No alto de uma árvore, Pedro sentia-se o mais poderoso entre os poderosos. Notou o quanto seu reino era grande, com os milhares de hectares de plantações que seus olhos alcançavam observando o horizonte. Estava certo que nada poderia tirá-lo do posto mais alto do mundo.
— Desce daí, guri.
— Não vou descer.
— Desce daí, guri! Tu vai te machucar.
— Eu sou o rei do mundo! Eu nunca vou me machucar.
— Desce daí, guri teimoso! Pode ter algum imprevisto e tu cair.
— Tu não manda em mim.
Maria pediu o divórcio. O seu casamento com João estava completamente arruinado. Muitas loucuras já tinham sido cometidas, mas nada comparável com a última atitude rude de seu esposo. Os olhos de Maria se enchiam de lagrimas ao lembrar da tarde em que chegou em casa e viu Pedro, seu filho, estirado no chão, ao lado do pé de ameixa. Um corte na testa encharcava o rosto da criança com sangue, enquanto ela gritava aos prantos com seu pai.
— Tá doendo, pai!
— Eu te disse que tu ia cair.
— Mas tu me jogou um tijolo!
— Eu te disse para tu descer dessa árvore que tu ia te machucar.
João foi embora. Nunca entendera o lado exagerado de sua mulher. O fato é que ele estava certo — afinal, seu filho se machucou. Pedro podia ser o rei do mundo, mas nenhuma realeza é imune a uma tijolada na cabeça.