Os olhos amendoados dele me observavam tirar a roupa, para logo em seguida, cavalgar em cima daquele membro espesso. De repente, todo seu corpo estava enroscado ao meu, nosso suor se tornou um só, nossos lábios degustaram o mais doce dos doces amargos. Durou apenas vinte minutos, talvez nem isso... Mas foi a melhor coisa que já me ocorreu em toda minha miserável vida.
Segui aqueles olhos que me levaram rapidamente para fora do apartamento, a despedida foi um doce abraço, ele então, trancou a porta de frente para mim.
Segui meu dia, entrei no elevador e desci até o térreo, andei até em casa, sentindo aquela sensação gostosa que ele deixou entre minhas pernas, cada toque, cada beijo, cada incerteza, tudo tatuado em minha pele... O cheiro dele ainda estava em mim, me senti amado. Me senti belo.
Então, meu celular tocou.
"Cadê você???" - ela gritou.
"Oi amor... Estou indo para a casa". - eu engoli em seco.
"Está vindo é o caralho! Você estava com ele de novo, não é?!" - ela adivinhou.
Ela já sabia... Fazia um tempo. Bianca nunca mais conseguiu olhar em minha face, depois que soube, mas mesmo assim... Ela não me libertava. Estava sempre à espreita, me esperando, me acusando.
"Pelo menos vá buscar a Nicole no balé! Você é nojento!" - ela desligou na minha cara.
Lembro-me bem do que ela me disse quando descobriu - disse que não contaria para ninguém, mas eu teria de fazer tudo o que ela quisesse e permanecer com ela, afinal, ela não podia arriscar sua popularidade com as amigas, no trabalho ou na igreja e eu... Muito menos. Agora, vivo este casamento "santo"... Que me faz sentir no mais ardente inferno.
Jamais pensei que ela pudesse ser tão má. Eu nem sequer havia beijado algum homem quando ela descobriu...Nunca havia traído ela antes... Fico me perguntando, se ela já sabia a tanto tempo, por qual razão não me contou?
E nunca foi mentira eu ter dito a amava, claro que a amei... Mas se ela ao menos me desse chance de terminar tudo... Eu poderia amar quem eu quisesse amar, mulheres, homens...Ninguém... Talvez eu até conseguisse amar a mim mesmo...
Em meu bolso, o celular não para de vibrar... Será que é ele? - meu coração palpita - Será que é ela? - meu coração apodrece.
Mas agora, secretamente não me importo se a traio ou não, faço o que meu coração manda, e me corto por dentro, faço o que meu cérebro manda, e quero cortar minha cabeça fora...
No entanto, algumas ideias me surgem às vezes... E se, a cabeça a ser cortada for a dela...? Explodida? Enforcada? Afogada? Encontrada em uma mala no meio de um terreno baldio? Meus filhos não sentiriam falta dela, muito menos eu... E eles... Sentiriam a minha falta?
Pensar sobre isto, faz-me querer gargalhar. Avisto doutro lado da rua, uma loja de armas. Meus pés dizem - SIM! - Meu cérebro diz - Você está maluco?!
...
Por fim, sorri com doçura, levando naquela sacola, minha passagem só de ida para a liberdade. Até mesmo na cadeia, eu poderia ser mais livre, até mesmo em um hospício, eu poderia ser insano, morto, em um caixão, eu poderia subir até os céus... A loucura, nunca me pareceu tão nobre.