Conhecimento de tela
Francisco L Serafini
Tipo: Conto ou Crônica
Postado: 09/10/19 09:10
Gênero(s): Crítica Crônica
Avaliação: Não avaliado
Tempo de Leitura: 2min a 3min
Apreciadores: 2
Comentários: 2
Total de Visualizações: 780
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Palavras: 462
Livre para todos os públicos
Capítulo Único Conhecimento de tela

Tenho assistido muito vídeo no Youtube ultimamente. Tenho visto muita coisa sobre filosofia e medicina, sobre comportamento e história. Isso é muito legal, pois pareço ser um cara intelectual, que busca meios para entender melhor a si mesmo e a sociedade. No entanto, os problemas são dois: não sei se o que me dizem é verdade e não sei o quanto absorvo do que vejo.

Na tela, sempre escuto os mesmo três ou quatro especialistas, que repetem seus pontos de vistas a cada vídeo. Eles fumam cachimbo, usam camisa descolada e falam de forma clara e concisa. Certamente, se eles quisessem me vender que a terra é plana, eles fá-lo-iam. São pessoas que eu gosto do que falam e por isso sempre acabo em consumir suas ideias. Quando fujo deles, o que escuto nem sempre me agrada e eu quero sempre ser agradado.

Mas esse agrado tem que se momentâneo, pois se me pedirem o que esses caras me disseram, eu não vou saber explicar. Sei lá, parece que o que eu escuto hoje, amanhã já vai ter sido apagado para entrar o que eu vou escutar num novo vídeo. Enfim, tudo se torna superficial e por isso nada aprendo.

Começo a duvidar que buscar conhecimento em todo almoço seja a melhor coisa se fazer. Parece-me que ainda é melhor fazê-lo do que perder tempo em ver fotos de mentiras em redes sociais, mas isso não quer dizer que na busca de ser um intelectual, eu realmente me torne um. Isso é um tanto quanto desconfortável.

Quando comecei a estudar via Youtube, achei que seria capaz de salvar a humanidade, pois saberia como fazê-lo. Cara, que ledo engano. Uma, que eu não sei como fazê-lo. Duas, que saber o que fazer não é o suficiente. É só olhar para o lado e ver que o que muda o mundo são ideias seguidas de ações. Só ideia sozinha na cabeça não muda nada. E eu não faria nada além de ter ideias que não são minhas.

Não sei mais o que fazer. Um desespero dentro de mim diz que estou e estamos condenados ao fracasso. Por sua vez, um alívio diz que não é bem assim e que já fiz e fizemos muito. Esse excesso de informações confunde e desgasta. Assim, o que deveria ser feito, não é.

Assim, quero concluir que devemos rever todas as nossas atitudes. Avaliar se o que absorvemos de informações realmente nos é benéfico. A vida parece ser breve demais para perdermos tempo ao analisar tudo que é coisa e querermos salvar tudo que gente. Devemos ver se estamos em paz conosco mesmo e com nossos amigos e familiares mais próximos. Essas informações são as mais preciosas. Esse conhecimento nós vemos em nós mesmo, e não numa tela.

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Postado 27/10/19 12:34

Bah Chico, esse texto veio para finalizar, justamente, o que pensava outro dia (dentre aquelas doses de divagações que a gente se prende de vez em quando, sabe?)

Estava eu pensando em como devemos filtrar às informações ao passo que também, devemos cuidar para não querer ler e ouvir apenas o que nos convém. Voltei há sete décadas atrás, não muito longe se analisarmos a história da humanidade, e refleti em como antes a informação era algo seleto, sem muitas opções. Coisa que ironicamente hoje se inverte, e quem deve ser seleto somos nós...

Enfim, adorei o texto, o grau de dúvida que vaga pelas entrelinhas aliado ao grau de sinceridade em se questionar se encaminho-me para a esfera intelectual ou apenas sacio um desejo de ser, que acaba esquecendo tudo, depois de alguns minutos de uma mais nova distração?

Também não sei...

Postado 08/11/19 14:43

Obrigado, Ana, pelo comentário. Muito legal ver a interpretação que você teve do texto. E de fato, isso gera muita dúvida. Não sei o quanto se evoluiu ao "estudar" tudo. Pra crescer intelectualmente, é necessário fazer as coisas focadas, com profundidade, e não simplesmente ver e ouvir as mesmas coisas de sempre. É quase que dedicar a vida pra a intelectualidade. Isso é muito custoso.

Sei lá...

Postado 30/08/20 23:25 Editado 30/08/20 23:26

Seguir o caminho da intelectualidade é como adentrar em uma jornada muito complexa e sem fim. Infelizmente, o limite da vida nos impede de conhecer tudo o que gostaríamos, mas o que aprendemos nunca será esquecido.

Sócrates disse "cada ação tem seus prazeres e seu preço" e, acredito, que isso resuma bem essa questão do intelectualismo. Gera um prazer imenso saber sobre aquilo que gostamos, mas é penoso demais ficar somente dentro de nossa bolha de interesse de conhecimento. Isso me soa como uma espécie de privação, pois a melhor maneira de entender o mundo é entendendo as pessoas e suas complexidades, para assim complementar nossos conceitos pré-existentes e fundamentar novos. A melhor maneira de mudar o mundo com ações é, primeiro, se afogando na sua complexidade tão diversificada.

É extremamente interessante como o narrador conduz o leitor ao pensamento de que o mais importante está diante de nós, mas que não se trata da tela do celular. Trata-se das coisas que muitas vezes não entendemos, mas que entendemos só por vivê-las: família, amor, amizades... são essas coisas tão cotidianas e que nos agregam tanto que sempre vão nos ensinar a essência e não somente um conhecimento de tela, onde as incertezas nos rodeiam.

A estrutura do texto que introduz, explica e encerra esse conhecimento que deriva do tecnológico, ajuda muito o leitor a capturar a mensagem final.

Obrigada por compartilhar conosco esse texto reflexivo e bem escrito! Peço desculpas pelas divagações aqui no comentário kkkk!

Parabéns, Francisco

Postado 31/08/20 13:47

Caramba, que comentariozão! Fico feliz que meu texto tenha te levado a essa longa reflexão. E fico mais feliz ainda que tenha a compartilhado conosco. Muito obrigado por tudo!