Arcanjo
Silva
Tipo: Conto ou Crônica
Postado: 01/10/20 15:35
Editado: 01/10/20 15:36
Avaliação: Não avaliado
Tempo de Leitura: 6min a 8min
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Palavras: 1018
Não recomendado para menores de catorze anos
Notas de Cabeçalho

Oriundo do meu desejo por uma versão um pouco mais detalhada de um dos eventos de um livro.

Capítulo Único Arcanjo

"Os babilônios foram agricultores, afeitos à literatura e perseguidores da paz. Os assírios, pelo contrário, foram apropriadamente nomeados de romanos do Leste: foram um povo militar, que se importava com muito pouco além da guerra e do comércio."

Archibald Sayce

702 A.C

Estabelecida entre os rios Tigre e Eufrates, a Assíria conquistava tudo em seu caminho. O conhecimento da guerra era a força do império, a base de uma nação de guerreiros. A geografia não os favorecia, então tiveram que adotar um sistema militarista para se protegerem de invasores. Outrora formado por agricultores e camponeses, os assírios criaram um exército em tempo integral: Homens cuja única função era a arte de matar. Uma máquina bélica com carros de combate, infantaria, cavalos e armas de arremesso. Não haveria misericórdia para seus adversários e a tomada de territórios pelo fio da espada era o que mantinha o status quo. Resistir e ser devastado, ou aceitar a inevitável derrota com uma rendição. Ao lidar com os assírios, não haviam concessões.

O crepitar das chamas o mantinha acordado, embora seus olhos estivessem pesados e hesitantes. Ele rogava a Assur que seu turno findasse logo. O cansaço era tanto que podia jurar que a lança apoiada sobre seus ombros parecia mais pesada naquela noite. Dawud já estivera em batalhas cruéis, humilhantes saques aos povos derrotados, havia sangrado pela glória do império como era o dever de todo guerreiro. Embora retornar para casa era o que mais desejava nesse momento. No entanto, o jovem sabia que era impossível. A vida de um soldado assírio era permanente até sua morte. Sua esposa era a espada e sua amante a guerra. A morte cortejava todos os homens, porém era ainda mais sedutora com aqueles que desafiavam a Assíria. Ainda que morresse em batalha, não escreveriam histórias ou canções sobre seu nome. Morrer com uma espada na mão era a glória de um soldado, embora não fosse nada glorioso o que vira em todo esse tempo. A morte exala o odor fétido do desespero nas fezes de um homem a ser empalado, nos estômagos abertos com as vísceras de fora e nas cabeças exibidas como troféus. A realidade do campo de batalha era o carmesim do sangue daqueles que caíram. Os fracos eram esmagados pelos fortes e quem hoje estava de pé, certamente um dia viria ao chão.

No dia seguinte os homens iriam marchar para tomar Jerusalém. Depois de terem devastado todas as fortalezas de Judá, rumo a outro massacre e depois mais outros, esmagando novos povos pelo caminho e ganhando mais territórios em nome do rei Senaqueribe. A orgulhosa cidade de Davi cairia pelas mãos dos assírios e o rei Ezequias seria esfolado até que desejasse uma morte rápida. Israel seria mais uma dentre as conquistas do império. Dawud ouviu histórias sobre o deus daquele povo. Sobre o Mar Vermelho, as muralhas de Jericó, e até sobre um homem que matara mil usando uma queixada de um jumento. Grandes histórias, mas onde estava esse ser todo poderoso quando o exército humilhou Israel? O próprio Senaqueribe fez questão de escrever um documento desafiando o tal deus e o enviou a Ezequias.

Enquanto observava o fogo, um estrondo mais forte que o trovão assustou até o mais valente dos soldados. Rápido como o relâmpago, um homem desceu até o acampamento e no mesmo instante, as chamas da fogueira cessaram. Sua presença emanava força e poder. Ele tinha um longo par asas em suas costas, vestia um elmo e uma armadura tão resplandecente quanto o ouro e em sua mão direita pulsava intensamente uma espada flamejante. Seus olhos eram como o fogo e pareciam arder em fúria. Dawud ouviu seus superiores gritarem para os homens entrarem em formação. Parte da infantaria ainda se organizava quando o homem dos céus voou no meio deles erguendo a espada com as duas mãos. Uma energia luminosa resplandeceu e um único golpe matou cem homens de uma vez. Foi tão rápido que Dawud só os viu caírem mortos no chão.

O jovem assírio jamais havia visto nada parecido antes, era uma força assustadora. Seu corpo estremeceu mesmo com a distância, diante daquele ser cujo poder era de um deus. Mais homens investiram contra ele, no entanto, lanças e escudos, cavalos e cavaleiros... foram inúteis perante a espada em sua mão. Armaduras eram despedaçadas e o bronze das lâminas era como palha numa fogueira. Os socos daquele homem fendiam a terra e derrubavam centenas. Um batalhão inteiro de cavalaria foi ao chão quando ele golpeou o solo com um soco. O poder do golpe era avassalador e espada em chamas resplandecia ainda mais forte enquanto Dawud observava distante, vendo seus companheiros, soldados versados na guerra serem mortos facilmente por um único homem. Embora ele achasse impossível o homem do céu ser humano, mortal nenhum teria tal poder.

Até findar aquela noite, o acampamento tornou-se um campo de mortos. Milhares de corpos jaziam no chão, todos ali foram mortos sem misericórdia. Até que apenas Dawud ficou de frente para ele. No céu com espada em mãos, o celestial olhava-o com indiferença. Pensou em correr, mas sabia que seria inútil. Tremendo desde os joelhos e ofegante, ergueu a lança na direção dele. Certamente morreria, e com a pouca coragem que lhe restava perguntou: — Você... Você é o Deus de Israel? — A figura celestial falou pela primeira vez. Uma voz tão imponente quanto aquele pelo qual vieram as palavras: — Meu nome é Miguel. Sou um arcanjo e sirvo o Altíssimo. Vá e conte ao seu rei o que viu aqui... Diga a ele que o Senhor dos Exércitos vive. – E tão rápido como chegou, ele se foi subindo aos céus mais veloz que uma águia, até que desapareceu por entre as nuvens. Dawud ficou atemorizado, se um único soldado daquele Deus tinha tal poder, então as histórias deviam ser mesmo verdadeiras. As palavras do arcanjo ainda ressoavam em sua cabeça:

“O Senhor dos Exércitos vive.”

“E aconteceu que naquela mesma noite o anjo do Senhor saiu e feriu a cento e oitenta e cinco mil assírios e levantando-se pela manhã todos eram corpos mortos." (2Reis 19.35)

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Postado 01/10/20 20:26

Sr. Rei do Norte! Que ótimo texto temos aqui!!

Logo de cara já comecei gostando pois se trata de uma obra histórica, e eu adoro essas coisas antigas, principalmente se envolver guerra e sangue sendo derramado!

Estou muito encantada com as suas descrições das cenas de guerra, achei tudo muito lírico, com belas metáforas como o fedor da morte ser como o fedor das vezes de quem está para ser empalado!

Fiquei impressionada com as cenas do homem alado chegando e destruindo tudo com sua força e poder! Isso realmente demais!! Todos mortos sem misericórdia...

Admito que o final me surpreendeu! E eu gostei muitíssimo!!

Parabéns por mais um excelente texto!!

Esse livro que você citou nas notas iniciais, é um livro de literatura ou é a própria Bíblia?

Um abraço <3

Postado 01/10/20 20:41

Olá! Fico feliz que tenha apreciado a história. :')

Sim é a Bíblia. Sempre quis uma versão extendida dessa passagem. Muito obrigado mesmo por vir.

Postado 16/10/20 00:54

Caramba, a genialidade dessa obra é transcendental. Adorei a maneira como você desenvolveu a temática abordada.

Obrigada por compartilhar conosco!

Meus parabéns ♥

Postado 22/10/20 10:10

Nem sei o que dizer... Bom... Muito obrigado? <3

Fico feliz que tenha apreciado a história. E bom, já já chego nas suas obras.

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