Lágrimas na Chuva (Em Andamento)
Sabrina Ternura
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Tipo: Romance ou Novela
Postado: 08/09/20 23:40
Editado: 02/10/20 18:14
Qtd. de Capítulos: 2
Cap. Postado: 08/09/20 23:40
Cap. Editado: 08/09/20 23:50
Avaliação: 9.93
Tempo de Leitura: 2min a 3min
Apreciadores: 6
Comentários: 4
Total de Visualizações: 744
Usuários que Visualizaram: 10
Palavras: 425
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Lágrimas na Chuva
Notas de Cabeçalho

“When I come off cold

I'm not doing it on purpose

You caught me in a hole

That I dig for myself when I'm nervous

(Hard Sometimes - Ruel)

Capítulo 1 Miúda na Dor

a dor não bate, ela espanca. incansavelmente. o tempo inteiro. mesmo quando sorrio, ela está lá. mesmo quando não sinto, ela está aqui. e para onde ela iria? nem mesmo ela sabe a saída em meio a essa bagunça de lágrimas e tristeza.

o motivo da tristeza de hoje é tão pequeno que não me cabe. é vergonhoso dizer o motivo, mas ele parece doer mais do que um tiro. é um sufocamento de sofrimento que minha garganta dói, como se eu mesma estivesse a me enforcar na tentativa de calar a aflição que não pode ser dita em voz alta. e é calando a voz que eu calo as lágrimas, pois sou do tipo de pessoa que precisa verbalizar a dor para ela escorrer pelos olhos. no silêncio ela não existe.

o sereno faz barulho lá fora. corro na tentativa de tocar uma possível investida de chuva, como se as lágrimas guardadas nos meus olhos fossem, de alguma maneira, cair do céu. mas tudo o que sinto é uma garoa fina quase inexistente. ela é miúda como eu. se escondendo em enormes nuvens cinzas, pois é naquela escuridão que ela se sente acolhida e muito pequena. é lá que ela é verdadeira. assim como eu.

a dor diminui um pouco por conta da identificação, mas ainda é latente. tento memorizar todas as palavras ditas até agora. talvez dê um bom poema triste. mas a minha mente me engana e, agora, já não lembro do que pensei a um segundo atrás. as palavras poéticas se perderam na minha confusão interna, assim como a dor, e passarão a fazer parte da minha alma na tentativa de fechar os buracos que eu intencionalmente fiz. em mim.

só que aí eu abro a geladeira e vejo o feijão que trouxe da sua casa. de repente a dor se debate e se aquieta, ao mesmo tempo, dentro de mim. como se esse alimento cheio de lembranças fosse e cruz e a benção. de repente as lágrimas ficam grandes demais na minha miudeza e elas querem desesperadamente cair diante do feijão que sua mãe fez, das risadas que demos depois de comê-lo sentados no chão do seu quintal, das carícias trocadas dentro do seu quarto, do passeio simples que fizemos para olhar coisas que não poderíamos comprar enquanto vestíamos nossas melhores roupas e da brisa fria da geladeira que gelava a minha dor tão quente.

Eu quero ser grande como sou nessas memórias bonitas que criamos juntos. Por isso quero chorar. Porque eu sou muito real quando estou com você...

❖❖❖
Notas de Rodapé

Ciao, pessoal. Alguém chegou até aqui? ;)

Passando para explicar a ausência das letras maiúsculas. Eu queria passar ao leitor a ideia de miudeza conforme ele fosse prosseguindo com a leitura. As frases pequenas também foram feitas com esse intuito, mas, principalmente, para passar a sensação de breviedade, de muitas pausas, de muitas palavras que podem ser as últimas por conta da intensa dor.

Optei por dividir o texto em dois, porque ficou muito grande, rs. No fim deste capítulo, o último parágrafo possui letras maiúsculas e o próximo capítulo as terá em abundância, justamente para dar essa ideia de uma coisa pequenininha ficando grande. Talvez, no próximo capítulo, tenha uma frase só com letras minúsculas, justamente para mostrar o quanto somente o pensar na dor já diminui essa narradora novamente, mesmo que ela esteja grande. É como uma maré que, quando te pega, dificilmente te solta.

Não sei se me fiz entender ou se isso faz sentido, mas muito obrigada por quem leu até aqui

Apreciadores (6)
Comentários (4)
Comentário Favorito
Postado 12/10/20 04:47

A intensidade desse capítulo é gritante, a estrutura que você criou só reforça ainda mais esses sentimentos conflitantes. A dor é algo que não tem como controlar, ainda mais quando está aliada à tristeza. É um sentimento interno, difícil de calar, e que a cada vez mais cresce em silêncio na solidão do nosso âmago.

Eu me identifiquei muito com esse texto, e talvez seja por isso que estou mais emotiva. E realmente, quanto mais calamos essa angústia e aflição, mais elas se tornam fortes e sufocantes. É similar a uma bola de neve em queda: quanto mais você a deixa rolar, mais ela se torna grandiosa e destrutiva, levando consigo todo a a vivacidade presente ao redor.

O que nos torna mais calmos é estar ao redor de quem amamos. Porque esse sentimento se cala, mesmo sendo momentâneo. Há uma voz dizendo que tudo vai ficar bem; momentos que nos fazem esquecer da nosso própria sofrência e amargor, na tentativa de nos tornar grandes perante esse universo que nos deixa tão miúdos.

Parabéns, Tristeza ♡

Postado 16/10/20 01:43

Essa obra é super importante para mim, então ler um comentário dessa magnitude me deixa ainda mais emocionada e apegada a tudo aqui escrito!

Obrigada pela presença e comentário, Pam ♥

Postado 09/09/20 15:17

A tristeza é realmente um dos sentimentos que faz mais artes bonitas, principalmente na escrita!

Senhorita Tristeza, eu adorei o modo como você usou as letras minúsculas para representar a miudeza! Foi uma jogada de mestre!

A sua descrição da miudeza e dos dias de tristeza foram simplesmente perfeitas!!

Mas eu adorei o final também, quando a tristeza deixa de ser miúda para que seja grande o suficiente para escorrer pelos olhos! Essa imagem foi linda!

Eu amei esse capítulo com todas as forças! <3

Um grande abraço! <3

Postado 10/09/20 00:00

Fico muito encantada em saber que a obra te agradou e que você conseguiu captar esses aspectos!

Obrigada pelo comentário e presença, Mei

Postado 23/09/20 16:09

Quando vi as letras minúsculas, eu sabia que existia alguma explicação genial e, olha só, foi a cereja do bolo.

O texto produzido pela Tristeza é maravilhoso e eu queria deixar registrado aqui, que mesmo depois de terminar a leitura uma frase ficou na minha cabeça:

"a dor não bate, ela espanca. incansavelmente. o tempo inteiro. "

(Inclusive, já roubei para anotar no meu caderninho)

Parabéns, Brinis!

Postado 24/09/20 02:22

Me alegra demais saber que você gostou da estruturação utilizada e que o texto te marcou!

Obrigada pelo comentário e presença, Flavinha

Postado 06/11/21 20:57

Essa sua obra tem uma potência tão grande... Toda vez que leio, fico reflexivo e impactado.

Você é extraordinária, meu amor. Nunca se esqueça disso! :)

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