Lá estava ela, mergulhando seus pés sob uma pilha de folhas mortas do outono. Mantinha os olhos fechados, pois, apesar de soar um tanto mórbido se visto por um olhar mais rígido, não se via relaxada há muito tempo. Lá, entre toda a melancolia que só o outono carregava além dela, sentia-se pura. Imaculada. Seus cabelos, recentemente alisados, eram de um castanho desbotado tal como o tronco de uma árvore morta e seu sobretudo esverdeado, como se numa contradição curiosa, parecia dizer que essa árvore logo voltaria a dar frutos. Era uma moça caprichosa com sua aparência, tinha sempre em mente que a forma como se apresentava influenciava na visão de mundo dos outros. Na forma de como a viam, então não havia como render-se aos desleixos de pessoas mais corajosas do que ela.
A moça tentara sair do seu bom cativeiro de folhas, pensando que não devia prolongar sua paz mais do que o ideal, mas não lhe foi permitido. Uma rajada de vento, atuando como um bom carcereiro, chocou-se contra ela e as folhas caídas, espalhando-as em volta da moça. Bom, não tem jeito, ela pensou. Teria que ficar ali por mais um tempinho. Talvez até a primavera, quem sabe...