Eu estou presa neste mundo. E todos vocês também estão aqui... Pensar nisso faz minha alma se desesperar, pois cada um de vocês ainda estão aqui, mas estão tão longe de mim. Perdi a todos vocês, minhas amigas, meus amigos, meus amores.
Estou presa nesta cidade. Quando ando pelas ruas, passo em lugares nos quais já nos divertimos juntos e meu coração pesa, ele quer sair daqui de dentro e morrer em cada esquina onde há lembranças tristes ou felizes de nós.
Estou presa dentro de minha própria casa. Para onde quer que eu olhe, lá estão as lembranças, de tardes felizes, de noites alegres, de pizzas que comemos, de filmes que vimos, de risadas que demos... Para onde quer que eu olhe, lá estão os presentes antigos, de aniversários, natais, datas aleatórias, todas as coisinhas, pequenas e grandes, compradas ou feitas em casa, tudo está aqui, espalhado pelos cômodos.
Estou presa dentro de mim, não importa para onde eu vá. Se eu fugir desta casa, se eu for embora desta cidade, não importa, pois em meu âmago eu continuarei a escutar as vozes de vocês, de todos que algum dia me amaram ou não, mas que estiveram em minha vida por tempo suficiente para que eu os amasse sem volta.
Já pensei muito em tentar sair desse mundo... com a morte. Mas tenho medo, nenhuma das opções seriam boas para mim.
Não sei o que fazer, não sei o que sentir. “Seremos melhores amigas para sempre”, mas a verdade é que vocês sempre acabam indo embora. “Viveremos grandes aventuras juntos, somos amigos para isso”, mas vocês sempre vão sem mim. “Um dia nos casaremos e teremos uma família”, mas vocês sempre me abandonam.
Eu realmente não sei o que fazer. O que me resta é continuar vagando e lembrando, em vida ou em morte, de cada um de vocês, amigas, amigos, amores, que me prometeram tudo, mas me deixaram sem nada... porque eu... eu sou um nada.
E o pior de tudo, é sempre quando a noite vem. Parece que todas as vozes e risadas de minha mente se materializam e me perseguem. E eu sei de onde elas vêm... de dentro dos espelhos, para me esgotar de desespero até o fim.
Nesses momentos, quando olho meu reflexo, não me vejo, vejo apenas uma criatura estranha, esquelética, me olhando, como se me convidando a entrar lá dentro, para junto de todas as outras caveiras dos fantasmas do meu passado, que gritam, riem, fazem barulhos para me assustar e me olham, lá do fundo do espelho, sempre me atormentando e jogando em minha cara a verdade:
Minhas amigas, amigos e amores estão, ao mesmo tempo, vivendo suas vidas longe de mim, mas também estão aqui, dentro do meu ser e do meu espelho, só que em estados completamente inalcançáveis, porque o meu destino é esse, sempre perder todos... pois todos vão para o mais longe possível, onde eu nunca os conseguiria alcançar.