — ela disse.
— Oi — respondi.
E a partir daquele momento o clima mudou. Não, não foi algo que rolou entre nós. Não foi a troca de olhares ou os sorrisos. O clima realmente mudou de frio para calor.
— Você sabia que o girassol tem esse nome porque sempre gira na direção do sol? — ela disse.
— Não — respondi.
Seus pais abriram uma floricultura na cidade. É um negócio de família que já dura há algumas gerações. Ela conhece bem as flores e sempre me explica sobre cada uma. Quando perguntei o porquê do seu nome ser Pétala, ela revirou os olhos e gargalhou. O motivo é óbvio, mas eu sempre gosto de ouvi-la explicando.
— Rosa é muito comum, Tulipa só dura de maio a outubro, minha mãe nunca gostou de Jasmim…
— Entendi.
Um dia contei para Pétala que eu gostava dela. Sua primeira reação foi de espanto, logo em seguida sorriu e me deu um beijo no rosto. Pouco tempo depois, disse que isso seria uma má ideia, e pediu que eu esquecesse. Concordei de dedos cruzados.
— Bem-me-quer, malmequer…
Ela sempre tem o costume de desaparecer. Passa dias e mais dias sem sair de casa ou dar notícias. Então surge do nada, dançando com o vento. Quando pergunto o que ela ficou fazendo, responde que estava pensando.
— No tempo, no dia de ontem, na roupa que eu vou usar semana que vem, na minha família, amigos, até em você…
— Pensou em mim?
— Pensei sim.
Em uma dessas vezes, quando voltou, Pétala me deu um beijo. Não no rosto como na outra vez. Dessa vez nossos lábios que se tocaram. Ela disse que também gostava de mim. Mas como eu disse, Pétala é de estação. Tem hora que me quer, tem hora que não. Não demorou até que ela pedisse para eu esquecer de novo.
— Melhor deixar pra lá — ela disse.
— Tudo bem — menti.
Só que Pétala continua sempre voltando, e isso tem me deixado louco. Vivo espalhando seu nome pelo chão do quarto. Bem-me-quer, malmequer, bem-me-quer, malmequer… Desde então, sou eu quem tem pensado. Talvez eu espere por ela durante várias primaveras. Talvez eu vá embora de vez quando o outono chegar.