– Não, eu não estava bêbado, tampouco drogado; talvez estivesse tão embriagado no amor dela que não percebi o momento que me afoguei em suas mentiras. É tão irônico, delegado, que hoje de manhã joguei uma moeda na fonte d'água desejando um amor eterno, mas talvez a divindade não tenha sabido interpretar o meu pedido, ou simplesmente tenha um humor negro excruciante para o meu entendimento. Todavia, eternizou, não é? Eu perdi a cabeça, confesso. A cena de outrora ainda se repete em minha mente como um lembrete: os gemidos demasiadamente longos, a maneira como seus dedos acariciavam a intimidade daquela que um dia amei, o modo como se beijavam... Ela nunca me olhou com tanto desejo como olhava para ele, mas talvez eu compreenda. Qual ser humano resistiria ao ter seu corpo beijado com volúpia e paixão? Aliás, está conseguindo entender? Eu a amava! E achava que era recíproco. Pode me culpar realmente pelo que houve? Ele segurava seus quadris, enquanto ela cavalgava em seu pau. Foi traumatizante, angustiante e, principalmente, revoltante. Quando voltei à consciência, estava novamente em frente à fonte, só que dessa vez ela jorrava sangue – sobre os dois corpos –, assim como meu coração sangrava por dentro.