As praias com os Fernandes Diniz são, com certeza, uma das melhores experiências da vida de qualquer pessoa. Somos uma família que gosta de aproveitar tudo ao máximo, mesmo que isso custe algumas broncas depois. O personagem principal da história de hoje é meu tio Vá que, de acordo com as palavras da minha tia e esposa dele, Zil, entra na água e vira peixe.
Tio Vá é uma das melhores pessoas para ir na praia, ele gosta de se aventurar, caminhar, ir pro fundo do mar e outras loucuras que fazem minha mãe e minha tia ficarem gritando na orla da praia. Nesse dia nós já havíamos montado a barraca – uma daquelas barracas grandes e azuis que ficam tipo uma casinha – e fomos para o mar. Estávamos eu, meu irmão Guilherme, minha prima Jhuly (filha do tio Vá e da tia Zil), minha prima Carol, meu primo Matheus e o próprio Vá. Conforme o tempo na água foi passando, tivemos a impressão de que a correnteza estava nos puxando para o lado direito da praia e então começamos a alertar meu tio, sua resposta era sempre a mesma:
– Tamo no rumo da barraca! – ele falava enquanto apontava para a praia. – Olha a barraca ali! Fica tranquila, tamo no rumo da barraca!
Seguimos então nadando tranquilamente até notar que estávamos perto de um dos lugares mais lindos que já vi em toda minha vida, que ficava a, mais ou menos, uns dois quilômetros do lugar onde estava a barraca. Somos acostumados a rir de nossa desgraça, então começamos a zoar meu tio, que jurou o tempo todo que estávamos seguindo o rumo da barraca, mas não sabia o que havia acontecido. Felizmente, a loucura dele nos levou até o encontro de um rio com o mar, que os nativos da cidade chamavam de “O Encontro do Mar com a Água Doce”. Anos já se passaram, mas me lembro perfeitamente do quão gelada a água doce era, do meu medo de entrar nela e de que haviam muitas borboletas azuis lá, uma de minhas maiores tristezas foi não ter levado uma câmera para captar um dos momentos mais lindos de minha vida.
Depois de um bom tempo rindo e migrando do lago para o mar, decidimos voltar para a bendita da barraca, afinal, o tio Vá ia levar a bronca. Fomos caminhando e observando tudo ao redor, encontramos uma coisa mole e gosmenta na areia, que Matheus disse que era uma água viva (ele queria ser biólogo então a gente acreditou) e várias bolachas do mar – que serviram para criar o apelido do meu irmão, bolachólogo do mar, mas isso é história para outro conto –, várias barracas idênticas a nossa e encontramos também meu pai correndo na praia desesperado, que passou por nós e nem notou, tivemos que correr atrás gritando o nome dele.
– Vim procurar vocês, todo mundo sumiu na água – disse ele, totalmente orgulhoso por “ter nos encontrado”.
Ninguém culpou ou ficou bravo com meu tio pelos quilômetros de caminhada/natação, entendi naquele dia a frase de Bob Ross, não existem erros, apenas pequenos acidentes felizes; obviamente, não devemos aplicar isso para tudo na vida, sejamos coerentes, mas naquele momento, serviu perfeitamente, se realmente tivessemos seguido o rumo da barraca, nunca encontraríamos o rio que corria para o mar.
– Que isso cara, a gente estava no rumo da barraca! – respondeu o tio Vá.