Sem Nome
Não há nada como acordar pela manhã e ver o teu rosto repousado nas almofadas brancas da nossa cama. O teu cabelo desalinhado de forma tão elegante e singela, mais parece saído de um filme, daqueles que eu gosto de ver quando não estás por casa e que gosto de manter em segredo. Espreguiçar-me nos lençóis suaves e recostar-me na cama deixando-me embalar pela fina camada de luz que cobre o quarto em tons delicados de pastel.
Não há um som que aprecie mais que o teu suspiro quando estás prestes a acordar. O teu pequeno resmungo incompreensível de quem não dormiu tudo o que tinha a dormir e apenas vira o rosto para que a luz não o incomode. Estico as pernas, cruzo-as e pego no meu pequeno bloco de anotações. Rabisco-te com riscos finos, quero apanhar a tua beleza angelical, todo adornado de branco e luzes celestiais.
Não vejo uma boa razão para acordar, se não para admirar o silêncio matinal, a fraca luz que se estende pelo quarto arrumado, a tua pele nua e docemente pigmentada com os castanhos das mais delicadas canelas e cafés do mundo. A tua barba negra que brota casualmente do teu queixo e rosto como se quisesse ser retratada pelas minhas mãos que nada mais sabem fazer se não desenhar e escrever. Não sou boa com a lida doméstica, maneiro na cozinha. Sou a desgraça dos jardins e o teu pesadelo quando decido arranjar alguma coisa dentro de casa.
A melhor coisa que existe é saber que durmo todas as noites com o homem que escolhi. Depositar a minha cabeça nos ombros dele e deixar-me embalar nas suas cantigas e baladas antigas, em línguas que desconheço e que sonho compreender. Sentir o frio anel que lhe adorna o dedo contra as minhas costas despidas e o leve barulho que a sua barba produz ao encontro das almofadas. A leve brisa que agita o espanta espíritos que pendurei à janela. As pernas dele coladas as minhas enquanto os seus pés tentam aquecer os meus dedos constantemente frios.
Descobrir todos os dias uma parte tua que não conhecia e apaixonar-me perdidamente por ela, como se não fosse a primeira vez que a via. É, amar alguém torna-nos delicadamente frágeis e perfeitamente incompreendidos.
Fecho o meu caderno, e espreguiço-me. Pousou-o na mesa de cabeceira e volto a encolher-me na cama. Puxo as cobertas para cima e fecho os olhos. Ouço-te espreguiçar, a tua mão cai na minha cintura e aproximas-te de mim. O suave toque dos teus lábios na minha testa, a tua mão quente que me afasta os cabelos da cara. Não há nada melhor que abrir os olhos e sentir-me em casa.