Enquanto os corvos devoravam aquela velha maldita, Shi no hana saiu e dando alguns passos para trás olhou para a casa onde passara boa parte de seus anos.
Sem tristeza ou pesar, pegou uma flecha embebida em piche e a acendeu em uma das lanternas da varanda. Em seguida atirou-a numa das paredes e por ser de bambu e papel fez o fogo se alastrar rapidamente. Com a fumaça os corvos saíram voando de dentro da casa.
Altas chamas iluminaram a escuridão daquela noite sombria...
Shi no hana apreciou as chamas e foi se afastando.
Na entrada do jardim da casa, o Samurai a aguardava com os negros cavalos. Num último olhar, ela lançou contra o chão uma lança com um bilhete:
従業員や謙虚な人々に親切と慈悲を示すように注意してください!
または、私が今日始めた仕事を終えて、地球の顔からのろわれたものの顔を拭き取ります!
Jūgyōin ya kenkyona hitobito ni shinsetsu to jihi o shimesu yō ni chūi shite kudasai! Matawa, watashi ga kyō hajimeta shigoto o oete, chikyū no kao kara norowa reta mono no kao o fukitorimasu!
(Cuidem para ter bondade e misericórdia para com vossos empregados e com as pessoas humildes!
Ou virei e acabarei o trabalho que hoje comecei, eliminando da face da Terra toda a descendência dessa maldita!)
Subindo no cavalo, Shi no hana deu um brado e cavalgou lado a lado com o Samurai nas trevas da noite, somente a luz da lua os iluminava.
Quem os visse teria a impressão de que os próprios cavaleiros do inferno tinham saído a cavalgar naquela noite, pois atrás deles vinham centenas de corvos grasnando, era uma apavorante visão!
Ao chegar próximo a fortaleza dos Takas, Shi no hana parou e com um assobio fez sinal aos corvos que se dispersaram.
Com agilidade ela e o Samurai entraram sem ser vistos e eliminaram sorrateiramente as sentinelas.
Perceberam que havia algum tipo de ritual acontecendo no templo da fortaleza.
Parecia que os deuses estavam a seu favor, pois com todos dentro do templo a investida seria muito mais fácil...
O que ocorria é que a esposa principal do chefe dos Kanas tivera um sonho premunitório. Ela avisou ao esposo que no dia quatro haveria de acontecer uma terrível desgraça!
Ele zombou dela, quem ousaria fazer algo contra eles?! Eram a gangue mais forte de toda a região!
Com medo, a mulher ficou dias insistindo para que se mudassem ou que o esposo chamasse o sacerdote e este rezasse por clemência dos deuses pelos crimes que cometera.
Ele tornou a zombar dela e ela e as outras esposas, tomadas de medo, tanto choraram e tanto o importunaram que ele por fim cedeu e chamou o sacerdote.
Entretanto ele não acreditava nessas coisas e com seus capangas foi às gueixas na vila, chegando no início da madrugada, já bem tarde e bêbado.
Ainda assim as mulheres insistiram e lá estavam eles reunidos no templo.
Shi no hana e o Samurai se achegaram sem ser notados, aquela cerimônia com os homens naquele estado era mais ofensa do que culto!
Isso facilitava o trabalho dela, com um assobio chamou os corvos que foram pousando em todas as janelas do templo.
Ao ver aquilo o sacerdote compreendeu que o mal já estava determinado pelos deuses e começou a rogar por sua própria alma...
Com outro assobio os corvos invadiram o templo e começaram a atacar os presentes.
Shi no hana com suas lanças derrubou as grandes luminárias do altar que fizeram um verdadeiro rio de fogo.
Todos gritavam com tudo aquilo, era horrendo.
Ela e o Samurai foram eliminando um a um todos os que tentaram fugir. O chão ficou coberto de fogo e sangue.
O líder dos Kanas veio contra Shi no hana com sua espada, mas ela, facilmente se desvencilhou do homem embriagado, o derrubou cravando-o no chão com sua lança.
Com uma faca retalhou seu rosto e ventre e os corvos o comeram.
Só sobrou o sacerdote, escondido, apavorado, entre as cortinas do altar.
Eles foram até ele e lhe garantiram vida e paz.
Shi no hana disse-lhe:
必要な復讐だけ!
Hitsuyōna fukushū dake!
(Somente a vingança necessária!)
E pegando-o pelos ombros o levantou e beijou-lhe a mão.
O sacerdote abençoou os dois e lhes disse:
今日、神々はこれらの邪悪な人々が殺したすべての犠牲者を復讐しました。
安心して行け!
Kyō, kamigami wa korera no jaakuna hitobito ga koroshita subete no gisei-sha o fukushū shimashita. Anshin shite ike!
(Hoje os deuses vingaram todas as vítimas que esses perversos mataram.
Ide em paz!)
Shi no hana e o Samurai saíram dali, desceram a fortaleza e subiram em seus cavalos.
Os poucos corvos que restaram vieram a Shi no hana e ela lhes disse:
私は助けの友人に感謝します。
今、あなたは自由であり、自由であり、これからあなたは私の魂になります。行く!
Watashi wa tasuke no yūjin ni kansha shimasu. Ima, anata
wa jiyūdeari, jiyūdeari, korekara anata wa watashi no tamashī ni narimasu. Iku!
(Agradeço a ajuda amigos.
Agora vocês estão livres, como livre, de hoje em diante será minha alma. Ide!)
E os corvos se dispersaram em todas as direções e nunca mais Shi no hana os viu.
Ela e o Samurai cavalgaram pela noite adentro, chegando sãos e salvos em casa.
Na outra manhã iniciaram uma jornada de purificação até o templo mais honrado de Buda. Fizeram suas preces por todas aquelas almas. Que os deuses lhes dessem o merecido em outras vidas!
Findadas as suas purificações sentiram grande paz.
Ao chegarem novamente a casa do Samurai estavam leves, prontos para recomeçar.
O Samurai chamou o tabelião e adotou aquela jovem como filha e herdeira de todos os seus bens e lhe deu um novo nome:
私の平和
Watashi no heiwa
(Minha paz)
Foi feita uma grande celebração e todos na vila foram chamados, vindo também um belo e honrado rapaz que se encantou, por Watashi no heiwa e passado um mês pediu a sua mão em casamento.
O Samurai viu ali realizado o sonho de casar sua filha, seu coração não podia ser mais feliz!
Pouco mais de um ano se passou e o Samurai recebeu um lindo netinho.
Durante três primaveras o Samurai gozou de paz, alegria e serenidade.
Ria, brincava e cantava as mesmas canções que cantara para sua menina na infância. Era extremamente querido e respeitado por sua nova filha ebó esposo.
Quando chegou o inverno, Watashi no heiwa e sua linda família se despediam do bondoso Samurai que acordou no outro mundo em paz.