Eu coloquei fogo em Roma, em minha casa, em minhas roupas - ando pelas cidades, cheirando à gordura, carne queimada, olhos derretidos.
Me lembro da última vez, que ao comer uma maçã, senti o doce-ácido suco descer suavemente, com gozo - pela garganta, existiu ali, um contentamento humano?
Não posso mais ser humana, só consigo pensar em agrotóxicos.
Estou tóxica, como nunca antes estive.
Nenhuma cor é mais a mesma,
As maçãs nunca foram tão vermelhas,
Nunca sangrei com tanta dor e culpa.
Me apagarei do paladar do mundo,
qual tatu pequeno, cavarei um buraco bem fundo,
trarei para dentro, cada artefato podre,
Deitar-me-ei nesta pilha de estrume.
(mesmo assim, serei caçada, pelo gosto que tem minha carne).
Sinto-me rara, quando sou requisitada,
invadida, desmembrada, pelos olhares sorrateiros,
mordidas, lambidas, fungadas sobre meus seios
a carne vermelha
a boca
os pensamentos
alimento mais caro.