Ninguém é perfeito ou inteiro. Somos todos quebrados, uns mais do que outros. Alguns têm pequenas rachadelas, outros são quase um puzzle, de tão partidos que estão.
Por mais que a vida de alguém pareça perfeita, por mais felizes que, de momento, estejamos, há sempre um arranhãozinho em algum lugar. Sempre.
O óbvio seria gostar de algo mais inteiro do que quebrado. Porque, convenhamos, é muito mais simples e fácil e racional gostar de algo que terá mais probabilidade de nos fazer feliz do que algo que, ao que tudo indica, só nos vai magoar.
Parece óbvio.
Mas não.
O que é que, sempre — sempre — me cativa? Me chama a atenção? Me faz querer dar-lhe um mundo e o outro?
Pessoas quebradas. Pessoas tão, mas tão, partidas que um pedaço delas provavelmente rolou para debaixo do sofá e nunca mais vai voltar ao sítio.
Poderia existir algo de errado no meu cérebro. Mas acho que é natural do ser humano ser empático e amigo e — burro. — solidário. Se vemos alguém em apuros, queremos ajudar essa pessoa. Fazer a vida dela melhor. Pegar em super cola e tentar juntar os caquinhos.
Mas há pessoas que abusam.
(Como eu).
Se a humanidade fosse uma exposição de vasos, não haveria nenhum, com mais de três anos de fabrico, perfeito. Haveria sempre uma imperfeição algures. Por mais bonitas que fossem as rosas dentro do vaso, haveriam sempre espinhos para riscar a pintura.
Se a humanidade fosse uma exposição de vasos, eu levaria, provavelmente, o mais quebrado para casa.
Porque eu quero? Não.
Porque o vaso desperta em mim uma inexplicável atração, como se de um íman se tratasse? Sim.
Eu até sou um vaso em condições; inteiro, só com uma rachadela discreta ali e aqui. Por isso, o mais normal não seria querer um par semelhante a mim?
Pois.
Não.
Tudo porque coisas mais ou menos inteiras irão sempre querer consertar coisas mais ou menos quebradas.