Nas mãos, linha e agulha. No chão, uma bagunça de retalhos; coloridos, desgastados, vibrantes, sujos, cortados, desfiados, molhados, manchados; verdes, amarelos, laranjas, pretos, rosas, brancos; amores, dores, alegrias, lágrimas, sensações, esperanças, sonhos, passados, presentes e futuros. Com alguma paciência, embarquei na jornada; um a um, fui pegando os retalhos do chão. O trabalho nem ficou tão exaustivo; parecia que a agulha até sabia o caminho que tinha que fazer. Costurei cada pedaço de mim, um ao lado do outro. Não me importei com a ordem, nem com a aparência horrenda de alguns cantos. Todos eles contavam alguma coisa, algo que fez de mim o que eu sou hoje, passagens da minha vida que não podiam ser desperdiçadas. No final, eu tinha um enorme tecido com texturas e aparências diferentes. Não sei se ficou mais parecido com um cobertor ou com um pano de chão. Acho que um pouco dos dois. Enrolei em volta de mim e me sentei, admirando o meu trabalho. Quando você abriu a porta, viu que eu já tinha terminado de consertar a minha vida. É... Eu sempre fui o tipo de retalho que se costura sozinho.