As noites eram tenebrosas. Sempre ouvia batidas estranhas, como se estivessem espancando algum vidro inquebrável. O problema era que não existia nada de vidro por perto. Naquela noite em específico, junto as batidas, uma voz feminina gritava por socorro.
Precisava ajudar, mesmo sem saber por onde procurar. Já havia vasculhado todo o ambiente quando, por um mero descuido, vislumbrou o brilho da lua cheia chocar-se com um espelho de parede. Só poderia ser ali! Correu. Desesperou-se. Gritou. E antes de chegar ao objetivo, foi capturado e levado de volta.
- Quantas vezes vou precisar dizer que a sua filha não está presa no espelho, senhor Ramires? – Dizia o homem de jaleco branco. – Acho melhor sedarem de uma vez. O homem tranca a filha no box do banheiro e joga ácido nela para “purificar os demônios” e depois vem querer bancar o salvador da pátria. Acho que preciso mudar de profissão... Ninguém merece.
O senhor Ramires entrou em sono profundo, enquanto o espelho de parede, trincado e ensanguentado, jazia no chão. O único problema era que ninguém havia se cortado durante o ocorrido, mas o fato passou despercebido.