Novamente, ele se esvai.

Juntá-lo nunca fora fácil — ouso dizer que é uma tarefa impossível para alguém cujas distrações surgem em tudo e nada, mas essa noite piorara.

Era madrugada e o sono não vinha. Ou melhor, eu barrei sua entrada.

Afinal, eu tinha que juntá-lo. Precisava possuí-lo.

Mas, numa mera tentativa sem sentido, ele se esvai novamente.

A frustração era evidente e aquele sarampo luminoso que pintara o céu azulado deixava-me na mais pura aflição. Junto do meu abajur barato, regava os livros que eu lia, tornando-os claros.

Supostamente, eu suponho. Não são claros para mim.

A medida que as horas passam, as palavras, que já vestiam uma capa metida a didática, tornavam-se ilegíveis. E a minha compreensão das mesmas tornava-se nula.

Pensei em coar um café. Sim, isso sempre me ajuda. Um chá também seria uma boa pedida, pois relaxaria meu corpo.

Espera, relaxar pode levar ao sono e o sono pode me levar a dormir. Não, não posso dormir. Tenho que possuí-lo, fazer uso dele e terminar oque precisa ser terminado. Dormir está fora de cogitação.

E novamente ele se esvai…

Forcei-me a ler o paragrafo seguinte. E o que vinha depois dele. Mas notei que não absorvi nada do primeiro.

Olhei novamente para a janela. Para o céu estrelado e a solidão das ruas escurecidas. Mal passavam carros e as ruas sofriam com a falta de iluminação. Também não haviam pessoas.

Levanto-me e vou até a cozinha.

Meus pais já foram dormir há algum tempo. Disse-lhes que também iria em breve.

Esse “breve” estendeu-se por algumas horas, mas, para o meu desprazer, não compensou em produtividade.

E eu percebo que ele se esvai, de novo.

Sem café, eu subo, rapidamente, como se tivesse aprontado.

Aquela altura, não importava-me mais se o resultado dessa noite fosse ruim. Só queria um resultado.

Por isso voltei a ler. Ao menos, tentei voltar.

Anotando algumas palavras e grifando outras, tudo para fingir uma produtividade que jamais tivera.

Logo, cansei-me disso. Cansei-me de tudo.

Fechei minha cortina, apaguei meu abajur e atirei-me na cama, ainda acalentando uma porção generosa de frustração e ansiando que minha falta de foco, assim como o mesmo, simplesmente se esvaia.