Relevância
True Diablair
Tipo: Conto ou Crônica
Postado: 02/08/20 02:52
Editado: 02/08/20 03:01
Gênero(s): Reflexivo
Avaliação: 9.72
Tempo de Leitura: 3min a 4min
Apreciadores: 8
Comentários: 8
Total de Visualizações: 644
Usuários que Visualizaram: 13
Palavras: 587
Não recomendado para menores de catorze anos
Notas de Cabeçalho

Saudações (oxalá fosse um adeus).

Se quer ler algo agradável, positivo, edificante, etc... Seu lugar não é aqui.

Capítulo Único Relevância

Ok.

Não se trata de morrer, mas sim um constante (ou pior ainda, crescente) desejo de nunca ter existido. Da insanidade de tentar imaginar como seriam as coisas se nunca estivesse estado aqui e invariavelmente constatar que, na sua opinião (e também no seu âmago), não teria feito tanta ou sequer alguma diferença de verdade.

Se trata de uma percepção sombria e recorrente de que, de repente, sua vida não teve... Melhor dizendo, não TEM relevância. Pelo menos, não para si. Claro, pessoas próximas (no sentido de convivência) dizem convictas que é o contrário. E você na maioria das vezes acredita nelas... Mas, não totalmente.

Tem algo aí dentro que te impede de se convencer. Sempre teve. Provavelmente sempre terá. Se isso não é um fato, por que se passaram tantos anos (e tantas, TANTAS conversas) e você ainda se percebe no escuro (e também em plena luz do dia), olhando para o nada enquanto por vezes tocam músicas que ultimamente (e sinceramente) sequer nota por causa da gritaria (ou dos sussurros) retumbando no seu íntimo?

Você olha para trás e se dá conta da quantidade das falhas e omissões, do quanto isso te custou (o ônus da culpa e do remorso perdurando ainda nos dias de hoje e não só para si). Você sente que viveu errado ou talvez nunca tenha vivido de fato, não em um sentido que tivesse sido realmente digno de nota. E aí mora o cerne de loucura: esse "quê" a mais que muito parecem ter... Nunca houve para si, dentro de si.

E agora (só agora? Talvez a idade e os efeitos/reações de suas escolhas ou falta delas tenha lhe mostrado mais claramente) se conscientiza do quão ínfima se tornou a relevância da sua vida, da sua existência aos seus olhos vazios.

(Niilismo gradual como doses homeopáticas de veneno ingeridas desde quando/sempre?)

Quer saber a verdade? Eu te digo.

Não importa o quanto as pessoas dizem que se importam ou você foi/é importante para elas, não é mesmo? O Universo inteiro poderia gritar e estampar isso em todos os lugares para qualquer um saber. O problema é que você não consegue entender (digo mais: SENTIR) isso. Nunca conseguiu. E não foi por falta de tentar. E, na realidade, você tem desistido mais e mais de fazer isso.

É bizarro quando você não tenta se matar, mas percebe que está começando a não ligar se eventualmente viesse a morrer (até porque isso é inevitável), certo? Essa sensação dita tóxica (seria mesmo?), depreciativa (eu diria acurada), crescente (quiçá inerente) de... Término. Soa covarde, considerando fatores como saúde ou idade? Soa hipócrita, se comparado a tantos outros e outras em situações monstruosamente piores em N modos? Soa exagerado, levando em conta os aspectos positivos que vez ou outra sua vida teve/tem em outras vidas, nem que fosse uma só vez? Sim, sim e sim.

Todavia... Ainda assim, isso está com você, como se fosse uma caixinha de estimação cheia de vômito que guarda e carrega o tempo todo. A única novidade é que agora não dá mais para disfarçar o fedor, não é mesmo? Também meio que parou de ligar se vão notar ou não. Vou além; você se torna o vômito, cada dia um pouco mais. Talvez sempre o tenha sido.

Tão somente um regurgito longamente (loucamente) autoruminante desde o ventre até o vindouro (inexorável) túmulo, tal qual esta "obra". Haha.

Qual é/tem sido a relevância da sua vida/existência para você, afinal? Isso é tudo o que importa, acho.

Ou ao menos... Deveria.

❖❖❖
Notas de Rodapé

What to say

Am I alive?

Am I asleep?

Or have I died?​

- Korn, Hollow Life.

Apreciadores (8)
Comentários (8)
Comentário Favorito
Postado 02/08/20 14:59

O bom diabo ao inferno volta, não é mesmo? KKKKKK

O que mais me fascina na sua escrita é a sua forma singular de sair do "padrão". A sua coragem em falar sobre sentimentos da maneira que você os vê, sem fantasiar ou mudá-los é incrível. A sua escrita é sempre banhada de sinceridade e isso é admirável. Afinal, é necessária muita coragem para escrever sobre a verdade. A sensibilidade nem sempre virá vestida com lágrimas; às vezes ela é desespero puro, escárnio completo. O fato de você conseguir transmitir isso com um alto nível poético na narração, só confirma o talento que tem com a escrita.

O impacto dessas palavras é insano. Li e reli esse texto e tudo o que consigo pensar é em respirar fundo e continuar deixando com que as ideias me dilacerem. As metáforas sombrias são perfeitamente desenvolvidas e envolvidas em uma densa sonoridade martelada. Tudo é como um eco obscuro, do tipo que é preciso se atentar muito para conseguir ouvir. É como um grito da alma. As mensagens nas entrelinhas parecem dançar um ritmo assombro e perverso, mas que continuam se movendo por saberem que é verdade.

Tudo é muito reflexivo. É como se o próprio narrador pronunciasse essas palavras para si, como se estivesse procurando respostas e tentando se agarrar em certezas, porque essa é a única atitude a ser tomada quando estamos caindo.

Ler essa obra é como estar andando na corda bamba que há entre a vida e a morte, e por isso é uma experiência extraordinária, porque por trás de tudo isso, só consigo visualizar pensamentos e dúvidas reais, que podem vir a aflingir qualquer um.

Muito obrigada por compartilhar essa obra conosco! É sempre bom poder ler suas obras!

Parabéns, Diab ♥

Postado 04/08/20 00:07

Eu tentei... Eu juro que tentei tecer ums resposta digna para um comentário tão sublime, visceral e de uma sensibilidade, empatia e acuidade deleitáveis (quase assustadoras e simplesmente impressionantes). Contudo, isto está em um patamar muito acima, não consigo.

E isso não me surpreende, pois é o que eu sempre espero da senhorita e tal expectativa se converteu em certeza uma vez mais, como de praxe! Não há recompensa maior para um autor do que um comentário tão incrível quanto este sobre a obra dele e a isso lhe sou muito grato, Srta Ternura!

Muitíssimo obrigado!

Postado 02/08/20 13:41 Editado 02/08/20 18:49

Saudações e parabenizações! Diab, Diablair! Que texto!

Não sei se você concorda ou discorda dessa minha colocação, mas te acho, Diablair, de uma sensibilidade enorme, grande, verdadeira e tão necessária.

Não estou te bajulando, mas apenas dizendo a verdade, de que suas palavras e ideias, que saem diretamente do coração (necrosado, morto, sujo, deplorável ou qualquer nome que você queira dar, não deixa de ser um coração), então, isso tudo que sai do âmago do seu coração é arte e escrita do mais alto nível.

Você sempre consegue me deixar maravilhada, de boca aberta, estupefata com tudo que você escreve!

O niilismo aqui presente me é encantador, e auge da perfeição foi o modo como você colocou várias coisas escritas entre parênteses, essas foram minhas partes preferidas, me davam um ar sombrio, triste e amargurado que adorei!!

Um abraço saudoso,

Meiling!!

Postado 04/08/20 00:14

Srta Yukari... Me faltam palavras aqui também, mas em compensação, um singelo, todavia duradouro sorriso se formou em minha fuça ao ler seu comentário.

De fato, não concordo contigo naquelas coisas que disse (até porque sou uma farsa muito bem elaborada), contudo a parte do coração é inegável, não é mesmo? Apesar de tudo... Ainda é e ainda HÁ um coração...

Muitíssimo obrigado! Gratíssimo!

Postado 02/08/20 16:40

Que legal o seu texto, é bem interessante o modo como vc vê as coisas e escreve, gostei mesmo, vc escreve muito bem viu *_*

Postado 04/08/20 00:17

Srta Vilma, suas palavras em muito me honram e agraciam, muitíssimo obrigado pela gentileza e, aproveitando o ensejo, seja bem vinda a este antro maldito e virtual!

Gratíssimo! Gratíssimo!

Postado 02/08/20 18:34

Não sei se eu deveria ou até mesmo se eu posso dizer isso, mas lá vai:

Quando comecei a ler lembrei de uma pessoa que fala comigo do discord. É uma pessoa um tanto quanto complicada, mas tem seus bons momentos. Até pensei em compartilhar o texto, mas por algum motivo desisti.

O que você retrata aqui, moço, é exatamente tudo que se passa com essa pessoa. Me pareceu até que vocês se conheciam e você acabou escrevendo por conta disso. São palavras fortes e impactantes. Um balde de pura verdade.

Acho que agora vou falar outra coisa que não deveria, mas você sabe que eu sou assim! Um dia desses eu estava a falar com a pessoa e, bem... “É bizarro quando você não tenta se matar, mas percebe que está começando a não ligar se eventualmente viesse a morrer” Acho que essa parte resume bem. Foi um pouco tenso.

Estou impressionada com o fato e ao mesmo tempo não estou, afinal, é um texto seu e toda obra que tem sua assinatura é simplesmente perfeita.

Desculpa, obrigada e parabéns! e_e

Postado 04/08/20 00:22

Moça, suas revelações me lembram algumas ocasiões com uma pessoa muito estimada por mim. Não posso/irei entrar em detalhes, mas parando para pensar... Talvez haja um pouco dela ou para ela também neste texto.

Assim como mim e tantos e tantas por aí/aqui...

Muitíssimo obrigado!

Postado 02/08/20 23:39

Mesmo que essa seja uma obra que combine demais a sua persona, a primeira coisa que pensei ao terminar de ler que eu não esperava ver tal texto sair de você como se não combinasse... Com seu verdadeiro ser, talvez cada vez mais perdida.

Quando penso em relevância sobre minha vida perante tudo/mundo, eu não consigo evitar a verdade de que não sou significante. Quer dizer, meus amigos teriam conhecido outra pessoa ou talvez não mas não teria falta... Pensando bem por que alguém sentiria minha falta?

Você só senti algo quando este causa uma reação em vossa pessoa, por isso, posso dizer que mesmo a pessoa mais distante de mim que viu ou sabe dá minha existência sentiria mesmo que um pouco um sentimento sem nome (que alguns chamam de dó)...

Então, término questionando o que eu poderia chamar de relevante?

Fico tão feliz vem ler novamente um textos seu e espero muito ler muito mais, ꒰⑅ᵕ༚ᵕ꒱˖♡

Sem querer espalhar mais da minha bagunçada mente término agradecendo por compartilhar sua obra, parabéns por conseguir expressar em palavras teus pensamentos.

Assinado alguém que aceitou o fato de ser inútil, <3

Postado 04/08/20 00:28

Pelo visto partilhamos mais impressões/questionamentos sobre nós mesmos do que gostaríamos, não é mesmo, Guro-chan...?

Eu queria ter boas palavras para a senhorita, mas como poderia, se elas faltam para mim tambêm?

Muitíssimo obrigado... E sinto muito...

Postado 04/08/20 01:18

Eu não preciso de respostas por hora, só dessa explendida sinceridade e coragem em assumir essa carência; obrigado, não sabe como fico bem em saber que tenho você para partilhar questões, ahhaha!

(つ≧▽≦)つ

Postado 03/08/20 11:46

Caramba, sensacional ver o quanto sua escrita mudou conforme esses anos passaram, mas toda sua genialidade se mantém intacta. Pessoalmente me identifiquei com o texto, sinto essa dor com certa constância, mas no meu caso eu aprendi a ignorar. Como dizia o poeta, segue o baile rs

Habemus Diablair nesse site mais uma vez!

Postado 04/08/20 00:35

Jovem Poder... Quanto, mas quanto tempo... E nem um dia sequer que eu a tenha esquecido, embora tenha me distanciado.

Se uma mulher espetacular como você se sente assim... Estou certo em cada reflexão e sentimento nesta obra.

E perdido também...

Muitíssimo obrigado por ressurgir do Hell para iluminar por um momento esta tenebrosidade com sua presença e palavras!

Habemus Semper Dig Dig Joy!

Postado 06/08/20 17:54

tbm não esqueci <3

Postado 25/08/20 18:19

Não existir deve ser uma benção, uma paz, um deleite tão inimaginável, que eu não saberia descrever, no final, a gente só vive para que as pessoas criem expectativas sobre nós - e nós, naturalmente, quebramos e jogamos fora essas expectativas - então nos tornamos maus... Será? O que nos faz sentir assim? Sentir todo esse caos, toda essa esfera de terror, de morte eminente?

Sua obra, meu caro Hulder, é como uma locução em minha mente, tão visceral, real, palpável em minha realidade... Fico triste por não ser a única a pensar desta forma e viver com estas constatações, mas, de forma egoísta, me sinto reconfortada por - por meio da arte, em geral - encontrar pessoas que sintam o mesmo.

E a gente vive, mais uma vez, para não querer se sentir sozinho.

Eu ficaria horas devagando aqui, fazendo tudo isso ficar ainda mais triste - e nem sei se estou comentando coisa com coisa.

Mas, agradeço por você ter voltado para ficar! Você faz uma falta que nem imagina! Obrigada pelo presente que é, ler uma obra sua!

Postado 26/08/20 21:26

Sabes agora o que penso e sinto acerca do que disseste, Huldra... Então somente deixo aqui o meu sincero agradecimento e o meu mais profundo pesar...

Postado 04/10/20 15:35 Editado 04/10/20 15:40

Seu texto reflete aspectos profundos que sempre hão de assolar a alma humana, principalmente em períodos mais depressivos...

Quem nunca questionou o sentido da própria vida ou as marcas de sua existência na história?!

As pessoas mais simples simplesmente vivem e gozam do prazer de cada dia com alegria e gratidão sem se importar tanto com os aspectos filosóficos da vida, isso é tudo e isso lhes basta...

Como alguém já disse "A ignorância é uma bênção!" e em muitos aspectos isso é uma verdade! Já dizia o sábio Salomão que o muito saber e conhecer traz canseira e enfado e também é correr atrás do vento...

Em suma, realmente não compensa buscar um sentido altamente majestoso para a vida, mesmo porquê, em nosso íntimo sabemos que todos têm um certo quê de insignificância.

Importante mesmo é sentir a vida com tudo o que se é, viver, amar, servir, gozar pequenos e belos prazeres a cada dia e com todo o ser, pois de pequenas coisinhas são feitas as felicidades duradouras, que no final dos dias poderão trazer real sentido ao que se viveu.

Pense menos, filósofe menos, reclame menos.

Viva mais, sirva mais, agradeça mais e ame com todo o seu ser! Quem sabe aí se encontre o sentido de viver?!

Novamente me perdendo nas indagações que seus textos instigam...

Parabéns pela importante obra e espero de todo coração que seus pensamentos encontrem caminhos mais simples e prazerosos.

Viva bem!

Postado 04/10/20 21:26

Ah, Srta Monise... Quão imensa e radiante consegue ser a luminosidade de sua essência! Quisera eu poder fazer de fato o que me sugere! Mas, infelizmente, eu me conheço bem. Ao menos, neste aspecto...

Mesmo agora, com o advento da Mei tão presente e importante... Quantas vezes... Quantas vezes...?

Perdoe-me. Eu realmente sinto muito por esta resposta...

Muitíssimo obrigado por prestigiar mais uma obra minha com sua leitura e feedback sempre espetaculares! Gratíssimo! Gratíssimo!