O corpo de Maria está afundado no chão. Há grama em volta dos seus braços e das suas pernas. Sua pele está branca como o leite, e seus olhos se fecham suavemente. Deitada no chão, Maria dorme. Em suas pálpebras há grãos de terra, areia e cascalho. Existe mato cobrindo suas mãos, que estão enfiadas no chão macio. Com os antebraços presos no solo, Maria dorme. Sua barriga inchada está rasgada no meio, aberta. As abas de sua pele de leite pendem para o lado, e seus intestinos pretos escorrem para fora. Não há sangue, apenas o soro, bem branco como leite e como papel. Seu coração bate levinho atrás de placas de ossos que se partiram. As costelas rompidas espetam a pele de seus pulmões roxos. Com os intestinos para fora, Maria dorme. A força da terra puxa seus pés para dentro e os afunda na grama e no mato. Seu joelho está quebrado. As veias azuis de suas coxas leitosas saltam para fora. Elas pulsam lento, com o soro branco e gelado dentro delas. A mandíbula dela foi arrancada. Sem mandíbula, Maria dorme.