A morte era um vazio de incertezas que, para alguém como eu, que estava acostumado com decepções, parecia bem receptivo.
Era quase impossível não se abalar pela minha imagem decrépita: meus olhos fundos não transmitem nada e, a boca seca, nada murmura. Minha pele é pálida e revestida por furos – feitas por animais que se fundiam à minha carne. Estou morrendo, pouco a pouco, venho perdendo o que considero humano.
A dúvida não cala e a resposta é sempre vazia. Afinal, será que sou humano?
Me sinto hipócrita quando me preencho de esperanças. Parece que não faço jus a mim, e no final, me torno um poço de tristeza incoerente. Contudo, logo passa. A melancolia me acompanha nos meus últimos passos e, novamente, me vejo decepcionado.
A tristeza não durará para sempre, mas sempre encararei meu futuro com melancolia. Isso enquanto eu me permitir viver, o que não será por muito tempo.