A pobre mulher havia sido condenada por bruxaria, mesmo que ela chorasse e gritasse com o máximo de forças que ainda lhe restava, contando a versão verdadeira dos fatos ocorridos. Mas ali naquele tribunal, nenhum homem iria acreditar em sua palavra.
Sua triste história começara duas semanas antes, quando um charmoso homem chegou ao povoado e logo conseguiu conquistar o coração de Lilian. Não foi preciso grande esforço, só de olhá-lo Lilian já se sentia atraída. O estranho é que quase todos diziam não saber como era o rosto do tal homem, coisa que a jovem não entendia, pois havia justamente se apaixonado pela bela face do rapaz misterioso.
O problema é que ela era uma jovenzinha inocente, e na primeira oportunidade, o homem a levou para os fundos de uma escura plantação de milho. A pobrezinha não teve nem tempo de tentar se defender no momento em que o homem a jogou com brutalidade no chão e a amarrou, deixando-a impossibilitada de movimentação.
Em uma questão de segundos, o que antes era belo naquele rosto, transformou-se em uma abominável face derretida, disforme, que gotejava fartas gotas de um líquido viscoso verde-escuro dos inúmeros buracos fétidos ali presentes. Um verdadeiro pesadelo que não tardou a transformar completamente o corpo todo naquele monstro.
Lilian gritou tanto a ponto de sua garganta irromper em sangue, tamanho o terror que sentiu durante a transformação do homem a sua frente. Ele pouco se importou, e muito pelo contrário, sentiu ondas gigantescas de prazer com a triste situação da jovem, e não tardou em agir, rasgando toda a roupa da pobre coitada e lhe infligindo a pior dor de todas ao lhe rasgar no meio com a violência sexual ali cometida.
Não se contentando, usava pregos para ir perfurando o corpo da mulher durante todo o ato hediondo ali ocorrido, quase como se crucificasse aquele corpo destruído no chão de terra. Foram muitos momentos de dor dilacerante, para que no fim o monstro ejaculasse aquela mesma gosma fétida verde dentro dela.
Na manhã seguinte a encontraram, naquele estado. E qual foi o primeiro pensamento daqueles homens hipócritas? Saíram gritando aos quatro ventos que ocorrera um ritual sexual satânico entre uma bruxa e o diabo.
Não tardou para que se juntasse ao redor da jovem uma multidão de "cidadãos de bem", munidos de pedras e porretes para surrar aquela coitada que já havia sofrido tanto.
Durante o linchamento, quase arrebentaram a barriga de Lilian, e isso provocou um aborto daquilo que havia sido concebido na noite anterior. O que ninguém contava era que o óvulo fecundado iria agir como uma semente, e naquele solo iria criar raízes e viver.
Logo após o massacre levaram a jovenzinha para o tribunal, onde foi acusada de bruxaria, recebendo a pena de queimar até a morte na fogueira.
O tempo foi passando, e semana após semana, a plantação de milho ia morrendo, tendo como epicentro o exato local onde o feto estava crescendo. Ninguém sabia o motivo real de tal coisa, mas associaram com a bruxaria que eles julgavam ter ocorrido ali.
Qual não foi o espanto quando cindo meses depois um tronco de árvore em formato humano irrompeu da terra, bem ali naquele local. A pobre criança amadeirada chorava e tinha um olhar extremamente triste. Esse serzinho não havia nascido para ser do mal, igual seu pai, mas do bem, igual sua mãe. E ele chorava lágrimas humanas em seu rosto esculpido na madeira.
Mas é claro que ninguém ali naquele povoado sentiu pena ou se compadeceu da miserável criatura. Novamente houve um tumulto de "cidadãos de bem", desta vez munidos de facas, com as quais perfuraram e estraçalharam o tronco-criança sem dó nem piedade.
O coitadinho emitia urros sofridos demonstrando que sentia dor a cada facada, mas ninguém ligou para isso. Foram destruindo completamente esse triste ser, até que no fim tacaram fogo e o incendiaram, levando o inocente filho do pecado a ser castigado tal qual sua inocente mãe, terminando sua lastimável existência nas assustadoras chamas de um impiedoso fogaréu.