Corria pela noite escura, as ruelas de Londres com seu fedor de mofo, lixo e urina, hoje, especialmente pareciam mais fétidas.
Corria entre as sombras, com a faca ensanguentada junto ao peito.
O que sua santa mãezinha diria se soubesse o que tinha feito?!
Provavelmente lhe infringiria os piores castigos... Talvez o prendesse nu, no quartinho da latrina fétida sem pão e sem água por dois dias, como fizera certa vez ou quem sabe no porão escuro com as aranhas e morcegos, que ainda agora lhe causavam calafrios e náuseas... Não, seus atos não seriam punidos com essas banalidades a que fora submetido aos quatro anos! Algo como ser colocado amarrado nu no galinheiro, trancado por três dias também era pouco... porquê lembrava-se dessas pequenas coisinhas da primeira infância?! Em matéria de punição a criatividade de seus genitores parecia-lhe insana...
No entanto eram considerados cidadãos honrados, sua família de nobreza por gerações, era isso mesmo?! Como dizia-se "vinha de fina estirpe"...
Mas agora a única fineza que lhe importava era a de sua faca e do fio da lâmina...
Aquela sensação era nova, e ao mesmo tempo que lhe causava asco, excitava-o.
Aquela infeliz conseguira fugir, mas não seu macho, ele estava bêbado demais para levantar-se.
As sombras lhe deram a cobertura perfeita, havia algum tempo que ele estava a observar aqueles imundos...
Sem se preocupar em encontrar sequer um quarto, fizeram suas carnalidades naquele beco imundo e ali mesmo ele, purificaria o mundo de tais criaturas abomináveis...
Mendigos, prostitutas, bêbados e mulheres de vida reprovável eram uma ofensa a sua nobre classe e a tudo que fora ensinado por seus pais. Iria livrar o mundo desses vermes, só não sabia muito bem como...
Ainda podia ouvir o barulho da lâmina ao cortar a garganta daquele vagabundo, o som do sangue jorrando, o cheiro, o calor que sentiu em suas mãos, todas aquelas sensações...
Só o desagradou o corpo masculino, horrível tocar em um homem, ainda mais num bêbado imundo!
Não, não iria mais cuidar de homens, eles lhe eram repugnantes...
Já que Eva trouxe o mal ao mundo, iria acabar com essas Evas que ofendiam a pureza de sua santa mãezinha, sim, estava decidido!
Agora precisava correr, com certeza aquela vadia avisaria alguém e ele poderia ser pego se continuasse ali.
Precisava se aprimorar, naquele bêbado fora com fúria e desalinho, algo indigno de um cavalheiro como ele.
Aquela sensação, aquele cheiro, aquele calor, escorrendo em suas mãos, respingando em sua face... Queria mais... E iria ter mais... Muito mais... As Evas que o aguardassem...
Quando os pais retornassem de viagem, informaria que já resolvera-se pela medicina; de dia salvaria vidas da morte e a noite salvaria o mundo desses vermes que o desonravam.
Naquele momento, aquele jovem mal sabia, nascera Jack, o estripador...