Uma corda feita de lençóis e cortinas desceu como um tiro pela torre, sua majestade, a Princesa Anna, suava frio, no céu, um temporal começava a se formar, mas ela precisava fugir o mais rápido possível, estavam caçando-a.
Em um embornal, ela carregava consigo suas jóias, um pouco de comida e uma faca bem afiada. Seu coração estava colidindo, a cada centímetro que corajosamente ela descia - quase que escorregando, ela sentia que estava mais perto da morte - Não poderia ser diferente.
Além dos muros do castelo, havia um coração que também procurava por ela, aguardava por ela, por tocar seus lábios, colocá-la dentro do coração.
A Princesa Anna era uma traidora da coroa?
Melhor do que trair a si mesma, ela costumava pensar.
Com muita dificuldade, seus pés tocaram o chão, por um momento, ela pensou se não deveria puxar a corda, desta forma poderiam pensar que ela simplesmente desapareceu num passe de mágica...
Não... Eles que pensem o que bem quiserem! Ela tinha de escapar. Será que os guardas sabiam da traição? O que fariam se a encontrassem?
Ela tinha de matá-los.
Finalmente, a tempestade começou a desabar, sorrateiramente, ela matou cada um dos guardas, sem muita luta corporal, bastava uma estocada e pronto... Eles devem ser pais, ou filhos, ou amantes... Não, Anna, não há tempo para pensar sobre, tudo deve estar em seu devido lugar. Eles estão mortos, e você... Mais viva do que nunca! Correndo por entre pedras e estátuas, ela se sentia perdida ali na tempestade, em seu próprio castelo. Aonde eram mesmo as passagens secretas? Será que Andrew estaria a esperando embaixo da ponte? Ela rezava para que desse certo, se bem que, estava desconfiada de que Deus não iria querer ajudar uma assassina, traidora, fugitiva...
Se lembrou de repente de que Andrew, iria enviar alguém para ajudá-la... Ela deveria tentar sozinha ou aguardar? Haviam combinado dela esperar em frente ao estábulo e para lá ela foi - ao longe, ela pôde avistar que acontecia um baile de máscaras no palácio... Oh Céus, por quanto tempo a mantiveram no quarto?
Anna estava ensopada, cheia de lama, com o coração partido, sentindo-se abandonada, com muita dificuldade, conseguiu chegar aonde a aguardavam... Ela era uma princesa tola, que confiou mesmo que tudo fosse dar certo, com um rápido jogo de mãos, aquela figura em meio à escuridão enfiou a princesa dentro de um saco preto. Ela se contorceu e esperneou, mas o homem, era muito forte e resistiu aos chutes.
Uma carroagem foi de encontro ao homem que depositou o saco lá dentro, o carro levou princesa sem nenhuma graça até a entrada do castelo, aonde outros guardas estavam à sua espera. Ela foi retirada de dentro do saco, parecia um cachorro despenteado e molhado, tremendo como uma assombração, os guardas, um de cada lado, a levaram pelos braços até o salão de festas, aonde todo o reino estava presente.
A princesa não podia acreditar que seu plano havia falhado, a cada passo que era obrigada a dar, seu estômago se embrulhava, a multidão aos risinhos, foi abrindo caminho, até que ela foi jogada bem no meio de uma roda de pessoas. No centro havia um trono e uma coroa de pregos, seus olhos então pousaram sobre os olhos amargos do príncipe, seu marido. Ele portava sua melhor roupa e na mão direita, empunhava uma longa espada cravejada de diamantes.
"Esposa... Eu tenho apenas uma pergunta..." - ele disse calmamente, abrindo os braços para acolher melhor as risadas dos súditos - "Quem é seu amante?" - ele cuspiu.
"Eu não tenho amante". - ela disse com o nariz erguido.
"Mais uma vez, quem é seu amante???" - o príncipe bateu a espada no trono de madeira, que quase se partiu pela metade - "Aonde ele está?" - os rugidos do rei atravessaram o salão.
Anna, com a cabeça baixa e o coração nas mãos, apenas começou a chorar.
"Pois bem, eu vou te dizer aonde ele está, esposa". - o rei bateu palmas e duas crianças trajando mantos brancos, entraram marchando, com bacias de ouro em mãos.
A multidão se espantou ao ver que, o que havia dentro das bacias eram duas cabeças masculinas, pasmadas, com os olhos esbugalhados e boca entre aberta por onde o sangue ainda parecia jorrar. As bacias foram depositadas aos pés da princesa... E lá estava... Um deles era seu amante, o amor de sua vida, agora estava ali... Morto, ela não podia crer. E o outro, era um padre que seu amor havia enviado para ajudá-la, sem sucesso, ao que se vê.
"Agora me diga, princesa, qual deles é seu amante?" - o príncipe encostou a ponta da espada no queixo da esposa, suavemente a fazendo olhar para cima.
Ela balançou a cabeça em negação, enquanto lágrimas amargas brotavam de seus olhos.
"Eu juro que sou fiel à vossa alteza! Jamais vi estes homens, eu saí para caminhar apenas isso... Eu não estava fugindo, piedade, meu senhor!" - ela implorou.
"Se considera uma boa princesa e futura rainha deste reino? Pensa que pode vestir a coroa?" - ele indagou, mas ela não percebeu de qual coroa ele estava falando.
"Sim! Por favor, me dê mais uma chance, eu vou provar a vocês que posso vestir a coroa e governar este reino, junto com o senhor, alteza, sei que posso!" - lágrimas de verdade brilharam em seus olhos.
Todos na festa começaram a gargalhar e então, a aura do lugar tornou-se negra e pesada.
"Ela quer usar a coroa! Que seja feita a vossa vontade, princesa!" - o príncipe, com suas próprias mãos vestiu a coroa de pregos na cabeça da princesa, então a música começou a tocar novamente e todos os convidados se puseram à rir, dançar e beber.
O corpo da pobre Anna, que apenas queria ser amada, continuou no chão, jorrando sangue, enquanto ela aos poucos, deixava de existir.