Quando foi que deixamos essa situação perdurar? O combinado era não nos apaixonarmos, então por que sou a única que está sofrendo? Querido, você se lembra como tudo começou? Sente-se comigo, me permita fazê-lo recordar.

Você sempre foi o meu melhor amigo. Crescemos juntos e estudamos na mesma escola, o que me permitiu ser sempre protegida e nunca estar só. Lembra quando implicavam comigo por ter os dentes tortos? Você sempre aparecia para me defender; sempre foi o meu herói.

Quando estávamos no colegial meu maior medo era a faculdade. A tendência é de serem mais cruéis, não? Ainda mais quando me acostumei a ser invisível. O alívio foi tão grande ao saber que frequentaríamos a mesma universidade que não podíamos deixar de comemorar. Eu não sabia naquela época o quão destrutivo foi essa decisão, e o meu eu de agora encontra-se demasiadamente arrependido de ter acordado em seus braços e aceitado a sua proposta.

No início parecia que nada mudou, éramos os mesmos um com o outro, mas com o benefício de aliviarmos a tensão diária juntos. Não sei dizer quando, tampouco o porquê, mas comecei a decorar cada detalhe do seu corpo, contar as pintinhas espalhadas e fazer desenhos aleatórios em seu torso; me peguei observando as ruguinhas que aparecem em seus olhos quando você sorri e a maneira como você joga sua franja quando se sente incomodado ou entediado.

Não sei dizer quando, tampouco o porquê, mas meu coração começou a ansiar pela sua presença, contando os minutos para te ver.

Deveria ter reparado mais? Prestado mais atenção nos últimos acontecimentos? Sim, eu devia. Mas não o culpo por isso, afinal, era somente eu que estava quebrando a única regra e me permitindo ser pega em minha própria ilusão. E agora consigo enxergar nitidamente: sempre foi eu, nunca nós.

Eu deveria ter ficado em casa, não é mesmo? Porque agora sou a única que está apaixonada pelo homem que quebrou meu coração.