Uma respiração mais profunda despertou a moça que dormia serenamente em sua cama. Ela olha para o relógio e são três da manhã. Após um longo bocejo e uma leve espreguiçada ela sente necessidade de ir ao banheiro. Calça suas pantufas desajeitadamente, ainda com os olhos pesados e remelentos, olha para seu companheiro dormindo pesadamente do outro lado da cama e suspira como que apaixonada enquanto o admira. Ela então deixa o quarto logo em seguida em direção ao banheiro, andando lentamente ainda sob efeito do sono ela tateia a parede do banheiro em busca do interruptor e prepara os olhos para o baque da luz, mas ao pressionar o botão a luz não acende.
"Que coisa, faltar energia logo agora...", ela pensa levemente aborrecida, pois são vários dias que seu sistema de energia vem falhando esporadicamente.
Ela ignora a situação e ainda tateando no escuro senta-se no sanitário, deixando sua necessidade se esvair ainda de olhos fechados, bem preguiçosa, sem pensar em nada. Completamente distraída ela não observa uma estranha batida, bem baixa, quase inaudível, que vem vindo de algum lugar. Após apertar a descarga ela vai até a pia lavar as mãos e então mais perto ela ouve o som intrigante. A princípio ela olha para a porta do banheiro, será seu companheiro? Não, o som não vem da porta. Ela aguça a audição enquanto seca as mãos e confusa nota que as batidas estão vindo do espelho.
"Será um rato?", ela se lembra de uma pequena lanterna guardada na terceira gaveta do armarinho, tateia a gaveta em busca do pequeno artefato e ao encontrar abre a portinha-espelho do armário de escovas de dentes em busca do provável roedor. Ela não encontra nada, embora o som de batida se mantenha. Ela pode jurar que o som vem daquele lugar.
"Isso não faz sentido!". Ela ilumina ao redor do armário e nada encontra. Aborrecida que não encontra a origem do som perturbador. Ela olha ao redor de si, nos outros cantos do banheiro e nada vê. De fato o som vem do espelho, mas nada há nele, o que pode estar fazendo esse som? Ela decide averiguar na manhã seguinte.
"Não deve ser nada importante, mesmo", ela pensa e apaga a pequena lanterna. Justamente quando ela apaga o dispositivo ela toma um susto com o que vê no espelho. Ela sente seu coração pular uma batida, seus olhos não acreditam no que estão vendo. Subitamente um calafrio lhe percorre a espinha e seus cabelos se eriçam de medo. Ela aperta os olhos ainda incrédula e sente sua perna falhar em lhe manter em pé.
"São… são caveiras… no espelho?", ela olha mais de perto para a cena completamente bizarra. Aproximadamente dez caveiras vermelhas estão amontoadas numa mesa, uma delas, com chifres enormes e pontudos, bate na mesa causando o som de batidas que ela havia previamente ouvido.
"Não pode ser… devo estar louca!". Ao sequer terminar a frase em sua cabeça as caveiras param de se mover, ficam como estátuas, ou como uma foto. A mulher amedrontada e incrédula inspira forte como que desejando raciocinar melhor, quando de repente as caveiras lentamente viram a cabeça em direção a ela e a encaram.
A mulher cai no chão de susto e grita escandalosamente pelo seu parceiro. Ela grita com força, usando de todo o ar que ela consegue puxar. Ela ouve passos pesados e nervosos do seu companheiro que se levantou abruptamente. Alguns segundos se passam e ela ainda no chão gritando de medo ouve o homem bater na porta e a forçar para abrir, mas surpreendentemente a porta está trancada.
"Eu não tranquei a porta! Eu não tranquei!", a mulher grita em retorno ao seu esposo que ainda força a abertura. A mulher completamente perturbada se recusa a chegar perto do espelho, ela teme pela cena grotesca que acabara de testemunhar, mas num súbito de desespero ela de joelhos levanta o braço e abre o trinco da porta. A porta se abre logo em seguida e ela cai no chão novamente em desespero.
"Eu juro que eu vi, não olhe no espelho, Luci, não olhe! Tem coisas lá! Tem coisas no espelho e elas olharam pra mim, me tira daqui Luci, por favor". A mulher dispara frases de desespero e agonia ao seu companheiro, falando tão rápido que as palavras se atropelam na sua boca. Ela arrisca abrir os olhos em busca do seu amor, ele agora pouco estava falando com ela atrás da porta. Mas então o que ela vê faz seu sangue gelar. As criaturas ossudas que ela havia visto no espelho estavam na frente da pobre mulher. Encarando-a, completamente paradas.