Sarita viajou para muitos lugares nos últimos meses, tudo pela única razão de tentar esquecer. Tentar esquecer que havia perdido tudo. Tentar esquecer que seus pais nunca mais a abraçariam ou diriam palavras carinhosas.
Ela devia ter ficado com medo de avião, afinal foi em um acidente aéreo que seus pais faleceram. Mas ela não se intimidou, pelo menos não com a máquina voadora, mas sim com a própria vida.
Não aguentava ficar em um mesmo lugar por mais que umas poucas semanas. Era muito rica, poderia viajar para sempre, mas não queria esse tipo de vida. Tinha medo de terminar sozinha, triste e amargurada, completamente covarde de acabar com a própria vida, mas sofrendo por estar vivendo.
Ao sair do Brasil foi primeiro para a Austrália. Queria ficar isolada. Mas não conseguiu se sentir bem em meio a tanta gente alegre e sorridente nas praias. Partiu então para o Japão, ainda pensando no isolamento. Queria estar em uma ilha prestes a ser engolida pelo mar.
Mas no Japão não se sentiu confortável, todos a olhavam torto por seus cabelos loiros claros. Apesar disso, conseguiu se divertir um pouco em um festival Xintoísta que foi. Procurou então um retiro espiritual Budista, onde ninguém a julgaria. Gostou, porém não se sentia em casa, o que era muito contraditório, afinal todos eram extremamente gentis com ela, ali no Mosteiro.
Nos dias de retiro, fez amizade com uma moça da Tailândia, e lá se foi junto com ela. Adorou a natureza! As pessoas a olhavam um pouco torto, mas nem tanto. Só que não conseguia se acostumar ao sabor apimentado da comida.
Se despediu então, com intenção de passar por alguma adrenalina ou tragédia que a devolvessem a vontade de viver. Assim chegou ao Catar, para conhecer o Oriente Médio. Achou tudo muito moderno, o que não a agradou muito, e foi o motivo pelo qual não quis ir a Dubai, então decidiu que iria a Israel, visitar Jerusalém, pois queria ver antiguidades.
Visitou Igreja, Mesquita e Sinagoga. Sarita, apesar de não ter religião, gostava dos templos religiosos. Achava bonito entrar em locais que traziam uma aura antiga.
Pensando nisso acabou decidindo ir para a Índia, tinha muita vontade de ver um festival Hindu. Apreciou com muito gosto as festividades do deus Ganesha, e fez amizade com turistas britânicos, indo depois junto com eles para a Inglaterra.
O tempo estava passando, mas a dor e o luto de Sarita não diminuíam. Visitou inúmeros museus, e até o palácio da Rainha. Mas não encontrou nada que preenchesse seu coração vazio. Até que certa noite pegou o álbum de fotos que trouxera consigo e passando nas fotos antigas viu seus pais ainda jovens em Paris.
No dia seguinte já estava pronta para viajar, queria visitar esse lugar tão importante para seus pais. Atrás da foto mais bonita, com a letra de sua mãe ela encontrou uma anotação, “As luzes de Paris enterneceram meu coração”.
Ficou vários dias indo de lugar em lugar, quando certa noite avistou um rapaz que corria em sua direção. Ele dizia em francês e ela entendia o suficiente para compreender que ele viu o anel dela caindo da mão, e estava devolvendo, e fazendo um convite.
Foram até um restaurante na cobertura de um prédio. De lá podiam ver todas as luzes de Paris, e isso fez o coração de Sarita acelerar. Enquanto olhava para Alouis, pensou que as luzes de Paris haviam enternecido seu coração também.
Apesar disso, ela não se deu por convencida, afinal havia acabado de conhecer o rapaz. Mas a cada segundo Alouis ia conquistando Sarita. Isso foi suficiente para fazer Sarita ficar em Paris pelo menos por mais um tempo.
Tempo esse que se mostrou o bem mais precioso que ela poderia ter ganho. E foi na noite de ano novo, vários meses após a chegada de Sarita em Paris, que ela estava abraçada em Alouis, apreciando as lindas luzes dos fogos de artificio. Nesse momento ele se ajoelhou, e Sarita disse sim ao lindo pedido de casamento. Finalmente ela havia encontrado a felicidade que estava preenchendo sua alma e afastando a tristeza de seu coração.