Heróis e vilões: arquétipos do Romantismo Moderno. (Terminado)
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Tipo: Romance ou Novela
Postado: 21/07/20 18:10
Editado: 29/08/23 05:19
Qtd. de Capítulos: 1
Cap. Postado: 21/07/20 18:10
Cap. Editado: 29/08/23 05:19
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Heróis e vilões: arquétipos do Romantismo Moderno.
Capítulo Único Heróis e vilões: arquétipos do Romantismo Moderno.

Por: Caique

Iniciaremos este conto buscando situar o leitor sobre as suas origens, contaremos a história de um rapaz chamado Arthur, nascido em 30/04/1989, carioquinha da gema, amante das praias, com os seus 1,57m de altura, a mesma que Immanuel Kant, diga-se de passagem, o que era bradado por ele o tempo inteiro, apaixonado por filosofia e graduado na área pela UERJ. Muito feliz e prestativo com os seus amigos, inclusive, certa feita me ajudou bastante a sair de uma depressão indecorosa. Em suma, foi uma pessoa incrível e questionadora por essência, como não poderia deixar de ser, pois a filosofia corria dentro de suas veias, pulsando ininterruptamente, sempre visando a alcançar as mais profundas perguntas que brotavam de nosso tempo.

Eu que vos falo, serei o narrador e editor do conto. Meu nome é Caique e conheci apenas um pouco o personagem principal da trama, nos basearemos em relatos mais fidedignos de amigos em comum e em seu diário que, por ironia do destino, veio parar em minhas mãos, transcreveremos literalmente quase tudo o que estiver rascunhado, reconstituindo e sistematizando a história com base nos fatos disponíveis. Evidentemente que faremos algumas análises destes episódios utilizando juízos de valores inerentes a quem vos apresenta este enredo. Comentaremos e complementaremos os trechos com as nossas opiniões. Caberá ao leitor tentar distinguir o fino liame entre o que há de real ou fantasioso, ou até, em última instância, se há a existência ou não de tal icônico personagem.

Para resumir, a história de Arthur, que se passou em 2013, é basicamente a mesma de milhões de jovens pelo mundo afora, desiludido e sofrendo por amor, enamorou-se de uma bela morena carioca, o nome dela era Jennifer e tinha à época resplandecido apenas em 23 verões. Após o fim do relacionamento de 3 anos, iniciado em 2010, ele perdeu as estribeiras, ficou sem chão, sem prumo e rumo, abatido, o antigo Arthur sorridente, deu lugar ao novo, cabisbaixo e sempre com aparência de pura tristeza. As dúvidas não eram mais quanto ao mundo, mas sim, referentes a ele mesmo enquanto indivíduo, questionou-se sobre o seu caráter e assumiu todos os erros possíveis e impossíveis, colocando-se como o único e principal causador do término da relação, não se sabe ainda se com razão ou não, pois é difícil imaginar que apenas uma pessoa seja a culpada de 100% dos problemas em um namoro interrompido, ainda mais em se tratando de Arthur, um jovem que sempre demonstrou enorme retidão e amor ao próximo, pelo menos foram essas as impressões iniciais que tive do mesmo nos poucos momentos em que estivemos juntos. Mas, não estamos aqui para contrariar frontalmente o personagem, até mesmo pelo fato de não termos ciência da totalidade dos acontecimentos, seriamos levianos se o fizéssemos.

O inconteste é que ele se martirizou durante muito tempo, colocando em suas costas toda a carga e a dor provenientes do rompimento, a culpa é muito forte e latente em seus escritos, podemos visualizar essa questão de maneira imediata, a flagelação está presente a todo instante, talvez por isto, como era de conhecimento geral, ele adorava as histórias de Cristo, o deixar-se vilipendiar na condição de vítima lhe trazia uma moral elevada, uma espécie de “autofobia” em que o medo e o resultado do isolamento eram creditados a si mesmo, quando apanhava em um lado do rosto dava com gosto a outra face para ser atacada. E mais ainda quando era ele próprio que se destruía internamente, provavelmente nem a crucificação lhe seria suficiente, pelo que indicam as suas letras frias grafadas nos papéis quentes que as receberam em bom grado. Sem mais delongas, trataremos agora de iniciar as transcrições dos rascunhos contidos no diário do jovem Arthur que tinha apenas 24 anos à época narrada, com os nossos devidos comentários pós-trechos quando necessários para recompor, deslindar ou avaliar as citações.

09/09/2013: “Hoje começo o meu tratamento contra a insônia e a ansiedade, com medicações e acompanhamento profissional, espero que ocorram melhoras. Também comecei a reler o gigante Alemão Goethe. Pretendo terminar a releitura de um dos seus livros até o final desta semana. Precisei voltar para a literatura, pois necessito me ocupar com coisas leves e prazerosas. Talvez eu possa até adquirir novos livros ao final do mês, este é um dos meus principais objetivos, pelo fato de que toda esta situação me gerou crises de ansiedade enormes, praticamente passei o dia inteiro deitado, tremendo. Assuntos que certamente irei tratar na consulta psicológica de amanhã.”.

Observa-se no primeiro trecho que o personagem já sente fortes emoções com tudo o que estava passando e nem mesmo consegue citar para si mesmo o que ocorreu, refere-se sempre a algo genérico como “situação” mesmo sabendo que somente um indivíduo leria tais linhas. Mas, apesar disto, ele tem uma tomada de consciência do processo e busca todos os meios possíveis para melhorar, dizendo que espera por essa melhora. Fica notório, também, que além de ser um adorador da filosofia, ama a literatura, traços fundamentais para que haja uma concepção mais aproximada da sua personalidade.

11/09/2013: “Ontem, na primeira consulta com a psicóloga, conversamos sobre algumas coisas desagradáveis e voltei a ter crise de ansiedade no restante do dia. Acredito que existam situações em que eu não consiga nem falar para que não fiquem o tempo inteiro na minha cabeça e me façam chorar, evito tocar em determinados assuntos, eles são extremamente nocivos para mim. É como se eu tivesse que fazer uma censura prévia de tudo o que eu posso comentar em conversas. Aplico-me um processo em que nem eu mesmo sei quais são as verdadeiras acusações impostas ao réu, a leitura de Kafka deve ter me contaminado, maldito seja. Após a consulta, fui a um restaurante almoçar a comida que mais gosto: frango grelhado com salada, acompanhado de uma geladíssima Pepsi. Depois passei na livraria e aproveitei para comprar três livros.”.

Está evidente que o quadro de Arthur piorou muito em apenas 2 dias entre as anotações, inclusive, falar sobre o assunto o faz decair muito mais. Entretanto, acabou se agarrando de vez na literatura, que seria o seu refúgio dali em diante. Alguns gostos pessoais ficaram expostos, o que facilitou ainda mais a nossa imaginação de como seriam os hábitos mais específicos do dito cujo, até mesmo no que concerne à culinária.

12/09/2013: “A releitura de “Os sofrimentos do Jovem Werther” tem me assustado. Na primeira vez que li, no começo do ano, achei muito abstrato, exagerado e fora da realidade, apesar de ter considerado o texto poeticamente bonito e estruturalmente muito bem elaborado, especialmente pelo autor Alemão ter apenas 24 anos quando da publicação. Mas, nesta segunda leitura, devido às minhas circunstâncias atuais, estou me sentindo o próprio protagonista, como se estivesse inteiramente dentro da obra. Aquilo que no primeiro momento pareceu-me um delírio subjetivista, hoje é exatamente o que estou sentindo, coisas da vida. Apesar de me sentir parte integrante da obra, obviamente que não terei o mesmo fim de Werther. Sobre o dia de hoje, algumas outras coisas me preocupam, tive um mal-estar mais cedo acompanhado de uma crise de ansiedade, com isso, lá se vão mais de três dias seguidos com crises contínuas.”.

Segue prosperando o agravamento de seu quadro, percebe-se facilmente este movimento, especialmente, os leitores assíduos de Goethe, como é o caso do simplório narrador deste conto. Aqueles que conhecem o início, o desenvolvimento e o fim da história de “Os sofrimentos do Jovem Werther”, certamente ficarão temerosos ao lerem estas analogias feitas por Arthur, entre ele e Werther. A luz vermelha se acende e assusta a todos. Agora, eu é que começo a ter as citadas tremedeiras. Mas, deixemos de emitir tantas opiniões e vamos trazer mais trechos para não quebrar a linha de raciocínio dos leitores, ou apenas, leitor, pois assim como Arthur, acredito que somente eu lerei isto.

13/09/2013: “Os remédios que me foram ministrados pelo Dr. Alfredo estão se mostrando muito leves e fracos, não são suficientes nem para dormir tranquilamente ou para conseguir realizar as tarefas orgânicas mais elementares da vida de um ser humano, como se alimentar regularmente, mas, apesar de tudo, ajudaram um pouco na tentativa de estabilização, mesmo que não na medida necessária. Também sei que estamos em fase de testes com os medicamentos, não posso entrar de cabeça nos mais pesados, pois os riscos de efeitos adversos são altos, além da famosa dependência química dos fármacos psicoativos. Porém, a verdade é que a união entre as minhas crises de ansiedade atuais e a minha já tradicional insônia está resultando numa combinação explosiva. O momento é de cuidar de mim mesmo para que eu possa, porventura, ter algum suporte para ajudar as outras pessoas, no momento me falta estrutura basilar. A depressão é realmente algo assustador, nunca imaginei que eu estaria neste estado algum dia. É possível que as determinações da minha essência sejam expressas pelas coisas que tenho, como as trato e pelas minhas ações, ou seja, o objeto exterior ou o pensamento exteriorizado que me definem, assim como o ilustríssimo Honoré de Balzac caracterizou a Sra. Vauquer na fantástica obra, “O pai Goriot”. O que escrevo aqui ou em qualquer lugar sobre mim de nada vale, são apenas formalizações de abstrações infundadas. Analisem-me pelo que me rodeia.”.

16/09/2013: “Já são 04h50min, esta tem sido uma das madrugadas mais duras até aqui, os remédios já não surtem quase nenhum efeito... Oh, céus, o relógio já começa a marcar 05h40min da manhã. Finalizando por aqui, até mais tarde, pequeno e amado diário. Estou de volta, já passa do meio dia e é preciso registrar que se soma quase um mês de situação deplorável, lembrando que apenas comecei a rabiscar nesta agenda algum tempo depois dos meus baques, somente em 09/09/2013, mas, as coisas começaram ainda em agosto. Sentido algum aparece para me nortear, minha existência está completamente vazia. A única coisa que me mantém de pé é a minha vontade gigantesca de compreender esta sociedade tão desigual e injusta e o mundo como um todo, as maravilhas da natureza, desvendar tais mistérios miraculosos. Só darei o meu último suspiro ao realizar estes deveres, estou mais do que convencido disto. De um lado este carnaval, do outro...”.

Os escritos de 13/09/2013 são excepcionalmente reveladores, eles demonstram um protagonista que agoniza dentro de sua dor, assumindo-se com depressão, num prognóstico provavelmente medicinalmente leigo e sem encontrar saídas viáveis nem mesmo nos remédios, entretanto, muito mais do que isso se apontou, pois Arthur exala uma extraordinária capacidade analítica, quando consegue até mesmo se observar de forma precisa e direta, seja em seus aspectos objetivos ou subjetivos. É de causar inveja até mesmo em grandes nomes da psicanálise que, com razão, explicam não poderem analisar a si próprios, porém, apesar de Arthur alcançar precisamente tudo o que lhe ocorre, não passa de um mero diagnóstico, a receita para curar seus problemas ainda não foi encontrada nem mesmo por um pensador de tal envergadura como este que lhes apresento nestas parcas linhas. Outro detalhe deveras interessante é a conexão que ele faz entre as suas questões individuais e a coletividade. Em um momento (13/09/2013) ele diz querer se recuperar para poder ajudar os próximos, noutro (16/09/2013) evidencia que a única coisa que lhe mantém de pé e serve de base para sua existência é a perquirição incessante pela compreensão dos motivos pelos quais a nossa sociedade se apresenta como tão injusta e cruel. Arthur é um ser social, como nos alertou Aristóteles.

17/09/2013: “Meu organismo parece uma bomba relógio prestes a explodir, meu corpo está em curto-circuito, totalmente desregulado, seja lá o que isso queira dizer, talvez “vulcão em erupção” seja mais adequado para expressar-me. Vírgulas fora do lugar, erros ortográficos de todas as ordens, repetições de palavras a todo tempo e todo dia repetindo os mesmos relatos, são resultados de mais uma madrugada em claro, apesar de estar extremamente atordoado pelo cansaço, o sono não vem de jeito nenhum. Amanhã tentarei voltar a ler Goethe para finalizar nesta semana. Apesar de quê, a minha psicóloga, a senhorita Elizabeth, alertou-me que impor-me metas acaba deixando-me mais ansioso e que eu deveria deixar de estipular coisas que possivelmente eu não possa cumprir. Ela tem me ajudado bastante.”.

Não se preocupe amigo, quanto às questões das vírgulas e pontuações diversas, eu atuei no sentido de revisar os textos e incluir o que achei prudente, para que o leitor pudesse compreender corretamente as suas mensagens, pois um texto muito corrido sem pausas, além de cansar, gera diversas interpretações incorretas, então, adicionei o que consegui identificar que estava lacunar. Logicamente que ainda faltaram muitas vírgulas e pontos, não sou nenhum mestre da gramática portuguesa, aliás, passo muito longe disso. Saliento, porém, que possíveis palavras grafadas incorretamente ou repetições de frases em demasia não foram alteradas do original, o objetivo é que a história seja repassada quase que na íntegra, conforme tu quiseste passar, até mesmo nas horas dos incontáveis descontroles emocionais que levaram a repetições desnecessárias.

18/09/2013: “Devo recomeçar a leitura de Goethe hoje à tarde, já que terei consulta no turno da manhã. Uma determinada página do livro me descreve, fala sobre um terrível vácuo instaurado no peito de Werther. Se ao menos pudéssemos apertar o nosso amor contra nosso peito, preencheríamos o referido vácuo, não acha, companheiro? Em verdade, é o que dizes, eu não tenho a mesma convicção. Fui diagnosticado clinicamente com depressão, não é nenhuma novidade, já havia notado antes, porém, agora poderei tratar com acompanhamento médico da maneira devida. Temo, também, pelas pessoas e animais que amo, em especial, a minha querida cachorrinha que é um espírito absoluto Hegeliano, assim como Napoleão foi para Hegel um Weltgeist montado num cavalo, a representação da razão e o espírito do mundo. E o gatinho, ah, o gatinho, feroz e perspicaz como um trabalhador com consciência de classe, pronto para atacar e assaltar aos céus, um dia, irei domá-lo. O tempo é muito traiçoeiro e transitório, não tenho o suporte necessário para aguentar mais nenhuma perda, e sinto que este estado de coisas se aproxima assustadoramente numa velocidade insuportável. Apesar de todos os problemas de sua ontologia subjetivista, um autor alemão do século XX tinha razão quando arguia que existe uma coisa que é comum a todos nós, da qual não podemos escapar e que pode nos igualar enquanto gênero humano. Apenas uma única coisa...”.

19/09/2013: “Hoje irei almoçar na casa de familiares. Retornando, um pouco mais aliviado após uma boa tarde de resenhas.”.

21/09/2013: “Não poderei esperar até o dia primeiro para marcar o psiquiatra, preciso urgentemente de remédios mais fortes e adequados ao meu quadro clínico. Acordar cedo e não conseguir fazer nada é horrível, o dia dura muito mais tempo e, consequentemente, com isto, tenho de suportar sofrimentos por mais horas. Necessito de um remédio para dormir mais forte que possa me manter adormecido por mais tempo. Passear pela rua sem destino é um exercício bem relaxante, faz esquecer algumas preocupações e inquietações recorrentes, Elizabeth, também me indicou isto que eu já estava realizando. Sinto que devo escrever novos artigos, pois ainda não publiquei 10% do que pretendia, mas estou sem forças no momento para cumprir qualquer tarefa, o ato de sobreviver é a minha atual meta, que já é revolucionária per si, repetir palavras nunca me ocorreu, sempre evito e busco sinônimos, mas sem perceber venho sendo muito redundante. Voltando aos artigos, no momento a única coisa que eu consigo fazer quanto a este tema é revisar meus textos que já estão prontos e não foram publicados e enviar para sites ou revistas publicarem, escrever algo novo está fora de cogitação, ao menos, num futuro próximo. Também é uma pena que o meu melhor escrito até hoje vai ficar literalmente para a crítica roedora dos ratos, em algum armário empoeirado de quem o recebeu como presente, qual seja, a pessoa que mais amei neste mundo.”.

22/09/2013: “Você é pequena em estatura, mas, grande em espírito, Jennifer. O que estou me referindo aqui são aqueles atributos que lhe dão ainda mais singularidade e, por isso, maior grandiosidade. O que me causou mais assombro e perplexidade, foi a sua capacidade de indignação, talvez tenha sido este o principal motivo de eu ter me interessado por conhecer melhor você ainda no movimento estudantil da UERJ. Aquela indignação feroz e viva, pulsante, contra o desmonte dos direitos dos estudantes. Na verdade, o que eu queria proferir é que muitas vezes perdemos aquele sentimento mais forte sobre as dores do mundo, de tal sorte que já estamos mecanicamente convencidos de que necessitamos de uma transformação social, então, mergulhamo-nos profundamente nas teorias para buscarmos determinadas formas de compreensão da realidade e de como alterá-la, saindo um pouco das peculiaridades das expressões fornecidas pelas sensações, sabemos e temos certeza de todas as mazelas sociais e, por isso, acabamos em determinados momentos não prestando atenção no colocar-se no lugar do outro para apreender toda aquela carga sentimental. E esta movimentação de se colocar no lugar de outrem, você nunca deixou de fazer. É sobre isso que comentei, naquele período aflorou-se muito mais a minha carga emocional e o meu desprezo para com as injustiças se reacendeu mais forte do que nunca, não me dou o direito de cansar da luta e você sempre me ajudou nisto, me mostrando a cada dia mais que o “humanismo” não pode se esvair nas letras geladas dos livros ou da prática desmotivada. É admirável a forma como você entra em estado de fúria ao presenciar qualquer injustiça. Pergunto-me incessantemente, sentado de pernas cruzadas e com o meu violão sobre elas: onde está você agora?”.

Nestas anotações, Arthur comprova o que dissemos antes, a sua enorme consciência do que ocorre consigo mesmo, ele já havia previsto a depressão muito antes do acompanhamento médico e agora tudo o que ele alertava começa a se confirmar. Seu lado social apresenta-se com força novamente, colocando a importância dos seus familiares e animais de estimação acima dele próprio, em suma, parece-me que o seu maior medo é a perda de quem ele nutre afeto, ou a dor que sentiriam se algo acontecesse com ele. A mudança de humor, entre os dias 19 e 21, foi muito estranha e brusca, infelizmente não tivemos acesso ao que ocorreu nesse espaço de tempo. Ele se preocupa demais com os seus textos ainda não publicados, como se pensasse que tinha pouquíssimo tempo de vida e não poderia retomá-los. E, finalmente, o nosso protagonista pôde falar a si mesmo sobre a sua amada, com belíssimas características atribuídas a ela. Não tive a oportunidade de ser amigo de Jennifer, mas pelo que Arthur sempre me contou, ele sempre a compreendeu como a sua alma gêmea, portanto, concluímos que por ser ele um grande pensador, ela, também, deveria ter sido uma grande mulher, intelectual e amorosa. Quando comentava sobre ela entrava em catarse estética.

23/09/2013: “O sábado foi um dos dias mais angustiantes que tive. Se ainda escrevo nesta nova data é justo afirmar que nada me acontecerá após passar aquele dia inteiro chorando e sofrendo. Estou literalmente indo até a ladeira da misericórdia, a primeira Rua do Rio, aberta em 1567, para refletir sobre os meus erros. Conversar comigo mesmo nestes papéis traz distração, pretendo continuar por um bom tempo, ao terminarem as folhas em branco da agenda, terei de arrumar um fim para isto, talvez a lata de lixo seja o mais apropriado, pois quero evitar que cheguem em mãos erradas, neste momento seriamos literais quanto aos ratos, não sendo da ordem dos roedores.”.

24/09/2013: “É verdade, meu caro Goethe, a luta atual é muito mais difícil e dolorosa, nos seus dizeres “angustiosa”, do que a luta contra os males que fizeram ela aparecer. Sabemos que ela poderia cessar rapidamente, mas as questões do nosso tempo impedem tal feito, ao menos para indivíduos como eu, a derrota nesta luta, em específico, não parece poder me ser ofertada nos horizontes que vislumbro, não na realidade que ainda teima em existir ao meu redor. Será que eu serei mais um Werther? Ou um Guilherme? Embora os dois tenham sido a mesma pessoa na vida real, na literatura o desfecho de cada um foi diferente, Goethe viveu e terminou mostrando toda a sua genialidade estética ao mundo após o livro de 1774, produziu o grandiosíssimo Fausto, entre outros. Estou muito longe da sua capacidade intelectual.”.

26/09/2013: “Acabou a tinta da caneta, preciso urgentemente comprar outra, pois desabafar aqui tem sido minha sobrevida. Falta pouco mais de um mês para uma palestra sobre Filosofia que darei na UERJ, isto tem sido assustador, pois não tenho condições, no momento, de palestrar nada em lugar algum, espero que até lá eu possa melhorar um pouco para cumprir esta tarefa importantíssima, pois se tenho o objetivo de transmitir conhecimento e consciência social para as pessoas, tenho de colocar esta tarefa coletiva acima das minhas dores individuais. Apenas agora reparei que Goethe tinha a mesma idade que eu, 24 anos, ao escrever sobre Werther, mais uma coincidência nefasta reservada para mim pelo destino. Mas, convicto estou de que não chegaremos além desta. Felizmente ou infelizmente, pois a minha identificação com Werther, parece-me, além de poeticamente lindíssima, também, profeticamente parecida...”.

No dia 23, ele parece totalmente convencido de que havia chegado ao fundo do poço e já que conseguiu passar pelo último sábado em vida, nada mais poderia abalar a sua estima e nem mesmo o derrotar. Foi um bom sinal de ânimo para todos nós, pois indicava que a sua resistência estava em alta pelas dores ocorridas, em uma analogia seria como um organismo que já se acostumou com os intrusos e pôde criar anticorpos para neutralizá-los, as glicoproteínas teriam entrado em ação para que os invasores não causassem mais danos à saúde orgânica.

O que me deixou mais perplexo foi o dito ao final, Arthur iria queimar este diário, pois queria que ninguém pudesse ler isto e saber das suas circunstâncias acachapantes. Eu realmente, no primeiro momento, não entendi qual a motivação dele mesmo ter providenciado que estes escritos chegassem a mim, foi um enorme enigma que demorei muito para chegar perto de decifrar. Só que comecei a perceber que Arthur sempre teve uma escrita muito parecida com a minha, inclusive, ao ler seus rascunhos estou tendo que evitar alguns vícios linguísticos que adquiri dele, para que não se confunda a sua grafia com a do narrador, ademais, nós sempre gostamos de estudar filosofia e debatíamos muito via internet. É verdade que nos encontramos poucas vezes presencialmente e, justamente por isto, não viramos grandes amigos, mas nas redes sociais mantínhamos contato quase que diariamente. Conclui que essa aproximação teórico-metodológica tenha feito com que ele preferisse legar a mim a sistematização deste conto e não a amigos mais próximos dele do Rio de Janeiro, estou longe destes, pois vos falo de Salvador-BA.

Em 24/03, pelo termo “angustiante” usado, suponho estar dialogando com Goethe quando ele fala que uma harmonia no espírito de Werther havia se rompido, gerando um forte arrebatamento sobre ele e lutava com mais angustia sobre esta derivação do que contra os males que a haviam gerado. Parece-me uma referência implícita de uma luta interna entre a vida e a morte, e que esta seria muito mais dolorida do que as suas causas. É muito controversa esta minha interpretação, levando-se em conta apenas o dia 23, mas se completarmos com o 26 numa totalidade, o arranjo desabrocha. Arthur passa a estar em dúvida sobre se a sua “condição” é profeticamente igual à de Werther ou não, ou seja, se a linha do tempo e a história de ambos seriam iguais parcialmente ou totalmente.

30/09/2013: “Carlota ordenou que Werther se afastasse dela e que fosse viver a sua própria vida, conhecesse novas pessoas e depois voltasse enamorado de outra, para aí sim ter o direito de poder ter uma longa e bela amizade com ela. Queria se livrar logo dele e o fez, mas, porquê Carlota? Por que fizestes isto conosco? Tanto eu quanto Werther não estávamos preparados para este debacle, minha querida Carlota, eu não sou o Guilherme, a esta altura resta revelar que de fato eu sou o Werther, porém, o platonismo do amor inalcançável que o domina, está neste momento em combate com o meu lado Deleuzeano, no que concerne ao desejo enquanto processo material constituído no agora, no movimento real e concreto e não no futuro de forma inacessível, um entrave entre um “estar-aí” e “estar-lá-fora”. Combate severo entre o presente versus o futuro. Estar aqui ou estar lá e, estando lá, estaremos sem nada, apenas com um vazio existencial, vai significar o desejo de eliminar o presente para que o “Lá-fora” (não estou tratando de Lacan) seja impedido a priori e deixe de se constituir e vir a ser antiquado ao “dever ser” Kantiano. Esta é uma luta muito interessante, mas que somente designará um vencedor.”.

01/10/2013: “Tais duras palavras de Carlota, provavelmente tenham colocado uma pá de cal no nosso Werther. Não bastasse a recusa, ainda o tratou com indiferença, um dos piores sentimentos que poderiam se abater sobre quem ama. Será que tinha que ser assim, Carlota? Neste momento, eu queria ser o Guilherme ou até mesmo o Alberto, mas o infortúnio é tamanho que a personificação se mantém intacta. Jennifer, prazer, eu sou o jovem Werther. Alan Kardec vibra no túmulo com esta passagem de três séculos. Eu, Arthur, estou vivo. Pelo visto, nós estamos, Werther, e continuaremos por mais séculos adiante em novas reencarnações. Infelizmente, meu pai não é vendedor de flores, portanto, não aprendi a escolher meus amores.”.

Os dois últimos trechos destacados fecham o explicitado por mim sobre o dia 26, é possível que eu já estivesse predisposto a conjecturar aquilo por ter lido estes relatos em conjunto. Mas, o grande fato é que ineditamente em suas linhas, ele admite de forma integral a sua identificação com Werther, sem mais tergiversações. As análises rudimentares que fizemos podem, neste momento, alcançar um maior grau de concreticidade, saindo mais do campo meramente especulativo e abstrato.

Retomamos, neste caso, aos apontamentos de que Arthur vive nestas citações uma batalha entre querer estar vivo ou não, o assombroso é que em um instante ele está convencido de uma coisa, noutro inverte totalmente a perspectiva, num curto espaço de tempo entre os rascunhos, de um dia para o outro. Contradições e choques extremamente elevados, uma espécie de dialética viva em constante movimento. Acredito que nem mesmo lendo o “A Ciência da Lógica” de Hegel, no que concerne às “determinações do ser”, poderíamos apreender esta razão dialética tão confusa exposta pelo personagem desta trama embaraçosa. As ações e os pensamentos do nosso jovem são contradições manifestas, entrou em cena neste cenário apocalíptico um gênero de perda de parcela da consciência, sucede uma verdadeira mistura caótica entre teorias, pura “salada de frutas”, eu nunca tinha o visto falar ou escrever de maneira tão genérica sobre autores, uma confusão e entrelaçamento entre o “estar-aí” e “estar-lá-fora” alcunhados por ele. Ao ler o dia 01/10, o estado de degradação da saúde mental dele mostra-se evidente, quando pensa estar vivendo dentro dum livro, para Arthur é como se começasse a ser realmente o Werther, sofrer de suas dores, dos seus dilemas e de seu futuro. Vai acompanhando cada página do livro e comentando sobre elas sem citá-las diretamente, e respondendo-as como se fosse o personagem daquele livro. A própria Jennifer, sua ex-namorada, que seria sua noiva ao final de 2013, já é encarada como sendo a Carlota da obra de Goethe.

Algumas elucidações devem ser realizadas neste parágrafo, eu, Caique, resolvi por conta própria, e em risco, não utilizar as anotações da agenda do mês de outubro, pois a maior parte delas eram apenas repetições ou complementos do que já foi transcrito aqui, obviamente que algumas particularidades que estão expostas lá poderiam desvendar um caráter mais singular do desenvolvimento do estado deste personagem apresentado. Mas, não há nada de tão novo que altere o núcleo pavimentado e sedimentado nas páginas anteriores. Apenas cansaria um possível leitor que resiste ao fardo deste texto elaborado fragilmente por este editor, estou quase certo de que Arthur deveria ter escolhido outra pessoa para materializar e formalizar esta história. Mas, cumpriremos o seu desejo, sigamos.

Referente ao mês de novembro, ele interrompeu abruptamente as suas anotações, conforme apurado por intermédio das minhas fontes, isto se deu por motivo de falta de tempo, pois estava sobrecarregado de deveres e trabalhos neste mês. E, também, há a remota possibilidade de ter melhorado um pouco a sua situação, foi contado que ele voltou a sair com alguns de seus amigos, Moisés Junior e Luigi. Além de prosear bastante via rede social com sua amiga Carlinhas, isso, com “s” no final mesmo, não é erro ortográfico do narrador. Portanto, iremos continuar a transcrição a partir do dia em que o próprio Arthur retomou a agenda no final de novembro, deixando para trás os escritos de outubro.

25/11/2013: “Estive afastado desta agenda traiçoeira que registra meus passos, minhas derrotas e quedas, como se fossem marcas de ferro em pele que jamais poderão ser apagadas de meu corpo e alma, por estarem eternamente grafadas nestes papiros oriundos da antiguidade egípcia, uma maldição se abate sobre mim e nem mesmo quando elas forem queimar sob as chamas ardentes e indecentes do inferno de Dante poderão desaparecer, pois já viraram matéria, ganharam forma, conteúdo e substância, átomos chocando-se, no enorme vazio do meu coração. A partir do instante em que se tornou um incontornável devir o meu trabalho de alienação, ou seja, a exteriorização ao concreto de algo que está dentro de mim, os sentimentos, para estas folhas antipáticas, abnegadas e indiferentes, fiquei condenado a ser escancarado em praça pública a todos e todas, uma nova inquisição.”.

26/11/2013: “Este tempo em que me distanciei da minha segunda casa (diário) pude retornar para a minha primeira. Fui jornadear pelos matos, banhei-me nas águas do mar na praia, brinquei de construir castelos de areia, abrindo as portas para a nostalgia, visitei o cristo redentor, deliciei-me apenas ao sentir as ventanias indo e vindo balançando os meus longos cabelos, afinal, quem poderia negar que a própria natureza seria a nossa primeira casa? Não somos uma particularidade dentro dela? Nascemos pelados, sem vestimentas, apenas dentro deste Universo, sem saber ao menos o que é a cosmologia, somos um conjunto, todos nós somos a natureza, clamemos, então, exclamando: Natureza! Natureza! Natureza! Também visitei alguns amigos e papeei sem hora pra acabar, muita conversa jogada fora e, principalmente, desabafos e lamentações a mil. Mas nada disso, nada, mudou a minha situação, continuei sofrendo, não pude amar a natureza como sempre fiz, pois encontro-me incompleto, sou muito intenso e preciso estar no meu absoluto para poder apreender todas as coisas que amo neste mundo. Em verdade, voltei pior, algumas anotações serão feitas nas próximas páginas para evitar qualquer tipo de elucubração inexata. A princípio, estive a cogitar aposentar a minha caneta de uma vez por todas. Os fardos das dores individuais e, também, das coletivas, estiveram, por vezes, mais pesados na balança do que o outro lado, que seria a força de continuar carregando-os.”.

27/11/2013: “Em um último esforço, recolherei os meus artigos pendentes para publicar todos eles, darei o fôlego final para sair de dentro d’água e respirar. Ao fazer este movimento, penso em questões mais amplas que a minha insignificante vivência diante de um estado tão catastrófico. Evidentemente que não sei de onde tirar forças para tanto, estou esgotado, porém, efetuarei um esforço hercúleo para que seja possível. Se eu me deixar abater até neste aspecto, temo ter o mesmo fim que Werther. Aquela luta que ele travou durante boa parte da obra, aparece agora em minha vida mais forte do que nunca.”.

28/11/2013: “Acomete-me um vácuo entre passado e futuro, onde o presente e seu sentido não se encaixam, por isso, nunca estou no presente. Apenas existem passado e futuro. A eterna interpretação do passado com a culpa, o medo, a dor, o tormento, reintroduzidos sem cessar em uma espécie de “eterno retorno”, filosoficamente falando. E em cima desta interpretação do passado, a projeção do futuro. Qual deverá ser o futuro com base neste passado? Qual atitude deve ser tomada para o futuro, que rumo? Tendo por base o passado e a história concretizada, em que futuro será mais fácil superar esta dor? Qual o futuro que poderá encobrir este passado? O futuro que encerra a dor de uma vez por todas em termos orgânicos? O que convive com ela? Ou o que a sobrepuja, subjuga? Perguntas em demasia, mas não seria este o papel dos pensadores? Perguntas, indagações, questões, reflexões e inquietações. Estes são os dilemas. Um vácuo, uma lacuna, em que não se vive mais o presente. E o indivíduo se situa no eterno embate entre passado e futuro. Não se vive o aqui e agora, apenas se projeta o futuro fundamentado e sedimentado pelo passado. É como não se encontrar em seu próprio tempo, não estar na época que deveria. Aos poucos, o irracionalismo vai se apoderando de mim, triste fim para este jovem que sempre foi feroz na defesa da materialidade concreta. Nunca imaginei poder ser eu mesmo o Ricardo, jogador português, Quaresma, não, na verdade, o homógrafo da década de 10 do século XX. Melancólico e trágico, nosso fim, Policarpo.”.

01/12/2013: “Eu também vejo o futuro repetir o passado, meu brilhantíssimo Agenor, sei que não sou tão bom poeta quanto tu fostes, mas vislumbro um museu de grandes novidades emergindo ao mesmo modo como tu viste. No silêncio da noite eu interligo o antes, o agora e o depois, mas eu sonho dormindo, não acordado. Sobre minhas anotações anteriores: malditas repetições, passado, passado, passado, futuro, futuro, futuro, qual, qual, qual, eterno, eterno, eterno. Terei de me filiar ao que dizia um antigo ídolo da área da psicologia, se formos falar de laranjas ou maçãs, não haverá saída, iremos redizer laranja e maçãs, afinal, não estaremos teorizando sobre bananas.”.

A partir destes trechos ele já começa a conjecturar que esta agenda vá parar nas mãos de alguém, acredito que não por acaso ou coincidência do destino, mas já parecia pensar em quem seria a pessoa a quem ele entregaria a sua história. Honrado fico com a escolha, mas a tristeza me abate ao saber das minúcias da pior fase de meu amigo, os detalhes me ferem quase de morte. O seu amor à natureza floresce, todos os que tiveram contato com o Arthur sempre souberam disto, alguns o chamavam de “bicho do mato”. Outro ponto importantíssimo é que em todo momento ele faz referência a cantores famosos, a filósofos, a literatos, não posso esmiuçar aqui todas as citações indiretas que captei ou, então, passarei a escrever mais páginas que o próprio conto e, também, pelo fato de que possivelmente eu nem tenha conseguido pegar todas as referências, então só trago este alerta para que o leitor possa estar atento e ele mesmo venha a reconhecer as menções e insinuações implícitas no texto. A partir de agora, iremos intervir com menos comentários, pois a minha escrita começa a travar e estou segurando choro.

03/12/2013: “No estágio atual o que realmente importa são as modificações químicas produzidas pelos medicamentos em meu corpo. Isto tem atrasado as minhas decisões quanto ao futuro. Mas, a cada dia que passa, a ampulheta vai se esgotando, a areia continua a cair em uma velocidade estupenda, o organismo passa rapidamente a se acostumar com as alterações e vai deixando de corresponder aos estímulos dos remédios, quanto mais se desenvolve esta etapa horripilante, surgem apenas duas hipóteses, ou você dobra a aposta química e corre o severo risco da dependência por longos anos, ou decide tentar tomar o controle da situação por si mesmo, buscando o domínio da sua mente para conseguir evitar o completo e puro delírio, o que enseja uma ação deveras complexa. Infelizmente, pelo que me ocorre, pensado cá com os meus botões, apenas uma dessas hipóteses se coloca no horizonte enquanto uma tendência.”.

06/12/2013: “Estou em uma circunstância que a única coisa que eu queria era cessar toda esta dor. E ela, às vezes, diminui na medida em que se tiram os encargos das costas. Vagar alheio pelo mundo parece a melhor opção que restou, para não ter que relatar as piores... Ainda não sei qual o futuro deve responder ao meu passado, o que mereço que aconteça dada a minha trajetória até os dias de hoje, qual deve ser o meu castigo para todos os meus erros na vida e perante a Jennifer.”.

12/12/2013: “Já me decidi, finalmente se verás livres de mim, pequeno diário. Essa semana me trouxe muitos dissabores, fui injustiçado num processo que eu dava como última hipótese para sair do fundo do poço, pegaram a minha luz no fim do túnel e esmagaram ela no chão, era apenas uma lanterna, por isso quebrou-se com o choque contatual em solo. Rejeitaram minhas ideias, pois elas não cabem nesta época, descubro que não sou atemporal, estou datado, e a “era” em que eu valeria algum tostão se esgotou. Seriam os séculos XVIII, XIX, e primeira metade do XX. Neste século XXI, os humanos da “ciência” desvelaram o verdadeiro segredo da vida social. E ele era muito simples, tanto que qualquer um poderia vê-lo, menos eu, fatidicamente. O mistério é que não existem mais verdades no mundo, todas as “metanarrativas” são falsas. Apenas as particularidades importam, e todas as perspectivas estão corretas, qualquer ponto de vista deve ser considerado. E eu, um adorador confesso de Hegel, da totalidade e verdade, fui refutado completamente. Empunharam-me o dedo em riste e afirmaram que sou anticientífico e que não existiam mais verdades. Me dei por vencido, mesmo quando conjecturei que afirmar que não existem mais verdades já é por si só, colocar outra verdade em cena. A verdade atual é que as verdades desapareceram. Uma única “metanarrativa” destrói todas as outras, acreditando não ser ela mesma um produto do que crítica. Por tudo que me sucedeu neste ano, tomei a decisão de que não vale mais a pena estar vivo. Oh, venturoso Pai, levai-me para junto de ti, não aguento mais tanto martírio, já entendi que ir contra a vossa onipotência só me causará mais dores e sanções, nada posso quanto a sua onipresença, então, que me atenda o pleito de estar em sua presença!”.

13/12/2013: “A decisão mencionada ontem não é irracional. Estou completamente bem, com as minhas faculdades mentais em pleno funcionamento. E é justamente nessas condições que delibero o meu final, e a história que pude compartilhar contigo, minha velha agendinha. Vou sair com meu carro pela cidade, passando pelos lugares mais perigosos durante a madrugada e esperar que algo me aconteça, entrarei em curvas em alta velocidade e buscarei a todo o momento algum acidente. Penso desta forma para evitar a dor de meus familiares, quero partir em paz e que todos fiquem com o mesmo sentimento que eu. É necessário que todo mundo acredite que houve um acidente comigo e o acaso me levou para o precipício, a morte recitou o meu nome, e declamou, “Venha até mim, pequeno Arthur, Kant lhe espera na cabine reservada aos de 1,57m”. Nada mais, nada menos que uma mera fatalidade, inevitável, estava a curtir a noite e alguém me ceifou a vida ou um acidente ocorreu. Pronto, está feito, ponto final. Adeus!”.

E o que se apontava apenas como tendência, tornou-se realidade, Arthur perdeu completamente a vontade de continuar vivendo e partiu para a tentativa de suicídio velado, tentando engendrar um acidente provocado por ele mesmo. Perdeu o controle de si. Mas, apesar do susto, ao passar as páginas, percebemos que ainda havia algo escrito em dias posteriores a este, então, ele estava vivo. Não julgaremos as atitudes que ele tomou, deixaremos em aberto aos leitores, segue abaixo o desfecho do caso.

22/12/2013: “Dez dias depois da minha fatídica decisão, volto para informar que não logrei êxito em minha jornada, fiz de tudo, mas não deu. Entrei nos locais que achava mais perigosos e fui recebido com muita fraternidade e compaixão, tomei até cervejas com desconhecidos, vi que ali onde eu via perigo, existiam pessoas que compartilhavam amor e dor em conjunto, parecia nascer uma nova forma de sociabilidade em meio ao caos, muito mais coletiva do que individual. Dirigi em estradas esburacadas tendo tempestades hostis, entrei em curvas usando altíssima velocidade, subi em passeios, mas nada me ocorreu. Tentei me afogar no piscinão de ramos, só que a maré e as ondas me trouxeram de volta para a areia, logo eu Iemanjá? Ou Poseidon, que seja. Enfim, fiz de tudo e me foi negado passar dessa para uma melhor, ou pior, não sei ao certo. Pelos resultados fracassados, voltei atrás e não irei mais buscar o fim, deixarei a minha vida correr aleatoriamente, quem sabe assim não aconteça algo? Sinto-me como se o mundo inteiro conspirasse contra mim e eu fosse o centro do universo, mas de maneira negativa. Um ídolo diz em algum canto que as feridas do espírito se curam sem deixar cicatrizes. Já eu, digo que as feridas do passado, criam as incuráveis cicatrizes do futuro.”.

24/12/2013: "Ah, história, porquê tão bela? Por que tão feia? Benevolente precisa ser, pois nos faz e nos acorrenta ao destino e ao novo. Ah, história, porquê fazes tudo isto, minha querida amiga íntima? Por que instiga a permanência de teu imorredouro adorador dentro de seus meandros? Em seu emaranhado de teias inquebráveis e profundas, por quê? Teias estas que não são feitas de finos fios de seda, pois aracnídeo não o és. Ah, pequena história, tu já és tão grande, mesmo sendo cronologicamente tão minúscula. Entretanto, teu amigo é menor ainda, deveria deixá-lo partir, encerrar o ciclo histórico, sair do tempo-espaço, transcender e quebrar essas barreiras materiais. Serei seu eterno apreciador, mas, agora, ao lado do Pai, numa instância sem a sua mediação, inacabável, inabalável e inatingível. Usaremos relógios e não mais ampulhetas do tempo. Ah, história, não prenda em seus encantos um homem desgovernado, poupe-me do frenesi, deixe-me partir, amiga, meu período orgânico é menor do que o seu social. Ah, história, tão deslumbrante, mas ao mesmo tempo tão autoritária e voraz, encerre o suplício do seu amante, a linha do tempo precisa se esgotar em algum momento, e este chegou! Finda-se o martírio. Ah, história! Bendita seja, a história.".

25/12/2013: “Neste natal, após algumas reflexões, encontrei o melhor caminho para a minha vida, a arbitrariedade. Percebi que a lástima e a angústia que se abatem sobre este jovem, são inexoráveis. O mundo não deixou nem mesmo Arthur escolher o seu destino. Estou condenado a ser e fazer o que quiserem e planejarem por mim e para mim. Então, viverei. Mas, mudarei. Irei cortar os meus longos cabelos que já estão quase chegando aos ombros, passarei a máquina zero, jogarei minhas roupas preferidas fora, que são as azuis e pretas sem estampas e comprarei tudo colorido com estampas. Comerei comidas diferentes, irei trocar a Pepsi pela Coca-Cola. Ou seja, serei completamente diferente, visarei ao oposto de tudo aquilo que fui, pois quero enterrar todo o meu passado e o farei de todas as maneiras possíveis, até nos mínimos detalhes, no ano de 2014 renascerá outro Arthur. Se eu tivesse condições financeiras até moraria em outro país, sumiria para sempre, começaria uma nova vida totalmente do zero, com novas pessoas.”.

31/12/2013: “Após fazer todas as mudanças possíveis, o mundo me reservou uma surpresa abissal, uma volta direta ao passado, o “eu” do futuro visitando o que o “eu” anterior presenciou. Foi o seguinte, minha ex-namorada, a Jennifer, iria passar a virada de ano novo com as amigas em um local distante da casa dela, e saiu a caminho cedo para não ter erros, porém, como a realidade teima em contrariar os nossos planos e abstrações, no trajeto até lá ela acabou se perdendo e não faz a mínima ideia de onde esteja e já são quase 18h, o crepúsculo já começa a cair nos céus e, obviamente, neste instante, a coruja começa a se regozijar para alçar voo, diria um ídolo supracitado em dia anterior. Ela não conseguiu contato com ninguém e teve que me ligar pedindo ajuda, então, alçarei voo para poder resgatá-la, pois não posso permitir que nada de ruim lhe aconteça. Logo, quando tudo estiver resolvido, volto para completar o diário do dia, levarei ele comigo no porta-luvas do carro, pois pressinto fortes emoções e coisas novas a escrever. Entretanto, antes de sair deixarei um bilhete muito importante dentro da agenda. Voltei e informo que consegui levá-la ao seu destino e resgatá-la do meio da rua, foi um momento miraculosamente incrível, pedi um último beijo de despedida e ela aceitou, nos beijamos longamente como na primeira vez, parecia que tudo retornaria ao normal, mas, ao fim do beijo, ela disse que este realmente seria o derradeiro e que jamais voltaria a me ver, agradeceu profundamente pela ajuda que lhe prestei e disse que estava sabendo que eu estava rodando por aí “adoidado”, perguntou se eu achava que ela não tinha descoberto quais as minhas intenções com isso. Jennifer me conhece profundamente bem, ela soube por amigos que eu estava perambulando pelos cantos e logo associou isso à uma tentativa deliberada de que algo ocorresse comigo. Ela ordenou que nunca mais eu o fizesse, pois a culpa recairia sobre os ombros dela, iriam achar que por causa dela eu cheguei ao extremo do suicídio. Despediu-se e desceu do carro. Ela tem razão, se algo me acontecer vão creditar a ela as causas, por estarmos numa sociedade estruturalmente patriarcal, entretanto, eu havia chegado num limite em que não dava mais pra mim, ela precisava me deixar partir, pois a minha dor era terrivelmente devastadora. Quando ela desceu, eu lhe disse, te amo, eu não sei parar de te olhar, não vou parar de te olhar, eu não me canso de olhar, tchau! Despedimo-nos e eu peguei minha agendinha no porta-luvas para descrever este espetacular reencontro. Agora não largarei mais ela, irei curtir a virada de ano pairando por aí, dirigindo com ela no meu colo. Até 2014, ou seja, amanhã! Adeus!”.

Infelizmente, para todos os familiares e amigos, este foi o último escrito da vida de Arthur, o seu “adeus” foi literal e muito verdadeiro, e ele que disse em ocasião do natal que só andaria diferente dali por diante, estava, nesta data, de acordo com o relato de Jennifer, com a sua clássica camisa azul sem estampa de todos os dias, a novidade era um casaco verde para protegê-lo do frio amargante daquela terrível noite. Não há como saber com certeza o que aconteceu, pois ele estava sozinho dentro do carro, ficará a dúvida eterna se houve a intencionalidade de causá-lo ou se foi um acidente comum, o carro de Arthur vinha em alta velocidade na noite do dia 31 por uma via perigosa, derrapou em um buraco enorme, ele perdeu o controle do carro e bateu num poste, sendo arremessado para fora, já que estava sem cinto de segurança, machucando a sua cabeça no para-brisa e seu corpo inteiro no chão ao rolar desenfreadamente, vários ferimentos graves. Entretanto, mesmo que não saibamos se foi premeditado ou não, ele foi surpreendido, pois havia uma pessoa passando no local na hora e Arthur suplicou-lhe para deixá-lo morrer, o que não estava prevendo era que depois esta testemunha traria a sua versão e todos saberiam que ele quis morrer, mesmo querendo esconder isto. A pessoa que estava lá tentou ir ao seu resgate e ao chegar próxima do acidente, escutou os sussurros dele. Nós tivemos acesso às últimas palavras de Arthur, pois esta pessoa foi indiciada por omissão de socorro e teve que dar o seu depoimento, depois contou à família que não teve culpa, pois quis fazer prevalecer a vontade do defunto, embora, também não possamos ter a certeza total desta versão, pelo fato de que só haviam os dois na cena. Arthur teria supostamente lhe dito:

“Por favor, atenda ao meu suplício, deixe-me em paz, satanás, eu preciso partir, partir é preciso, pois vivia uma vida muito dolorida e sem sentido, mas agora encontrei tudo o que faltava, hoje foi o dia mais feliz da minha vida, pude rever o meu amor e beijá-la apaixonadamente, houve um retorno para a fase esplendorosa da minha trajetória, não estrague tudo, eu estou indo ao céu sem dor, sem ressentimento, encontrarei o Senhor me esperando de braços abertos, pois nenhum Pai que se preze nega o retorno de seu filho à própria casa, vá embora, sujeito, desapareça, não chame ajuda, não ligue ao resgate, lhe imploro que me deixes ir, a última cena que passará em minha mente será a do beijo em Jennifer, não faça com que eu viva mais e que a dor me retorne no futuro, me deixe morrer feliz, essa é a última oportunidade que eu tenho de falecer com a sensação de estar nas nuvens, completamente satisfeito, meus olhos lacrimejam, mas é de pleno júbilo. Adeus, Mundo! Obrigado a todos por tudo, familiares, Jennifer, Moisés, Luigi, Carlinhas, Alfredo, Elizabeth, a natureza, enfim, a todos!”

O rapaz, comovido, atendeu ao seu pedido e foi embora. Arthur continuou falando sem cessar como se estivesse delirando ao desfalecer, agonizando segurava uma agenda preta nas mãos, pressionando-a aos seus peitos. Essa segue sendo a última imagem que temos dele, pois, misteriosamente, ao cair da madrugada, uma ambulância de resgate que estava indo ao encontro de outro acidente ali perto na virada de ano, passou pelo local e apenas viu muito sangue esparramado pelo chão e o carro em choque com o poste. Ligaram para a polícia que veio realizar a perícia, viu que o carro estava no nome de Arthur e, também, encontrou a única testemunha do acontecido pelas proximidades. Até os dias de hoje, sempre foi um grande enigma o sumiço de seu corpo, mas, somente a mãe de Arthur ainda acredita que há alguma possibilidade de ele ter escapado com vida, pois ela é muito religiosa e não perde as esperanças. Mas, eu, após a leitura desta agenda, se já não tinha dúvidas, agora estou ainda mais convicto de que ele nos deixou naquela noite. Pois, escreveu em várias oportunidades que queria se matar e isso coincidiu com o depoimento da testemunha, se o próprio Arthur estava suplicando para morrer, não adiantaria de nada a pessoa que retirou o corpo dele de lá tentar salvá-lo, pois ele se suicidaria na primeira oportunidade. Além do mais, a família rodou todas as unidades médicas da cidade naquela noite, se alguma boa alma o tivesse levado ao socorro nós saberíamos. Acredito até que a mãe ainda continue tendo fé, pois é possível que ela nem saiba de tudo que o filho escreveu. Iremos transcrever agora o bilhete que Arthur colocou dentro de sua agenda antes de sair no trágico dia 31 de dezembro de 2013:

“Querido amigo, Caique, se este bilhete lhe chega às mãos quer dizer que eu não estou mais neste mundo, fui ver meu Pai de perto, que tu cético não acreditas existir. Escrevo-lhe estas linhas para pedir um favor a ti, por nós termos proximidades teóricas, você será o mais capacitado para a tarefa que irei lhe atribuir, quero que escreva um conto sobre tudo o que está nesta agenda, eu já havia providenciado que um terceiro a levasse até você, caso eu viesse a falecer. Mas, antes, peço outra coisa, troque meu nome no conto e coloque como Arthur, pois era o nome que eu iria dar ao meu filho com minha ex-namorada. Somente eu e ela sabíamos desta informação, preste esta homenagem ao filho que não pude ter. Além disso, troque as datas das anotações e dos acontecimentos, coloque que ocorreu em algum ano qualquer para que não relacionem à minha morte. E, por fim, troque o nome dela para Jennifer, pois seria o nome de nossa filha e, também, pelo fato de que eu não quero que descubram a sua identidade real para que não recaia sobre ela o meu fim. Sobre o título do conto, acho que cairia bem: Os sofrimentos do Jovem Arthur. Peço isto, para que este possível conto sirva de lição para muitos que venham a sofrer do mesmo problema que eu, procurem ajuda enquanto há tempo, pois quando o quadro evolui, não tem mais escapatória. Sei que conseguirá realizar tudo o que lhe pedi, mas faça o máximo para que não identifiquem-me, não quero que isto se transforme numa narrativa unilateral e enviesada, contemplando apenas um indivíduo, como conversávamos em nossos calorosos debates literários sobre Dom Casmurro, preserve a memória destes anos e não deixe que me transformem em um Bento Santiago, mas, desta vez, sem a genialidade do seu autor. Forte abraço, de seu eterno admirador teórico. Encontrar-lhe-ei no céu quando chegar a hora, mesmo que não creias! Ass: ******.”.

Bom, então, chegamos ao final do conto com a traumática morte de nosso personagem principal. Agradeço muito a “Arthur” por ter me confidenciado algo tão pessoal, por isso, fiz 90% do que ele me solicitou, porém, apesar de nós dois termos sido fãs de Goethe, resolvi contrariar meu amigo apenas no que concerne ao título do texto. Da forma como Arthur se foi, acredito que ele nos mostra um diferente arquétipo para o romantismo. Terá sido ele um herói ao estilo romântico? Dando tudo, até a sua vida pela pessoa amada? Ou por ter sido corajoso demais ao ponto de sempre buscar tentar tirar sua própria vida, não temendo nem a morte, um dos principais temores dos seres humanos? Ou por ter pensado em todos os que ficariam e ter orquestrado todo um plano para que pudesse se suicidar sem que ninguém soubesse que seria este o caso, mas sim uma mera fatalidade, para que ninguém sofresse mais do que deveria? Ou até mesmo pode ter planejado com o terceiro que ele disse que me entregaria o bilhete para dar um sumiço no corpo dele, para ninguém ter que vê-lo morto, cravando aquela cena em suas mentes para o resto da vida e, também, para que alguns ainda nutrissem a esperança de que ele estivesse vivo. Ou seria ele um vilão? Por ter deixado de uma forma ou de outra, sua família e seus amigos para trás? Por ter cometido tal ato e ter jogado nas costas de “Jennifer” toda a dor da perda, fazendo ela se sentir culpada por ele ter chegado àquele ponto, pelo término do relacionamento e pelo desprezo em que o tratou após o fato? Ou por tentar causar um acidente de trânsito que por negligência poderia até mesmo ter ceifado a vida de um terceiro inocente que viesse a colidir com o carro dele?

São muitas as hipóteses possíveis, mas o que eu acredito mesmo é que “Arthur” morreu apenas por amar demais, amou demais à Jennifer, aos seus amigos, à natureza, à sua família, amou aos seres humanos em geral, e por não conseguir mais desfrutar plenamente destes amores, por estar sofrendo de depressão e pela desigualdade social que afligia os seus companheiros de espécie, ele acabou querendo não viver mais, não pelo fato de odiar a todos, e sim por não lhe ser permitido amá-los como desejava. De tal sorte que, estou convencido de que o “Jovem Arthur”, não foi nem herói e nem vilão, talvez tenha sido os dois ao mesmo tempo, contraditório igual à realidade, nem forte por ter coragem de se matar, muito menos fraco por ter cedido aos desígnios das dores emocionais. Um dialético.

Ele nos trouxe um novo paradigma, o arquétipo humano, é exatamente isto que estão lendo, “Arthur”, foi apenas um humano, demasiadamente, humano. Com seus defeitos e qualidades, erros e acertos. E nos deixou este enorme paradoxo irresolvido, além de trazer à baila a importante discussão sobre a depressão que vem assolando de forma aguda a humanidade neste século, provavelmente pela decadência das nossas estruturas sociais e o esfacelamento das relações interpessoais, precisamos refletir muito sobre tais problemáticas postas. Enfim, despeço-me trazendo um elemento peculiar da trama, esta agenda ainda com as manchas de sangue chegou nas minhas mãos exatamente 6 anos após a morte de “Arthur”, na data 31/12/2019, justamente quando padeço de dor parecida que a dele, o amor. Coincidências do destino.

Que “Arthur” possa finalmente descansar em paz, tenho certeza que ele está cuidando de nós onde quer que esteja, aproveito para pedir-lhe as minhas mais sinceras desculpas, meu amigo, por não ter confeccionado o conto como você gostaria se estivesse entre nós, estas insuficientes linhas apresentam apenas uma fraquíssima exposição, entretanto, o fiz de coração e dentro das minhas limitações, por isso, espero que tenha gostado. Adeus!

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Comentários (1)
Postado 21/07/20 19:20

Bela obra, escritos e questionamentos. É bem assim que nos sentimos as vezes

Postado 22/07/20 00:45

Muito obrigado pelos elogios. Às vezes a angustia é sufocante e deve ser liberada em forma de desabafo, nada melhor do que as ferramentas belíssimas que a literatura nos fornece para isto. Esta novela/romance foi escrita em dezembro de 2019. Imagine neste cenário de pandemia como não estaria o "Jovem Arthur"? Outras reflexões necessárias...

Postado 22/07/20 08:14

Sim, sim..reflexões são sempre necessárias para encontrar um equilíbrio em meio a situação. Agradeço sua obra.

O último Belmomt