GUMMO (Em Andamento)
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Tipo: Romance ou Novela
Postado: 11/08/20 17:26
Editado: 18/08/20 23:00
Gênero(s): Crônica
Qtd. de Capítulos: 6
Cap. Postado: 11/08/20 17:26
Cap. Editado: 11/08/20 17:32
Avaliação: 9.89
Tempo de Leitura: 7min a 10min
Apreciadores: 3
Comentários: 3
Total de Visualizações: 1130
Usuários que Visualizaram: 12
Palavras: 1265
Não recomendado para menores de doze anos
GUMMO
Notas de Cabeçalho

O que você vai ler é uma homenagem ao filme “GUMMO”, de 1997, e a todos que participaram dele. Tudo que escrevi está no filme, mas nem tudo que está no filme eu escrevi. Grande parte dele é fortemente visual, do tipo que seria inconcebível em qualquer outra forma. O que eu fiz foi reunir cenas e citações que achei que funcionariam em um estilo narrativo.

Capítulo 1 Tummler e Solomon

“Xenia, Ohio. Alguns anos atrás um tornado passou por aqui. Matou muita gente. Cães morreram, gatos morreram. Casas foram destruídas e colares pendurados nos galhos das árvores. As pessoas estavam com fraturas expostas. O Oliver encontrou uma perna no seu telhado. Os pais de muita gente morreram. Foram mortos pelo grande tornado. Eu vi uma menina voando pelo céu e olhei por baixo da saia dela. Uma escola foi destruída, e algumas crianças morreram. O meu vizinho foi despedaçado. Ele costumava andar de bicicleta com os amigos. Nunca encontraram sua cabeça. Sempre achei isso engraçado. Pessoas morreram em Xenia. Antes de o meu pai morrer, ele teve um caso grave de diabetes.”

Quando já era bem tarde da noite, um garoto cruzou a rua sorrateiramente até a lateral de um bar 24 horas. Parou do lado de uma lata de lixo, tirou uma garrafa de vidro da mochila e a arremessou na parede. Pegou um pote de atum que tinha com ele e misturou com os cacos de vidro, esmagando tudo com uma colher de pau.

Naquela mesma noite, mais afastado da cidade, um casal de adolescentes tinha encontrado um canto para passar a noite juntos: um cemitério de automóveis. À frente do carro, um latão pegava fogo e iluminava os dois, que trocavam carinho enquanto se olhavam profundamente ao som de latidos de cachorros. O vidro da frente estava completamente despedaçado, e o teto esmagado. Ele levou a mão para debaixo da blusa dela e começou a apalpar.

- Tem um caroço no seu peito.

- O quê?

- Um caroço gigante.

Ela afastou a mão dele e começou a tocar o próprio seio. Os dois ficaram em silêncio.

Solomon era um pouco mais novo que Tummler, mas bem mais baixo e fraco. Quando saiam juntos, sempre observavam as casas dos dois lados da rua em cima de suas bicicletas. Tummler carregava uma arma de pressão como se fosse o guidão, enquanto Solomon deixava a sua nas costas.

Um gato preto estava na mira de Tummler.

- É um gato doméstico, não atira. – Solomon abaixou a arma do amigo, espantando o bixo que usava uma coleira com pingente de coração.

- É uma gata lésbica. – disse.

- Igual a minha mãe.

Tummler começou a empurrar a bicicleta pela rua.

- Sabe o que eu vou fazer amanhã?

- O quê? – Solomon estava logo atrás. A roda de trás da sua bicicleta era maior que a da frente.

- Vou a um manicômio.

- A um manicômio?

- Vou arranjar uma gatinha pra estuprar.

Eles sempre se enfiavam na floresta nas primeiras horas do dia. Tummler pendurava um gato de ponta cabeça numa árvore, igual uma pinhata, Solomon procurava dois galhos que parecessem gravetos e assim açoitavam o bixo.

Tummler entregou um grande saco para Solomon e sentou sobre a bicicleta jogada no chão.

- O quê quer fazer? – perguntou com um cigarro entre os dedos. – Quer continuar procurando?

Solomon fez um nó no saco. Queria ter certeza que aguentaria levá-lo em cima da bicicleta. Estava bem pesado, apesar de ter menos carniças que o normal.

- Podemos ir para a casa do Dean, ali perto do lixão. – continuou Tummler.

Solomon murmurou um não quase incompreensível.

- Vamos comprar uns milk-shakes – sugeriu, ainda procurando o jeito certo de levar o saco. – Milk-shakes de morango. Se não tiver, eu pego de abacaxi.

- Certo. Mas primeiro vamos pegar nossa grana. – Tummler levantou. – A tua mãe costuma cozinhar?

- Ela faz umas torradas. – Solomon fez outro nó com o saco, dessa vez no guidão.

- Só isso?

- Às vezes ela faz costela de carneiro.

- Já comeu creppe suzzete? – Tummler jogou o cigarro nas folhas secas. Solomon murmurou outro não.

Quem comprava os gatos mortos era um cara chamado Huntz. Os dois sempre o encontravam nos fundos de um supermercado que ele trabalhava, em uma sala ao lado do refrigerador.

- Vocês não conseguiram muitos dessa vez. – disse Huntz quando pegou o saco que Solomon já estava custando carregar.

- Não estamos encontrando muitos. – Tummler pôs as mãos no bolso.

Huntz colocou o saco em uma balança. Era assim que ele via quanto valia, por quilo.

- Doze, doze e meio... Dou treze dólares. – puxou o saco de volta e se dirigiu para outra sala.

- Sério, a gente não encontra mais nenhum. – Tummler e Solomon foram atrás.

Huntz abriu uma porta, jogou o saco e disse:

- Sabia que vocês tem concorrência?

- O quê? Quem?

- Jarrod.

- Quem? - Tummler ficou surpreso.

- Jarrod Wiggley. - Huntz entrou em um corredor, mas continuou falando. - Sabe aquele garoto que mora perto da escola? Um que tem que tomar conta da vó.

- Eu conheço. A irmã dele estudava na minha turma. – disse Solomon logo atrás. – O nome dela era June Wiggley, mas a gente a chamava de June Bug.

Chegaram a um pequeno escritório, com calendários nas paredes e até um computador. Hurtz sentou, abriu uma gaveta e tirou o dinheiro. Solomon pulou em cima de uma gaveta. Sua calça estava rasgada no joelho esquerdo.

- E eu percebi outra coisa também. – continuou Hurtz. – Os gatos que ficavam perto das latas de lixo desapareceram. E o restaurante chinês, o que compra todas as minhas coisas, o dono teve um ataque do coração e morreu, por isso acho que eles vão fechar.

- Eu sou muito esperto se é que posso me gabar. – disse Tummler.

- Ah é? Por quê? – questionou Hurtz.

- Essa tarde entrei numa frutaria, e o caixa achou que eu era algum idiota da cidade. “Essas maçãs custam dois dólares cada”, ele disse. Aí fui mais esperto. Dei uma nota de cinco e quando ele ia dar o troco de um dólar, eu disse, “Pode ficar, tá tudo certo. Quando eu entrei, pisei numa uva”.

Hurtz levantou e disse:

- Quer que eu pague por gato ou por quilo?

- Tanto faz. – disse Tummler.

- Te dou um dólar por quilo então. – Hurtz entregou o dinheiro e saiu da sala.

Quando já estavam na área aberta do mercado, Tummler disse:

- Ei, consegue me arranjar um pouco de cola?

- De que tipo?

- Vocês têm cola “Butcher’s” em lata?

Gastaram metade do dinheiro em Milk-shake. Depois se meteram na floresta pra cheirar cola.

- Solomon, a tua mãe encontrou uma casa nova?

O mais novo mal conseguia abrir os olhos.

- Eu vi uma casa ontem, perto da minha. Acho que era de uma mulher. – continuou Tummler. – Vi a placa, “Á venda”. Tinha um buraco de bala na caixa de correio.

- Um buraco?

- Sim, um grande buraco. – Tummler inspirou um pouco de ar puro. – Acho que foi o meu irmão que fez quando era mais novo. Ele costumava dizer que o Roy Orbison gostava de atirar em coisas. Roy usava sempre óculos de sol escuros. O meu irmão sempre usou óculos de sol iguais. Ele canta aquela música, “Crying”, sabe?

- O quê? - Solomon tentava prestar atenção, mas estava muito chapado pra se concentrar.

- Aquela música, “Crying” – Tummler cantou um trecho da música, o que Solomon realmente achou graça e deixou escapar uma risada.

- O meu irmão costumava cantar “Crying”. – Tummler repetiu.

- O que aconteceu com ele?

- Tá numa cidade grande. – Seus olhos se perdiam no céu. – Ele fugiu em um ônibus. Ele era viado. É um viado agora.

Solomon abriu um sorriso e disse:

- O teu irmão?

- Ele se veste de mulher. Usa saia, batom, collants e pinta os olhos. – Tummler caçoava do que dizia, mas seu olhar tinha mudado. – Ele tem até peitos.

Parecia que os dois iam dormir ali mesmo, chapados, encostados numa pedra, um do lado do outro. Então Solomon virou para o amigo e perguntou:

- Você o ama?

- Muito.

- Ele era bonito? – Solomon repousou sua cabeça novamente.

- Não sei, acho que sim. Bonito o suficiente pra ter um namorado.

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Apreciadores (3)
Comentários (3)
Postado 13/08/20 19:02

Caramba, Nathan, toda obra sua é uma viagem (no bom sentido, obviamente). A leitura me prendeu de tal maneira que nem percebi o tamanho do texto. São muitos acontecimentos inseridos, mas tudo é muito bem narrado e extremamente bem desenvolvido no texto. Ri muito em algumas partes, me surpreendi muito em outras e refleti bastante acerca de tudo que li.

Foi uma leitura muito diferenciada, bizarra e maravilhosa. É impressionante como você sempre consegue trazer obras extraordinariamente incríveis para nós. Eu não assisti esse filme, espero que a minha ignorância não atrapalhe a leitura. Esse finalzinho foi muito bonitinho, não pude deixar de sorrir.

Obrigada por compartilhar conosco. Tenho muitas expectativas para com essa obra. Já estou ansiosa para o próximo capítulo.

Parabéns, mil vezes, Nathan Fada/Foda ♥

Postado 18/08/20 23:07 Editado 18/08/20 23:12

Oi Sabrina!! Muito obrigado. Pois é, realmente tem bastante coisa, e admito que não está na melhor estrutura, mas estou bem feliz.

A obra na verdade já esta completa!! Você já pode ler os outros capítulos hahhahhaha mas obrigado pelas expectativas!!

Por favor, assista o filme, e espero conversar contigo de novo.

Obrigado por ler ! <3

Postado 13/08/20 22:53

Foda. Teu jeito de escrever é muito gostoso de ler. Parabéns!

Postado 18/08/20 23:07

Valeu demais !!!

Postado 06/11/21 21:23

Obra criativa, bizarra e bacana demais! A narração me cativou de imediato

Congrats!