Existe algo de mágico em como os animais se movem por instinto, quando estão aprisionados em um lugar que não os agrada. Perdidos em meio do labirinto de suas incertezas, eles vagam pelo território inimigo como soldados cegos. Por isso há tiros em todas direções, trombadas indesejadas e feridas feias que não se sabe como foram feitas.
Todos esses devaneios são feitos em meu porão, enquanto observo minha sádica invenção. Se o governo perguntar o motivo, direi:
— Voltado exclusivamente para fins de pesquisa.
Agora, se minha alma perguntar a razão, como poderei responder algo diferente de:
— Voltado exclusivamente para fins de vingança.
Não me atrevo a mentir para mim mesma. Não depois de todos esses meses torturantes, onde eu era estranha dentro de meu corpo. Como se a todo instante ele espreitasse pelos arredores, pronto me atacar novamente. Menti para as autoridades que nunca acreditaram em mim desde o início, quando realizei a denúncia. Menti para minha família que não me direcionou nada além de desdém. Mas eu não poderia mentir para mim mesma, pois o medo que constantemente senti era a verdade que eternamente vagaria pelos pedaços de minha alma quebrada e isso jamais pode ser encoberto por mentiras.
Mas você sempre foi uma mentira, não é? Era um homem bonito, bem vestido, bom de lábia… Era um grande publicitário infantil e atraía menininhas de saia para a sua sala, mas elas não eram menininhas quando saíam de lá. Quando descobri isso, você quis me calar. Eu não era uma menininha quando entrei na sua sala, mas quando sai, me arrastando por não aguentar a dor, eu tremia de medo e repulsa como uma.
Você me estuprou, pois descobri a verdade dentro das suas mentiras, mas você não contava com as consequências. Por isso, aqui está você! Sendo estuprado pelo próprio pau em um orifício que só deveria descartar e nunca receber. Sendo invadido por dois ratos: um em seu estômago, o outro em seus pulmões. Sendo partido pelas marteladas que desfiro em seus braços e pernas.
Você ainda está vivo, mas quanto tempo você vai aguentar? Os ratos gritam dentro de você, desesperados. Se eu fosse eles, também estaria. Deve ser horrível estar dentro de alguém podre. Por isso, quando um deles perfurar seu corpo, jogarei confetes coloridos, exatamente como você fazia quando aquelas não-mais-menininhas saíam de sua sala eternamente traumatizadas. As autoridades ficaram cegas quando houveram denúncias, mas, hoje, prometo ser a justiça por elas e por mim.
A morte é muito para você, por isso valorizo cada um de seus suspiros de dor e agonia.
Deveria existir algo pior do que o Inferno para doentes como você. Deveria existir uma carrasca como eu para eternamente castigá-los em meu vingativo templo dos ratos.