Uma longa cabeleira negra se enquadrava na visão de César e enquanto ela se virava ele ouvia sua voz estupidamente convidativa.
— Eu sempre esperei você. — no entanto quando a jovem terminou de se virar, o jovem acordou. Acordou três ou quatro palmos acima do seu colchão.
— Droga!
Ele gritou caindo e quebrando o frágil estrado da cama, porém uma voz lhe chamou: — César o que foi isso?! — era seu avô que acabara de entrar em casa.
— Nada! — César respondia. — Está tudo bem! Eu vou sair daqui a pouco vovô.
— Procurar emprego? — o avô perguntava ignorando o fato do neto ainda caído.
Minutos depois de tomar café e se arrumar, César subiu até o telhado de seu prédio colocou sua roupa de mergulhador e disse: — Passagem poupada!
O garoto saiu voando como se fosse à coisa mais normal do mundo: — Centro do Rio de Janeiro ai vou eu! — sua velocidade era bem alta.
No trajeto, de uma hora para outra uma fisgada na cabeça e memórias desconhecidas o fizeram entrar em queda livre.
— Tomem cuidado e não demorem! Está escurecendo mais cedo que o normal!
Uma mãe avisava para seus dois filhos, um garotinho e uma jovem morena de lindos olhos esmeralda: — O que é isso?! — César perguntava-se.
Os irmãos foram até um lago não tão longe, mas algo inesperado aconteceu. O menino estava em pé no gelo, que rachava e trincava ao menor sinal de movimento.
— Calma Bruno. — Rebeca estendia as palmas das duas mãos para ele, enquanto estava descalça e tentava se aproximar.
A cada tentativa de avançar da garota, ela só ouvia o sombrio barulho do rachar do gelo.
— Eu não quero morrer. — Bruno comentava olhando para o chão.
— Confia na sua irmã, você não vai morrer. Eu tenho um plano.
Rebeca fazia sinal de mãos para ele erguer à cabeça, enquanto engatinhava para alcançar um galho em forma de interrogação.
— Irmã o que va...
Bruno foi interrompido ao ver Rebeca saltar e usar o galho para puxá-lo bruscamente, ambos caíram no gelo, mas a verdade era que ele estava salvo.
— Viu! Eu falei que ia te salvar. — Rebeca comentava vendo o sorriso do irmão.
Ela não se deu conta do barulho familiar que ouvira e continuou: — Agora vamos para cas...
A jovem foi interrompida, pôs o gelo se partiu onde ela estava caída e as últimas palavras que ouviu foram os gritos de Bruno: — Não! Rebeca!
César por sua vez sem conseguir corrigir o vôo, mergulhou nas turvas águas de Baia de Guanabara, sem cerimônia alguma.
Cinco segundos depois ele saiu voando e gritando: — Que nojo! Eu vou acabar ganhando uma mutação, por cair... — ele interrompeu-se para rir enquanto parava no ar.
— Acho que eu já virei! — o garoto continuou rindo, até que arregalou os olhos e voltou-se para trás. — Rebeca!
Ele via um hospital perto de onde estava e flutuava calmamente até lá: — Como você veio até aqui?
O herói que salvou um ônibus certa vez, passeava flutuando pelos corredores do hospital. Até achar um leito em particular.
Nele, estava uma morena de cabelos ondulados e sardas que acompanhavam o desenho de seu rosto. Era a irmã de Bruno, Rebeca.
Vingador pousou ao lado da cama e perguntou: — Como eu vim parar aqui?
— Não faça isso! — um médico pedia olhando-o bem perto da paciente.
— Ela está viva! — Vingador retrucava e sua ação motora foi esbarrar na mão da garota, mesmo que involuntariamente.
— Eu sempre esperei você.
Ao encarar os olhos esmeraldas de Rebeca, César recordava-se do sonho e por fim indagou: — Aquilo era um chamado?
Ele ignorava o fato de não ver mais o médico, enquanto ouvia a resposta: — Sim, César eu sou como você uma mutante. Eu tive muita sorte, de você descobrir os poderes.
— Como assim? — o herói indagava-se. — Como sabe meu nome?
— Meus poderes afloraram quando eu tinha dez anos, era pura telepatia. Quando eu cai no gelo, minha mente protegeu meu corpo.
Ele ouvia atentamente: — Meus pais me mandaram de volta para o Brasil, tudo o que eu conseguia fazer eram viagens astrais e em uma delas, eu te conheci.
— Tem um mês e meio que estou passando minhas memórias e visões para a sua mente. Assim que segurar a minha mão, vou poder sair do coma. Me ajuda herói.
César riu e disse: — Você deve ser muito mais forte do que eu e quer minha ajuda. Engraçado isso.
Ele segurou a mão da mulher e começou a gritar incansavelmente, era como se mil agulhas perfurassem seu corpo, intermitentemente.
O médico caiu de joelhos com os olhos arregalados. Não havia se passado meio segundo sequer, mas ele via a garota sair do coma e segurar a mão do herói.
— Como é possível?
Ele perguntava olhando para a máquina que indicava alterações nos sinais vitais dela.
— Eu me faço a mesma pergunta senhor. — Vingador olhava-a sorrir.
— Você é meu herói. — ela falava ainda com a voz fraca. — Eu tenho um presente para você. Quer saber como ganhou os seus poderes?
Rebeca voltava a oferecer a mão para ele e concluiu falando: — Vou acionar as memórias de quando você ainda era um bebê. Quer?
Vingador deu as costas para o médico e passou a encarar Rebeca como se realmente estivesse hipnotizado.
Momentos antes de ele responder ela sorriu como quase se já soubesse.
— Eu sou como sou e pronto. Deve ter algum motivo para eu não me lembrar disso, assim como teve para eu vir até aqui hoje. Cuide-se Rebeca e Dê um abraço no Bruno.
Apôs terminar, ele saiu voando calmamente e sua última imagem da garota, foi um belo sorriso agradecido com o contorno feito pelas sardas dela.