Mestre acordou com o pé esquerdo, literalmente caiu da cama ao tentar se levantar e pisar em falso no sapato virado. Puta merda, ele pensou, ô azar do caralho.
Mas tudo bem, se recompôs e foi direto comer. O pobre coitado não foi capaz de acreditar que suas bolachas haviam desaparecido, e logo foi perguntar de pessoa em pessoa, dentro daquela maldita república, quem havia sido o ladrão vagabundo que estava roubando sua comida.
– Foi mal ae, tava mó brisado e nem pensei direito antes de comer toda a bolacha da casa, então relaxa irmão, que não foi só a tua não – responde Dirceu.
Mesmo com o estômago roncando decidiu fazer a higiene matinal, e logo foi enfurecido para o banheiro. Sentou no trono e descarregou a bucha mais rápido que o de costume. A única coisa devagar ali era mesmo a sua percepção, que só percebeu que não havia papel depois da obra feita.
– Puta que pariu, seu lazarento!!!!!! – berrou Mestre, não conseguindo segurar as palavras de indignação. E ficou queimando a cabeça para decidir se devia berrar pedindo papel para algum companheiro da república ou não.
Se apercebendo do estrago de sua obra, resolveu que era melhor não arriscar ficar sem limpar a bunda, então engoliu o orgulho e berrou desesperado para que alguém lhe trouxesse o papel. E claro, ainda teve o infortúnio de ter que se levantar do trono para abrir a porta.
E bom, nem é preciso dizer que esse foi um grande erro, que resultou na urgência de Mestre tomar um belo banho, pois papel nenhum iria funcionar naquelas circunstâncias. E olha, se tinha algo nesse mundo que Mestre odiava com todas as forças, essa coisa era banho matinal.
O cara só não se matou ali mesmo, perfurando seu pescoço com um cano de metal enferrujado do chuveiro antigo, porque com o andar da carruagem, era capaz de sobreviver a isso e ainda pegar tétano. Vai se fuder, vida bosta do inferno, reclamou ele em voz alta na hora em que sentiu a água gelada tocando-lhe o corpo.
Terminado esse sacrifício, foi novamente para a cozinha e pegou um resto de lasanha velha que encontrou no fundo da geladeira, e meteu tudo na boca, gelado mesmo, afinal naquele muquifo que chamavam de república, já estavam sem gás por uma semana, e sem perspectiva de mudança.
Bando de folgados do caralho que não compram nem a merda de um gás, resmungou Mestre, afinal nem todos ali eram pobres, havia os medianos que estavam ali só para poderem usar o dinheiro em drogas, ou só para não se sentirem sozinhos. Ele se enquadrava no último caso, mas seu pai não lhe dava um centavo a mais do que o dinheiro do próprio aluguel, pois era um mesquinho com seu filho.
Olhou para o relógio, já estava 15 minutos atrasado do horário que costumava sair de casa. Pegou sua bicicleta capenga, caindo aos pedaços, e se pôs a pedalar freneticamente. Estava indo tão rápido que perdeu a direção e se enfiou no jardim de uma casa. Saiu todo espetado dos cactos ali presentes e viu sua bicicleta toda despedaçada na calçada.
– PRONTO, TO FUDIDO, SEU LAZARENTO DO CARALHO – esbravejou Mestre enquanto chutava os escombros de sua bicicleta, para então sair correndo, tentando chegar a tempo de fazer sua prova na faculdade.
E é claro, vocês já sabem, né? Depois de correr incansavelmente por 40 minutos, o sofrido maltrapilho não conseguiu chegar a tempo, e pegou uma DP.
Esse pobre coitado merecia ser canonizado como o Santo dos Azarados.