A noite estava clara e estranhamente silenciosa, nenhum único animal ousava quebrar o silêncio. As águas do rio corriam vagarosamente e o vento soprava curto e frio, uma jovem tremia a cada passo dado em direção a ponte que atravessava o riacho.
Ela subiu no corrimão e sentou-se olhando o reflexo da lua. Coberta com uma manta escura e curta ficou ali sem dizer uma única palavra, não reclamou do frio ou da fome, não pensou em ir embora ou chorar as perdas; só esperava por algo.
Após um longo tempo, por volta da madrugada, uma vermelha e cheirosa maçã fugi foi oferecida a moça.
– Você demorou – falou sem expressar qualquer emoção de desgosto.
– ...
Esfregou a fruta em sua roupa analisando até parecer limpa, mordendo gananciosamente. O estralo da casca sendo perfurada por aqueles brancos dentes foi escutado pela floresta toda em alto e bom som.
– O que me conta de novo? – escorou-se no corrimão o misterioso homem de sobretudo.
– É engraçado culparem coisinhas tão bonitas e gostosas como essas – observou seu presente com olhos brilhantes.
– Depois de um tempo nesse trabalho, entendo o que quer dizer muito bem...
– Tem mais?
– Não, essa foi sua última – observou sua companheira – Devia ter apreciado mais.
A jovem levantou seu olhar ao luar esticando sua mão, como se quisesse pegar um pouco daquele brilho. Sem amenos conseguir uma corta faísca, falou em sussurro: – Vai doer?
– Muito...
– Como vai ser?
– Seu corpo inteiro vai gritar, sentindo cada pequena parte colapsando aos poucos em uma guerra totalmente perdida.
Um suspiro longo saiu da Moça, o homem posou sua mão no ombro direito da mesma e deu um tapinha de consolo.
– Quando? – olhou o conhecido.
– Agora mesmo – empurrou a criatura ponte abaixo.
O corpo bateu na água criando um alto estouro para em seguida as voltas súbitas a superfície com bater dos braços e gritos desesperados por socorro. Seus problemas pareciam muito menores agora, talvez tivesse solução e realmente fosse só uma fase.
O estranho observou cada instante e tirou dos bolsos uma caixa de cigarros, fumando um ou dois do mesmo. Ao termino do espetáculo, virou as costas para tudo sumindo no novo silêncio da noite.