O bar era pouco movimentado pelo horário. Passado das meia-noite, só sobravam bêbados sem futuros e pessoas com corações partidos. Dae os achava idiotas, mas sempre ia para casa às 2h, sentindo a tranquilidade que só a madrugada lhe trazia. Ao seu lado, Dean bebia uísque, completamente vivaz e empolgado. Ela sequer sorria.
Parecia cada vez mais cansada, limitada e sem paixão. Tudo o que tinha perdia e o que não conquistava se culpava por isso. Era mesmo uma fracassada.
— Você viu o novo RPG? — a pergunta lhe tira dos devaneios. — É muito interessante.
A solidão assola seu coração, mas ela só ri em resposta. Sua mente lhe prega peças: seu olhar distorcido não consegue distinguir a realidade – e ela chora. Era culpada. Tinha feito de novo. Repetiu o mesmo erro, o que jurou nunca mais fazer, o que se culpou até que lhe consumisse.
Era tão estúpida. Idiota. Queria poder gritar contra si mesma, se menosprezava no ponto em que não suportava ficar sozinha com seus pensamentos – que lhe lembravam do que aconteceu. Um erro tão pequeno lhe tirava toda paz.
“Culpada. Você é culpada. Por sua causa eles sofrem, por sua causa, eles morrem.”
A voz grita, carregada numa verdade pura. O ódio que sempre sentiu por si mesma volta com força. O mesmo erro que a consumiu outrora, agora lhe possui novamente. Estava corrompida pelos seus próprios pensamentos. Seus erros lhe mancham e a morte, tão próxima, lhe desprezava.
Dean ignora o choro desesperado da amiga bêbada. Dae o vê sumir de sua vista – partindo, como quem nunca quisera ficar –, afinal, ela sempre estava só. Era sua culpa perdê-lo também. E a ela. E a ele.