Eu tinha acabado de me formar no colégio, e o que vou contar é verdade, não algo que a gente sonha e começa a confundir com a realidade depois de alguns anos. Era 2018, e eu tinha acabado de me formar no colégio. Eu já tinha escrito vários textos aqui na Academia. Como vocês podem ver no meu perfil, minha conta data do ano de 2016 de agosto, dia nove, então daqui a alguns dias vai fazer quatro anos, não consigo acreditar, parece que foi ontem que postei meu primeiro conto, pois me lembro de cada detalhe do dia. A maioria do que postei aqui são contos, mas esse em particular é mais uma carta para quem já leu algo meu. Enfim, todas as memórias e sentimentos que eu tenho daqui são muito boas, e sempre que volto aqui, mais velho claro, é como se encontrasse o meu eu mais novo.
Enfim, o que vou falar é verdade. Quando me formei em 2018, foi na segunda escola que já estudei. A primeira fica em outra cidade que eu e meus pais saímos quando eu tinha por volta de sete anos, hoje tenho dezenove. Quando comecei a postar textos aqui, eu tinha quinze, pensar nisso me deixa nostálgico. Enfim, depois que me formei em 2018 na segunda escola que já estudei, resolvi ir visitar a primeira escola que estudei, que ficava em outra cidade. Eu fui sozinho, de trem, sem meus pais saberem. Foi em um dia comum da semana, numa quinta-feira, nas férias de verão, portanto a escola não estaria aberta, mas tava tudo bem, eu nunca quis entrar na escola, só queria encará-la de frente por alguns minutos e esperar que alguma memória antiga retornasse. Eu não planejava ficar muito lá, no máximo uma hora. Falei pros meus pais que ia na casa de um amigo e fui pegar o trem. A cidade não era longe, então a viagem durou mais ou menos vinte minutos. A cidade era pequena, então a estação ficava bem perto da minha primeira escola, que foi pra onde fui. Passei por alguns lugares que estavam exatamente iguais a como estavam quando eu era pequeno, e eu adorei, pois me senti um viajante do tempo que tinha retornado a própria infância. Porém, quando cheguei à frente da escola, ela estava completamente diferente, o que me frustrou muito. Os muros que eram cheios de desenhos coloridos dos alunos, tinham sido limpos, e o portão irreconhecivel. O nome dela tinha mudado para uma série de letras que não faziam sentindo uma na frente da outra. Era claramente uma abreviação do nome original, mas continuava sem sentido. Ver aquilo me entristeceu demais, estava parecendo um quartel militar. Foi depois dessa constatação que entendi que meu passeio havia sido arruinado, mas o dia estava muito bonito pra eu simplesmente pegar o trem de volta, ainda era muito cedo. Foi quando tive a ideia de revisitar minha antiga casa.
Tive que atravessar algumas ruas e subir várias lombadas. Passei por umas casas que tenho quase certeza que eram de antigos colegas meus, que provavelmente nunca se mudaram de lá e passaram seus primeiros anos de vida nessa cidade pequena. Eu sinceramente tenho inveja deles. Quando cheguei à minha antiga casa, a parte de fora parecia igual, o que me deixou feliz. Era como se eu nunca tivesse saído de lá. A casa era grande, talvez a maior da cidade, com um grande pátio no qual eu vivia correndo com meus primos, uma piscina, e dois gigantes andares de piso, e a parte de trás que era praticamente outro pátio, só que de pedra. Eu juro que tudo isso é verdade, pode crer, juro por tudo. Enquanto eu encarava a casa pela grade, uma garota nua, com apenas fita isolante tapando os mamilos e a vagina, abriu a porta da frente e ficou me olhando. Eu fiquei sem entender nada, até ela vir na minha direção e parar na minha frente. Ficamos nos olhando separados pela grade. Ela perguntou quem eu era, e respondi que já tinha morado ali. Aquilo tudo foi muito estranho, e de repente ela me convidou para entrar. O nome dela era Mariana, e ela morava ali com a sua irmã gêmea Fernanda, que também estava usando apenas fitas isolantes quando a conheci. Eu me apresentei para que elas se apresentassem pra mim. As duas eram gêmeas idênticas e tinham acabado de se mudar pra aquela casa. Fernanda disse que as duas moravam sozinhas, mesmo sendo tão novas. Enquanto conversávamos, notei que a parte de dentro da casa também parecia exatamente do jeito que eu lembrava.
Não quero entrar em muitos detalhes, porque esse texto já está ficando mais longo que eu esperava, mas o que quero dizer é, até hoje não esqueci o rosto delas, e é horrível. Mas o que me intriga mais é o sentimento de que eu as conhecia de algum outro lugar. Na verdade, é como se elas fossem um lugar que eu já estive antes, como a minha antiga casa. Elas realmente eram idênticas, tipo, não só de rosto, mas em todas as medidas do corpo. Lembro que quanto eu mais observava elas, mais macabro ficava, por isso fui embora, se não eu teria enlouquecido. Desde esse dia, criei uma paranoia em relação à coisas que são extremamente parecidas com outras coisas, sabe, ou coisas que permanecem iguais por muito tempo também. Isso me assusta demais hoje. O nome do texto é Kate Slatt porque dei esse nome para essa síndrome: Síndrome de Kate Slatt, achei legal. Queria perguntar pra vocês se conhecem alguém com esse problema, ou sou só eu? Eu sou o único? Não tem ninguém parecido comigo? No fundo, eu desejo que não, se não eu ficaria mais maluco ainda.