Atentem ao tempo, ele corre sem tréguas e tão continuadamente que, se alguém parar para descansar perde o fio da meada e mais, ele não volta jamais.
De uma hora para outra os moleques viraram adolescentes, trabalham e estudam fora do Educandário Dom Duarte, não são mais aqueles meninos que faziam paródias e imitavam o irmão Simão, não dizem mais "NÓÓ" e não fazem guerra de mamonas na estrada, todos eles agora tem quatorze anos e estão todos reunidos no pavilhão 22, são mestres do universo, fazem a barba e compram calças jeans na rua Direita, as coleções de gibis foram trocadas por revistas da Playboy.
E, embora alguns deles ainda sejam virgens, gastavam o suado dinheiro no Cine Saci...cuidado, esses meninos cresceram.
Quem dormia no primeiro dormitório sempre demorava a dormir, sempre havia um para contar das coisas do trabalho, das aventuras na condução ou bravatas de namoradas novas e, mesmo tendo que trabalhar bem cedo, nunca dormiam antes das duas horas da manhã.
Numa bela noite, o Josué Batata apareceu escondendo algo que carregava com muito zelo, ficamos atento.
A lampada do quarto ainda acesa, descarregou o que parecia um punhado de sementes em cima da cama.
Cheios de curiosidade, como é a natureza de nossas idades, nem precisamos perguntar, veio o Batata com sua voz rouca e seus olhos estatelados:
_Isso aqui foi o Turquinho quem me deu...
E protegia as sementes como se fossem produtos de secreta contravenção.
_Isso aí é para fumar, Batata???
_Não, seus ignorantes, isso é para beber seus retardados.
_Isso é afrodisdisco.
_Você quer dizer afrodisíaco??corrigiu-lhe o Elói.
_Sim, isso faz subir.
_Oi????
_Deixa o danado em sentido de continência.
_NÒÒÒO.
À despeito da interjeição que demostrava espanto, todos se mostraram interessados no produto e se encaminharam à cama do Josué Batata.
Depois de formado o alvoroço, ficou combinado assim:
_Vamos cozinhar o produto e tomar um copo cada, deitamo-nos cada qual em sua cama e conferimos a eficácia do produto...o primeiro que armar a barraca, ganha.
_Certo...isso foi unanimidade.
Saíram em segredo para não despertar a curiosidade dos outros trinta menores e se encaminharam à cozinha do pavilhão, tiveram o cuidado de colocar no enorme bule, junto com as sementes, quinze copos de água para ferver.
Depois de fervido, cada um se muniu do seu copo de plástico e se encaminhou para o primeiro dormitório, com o máximo de cuidado.
Cada um em sua cama, alguns de cueca e outros com as toalhas a proteger-lhes a vergonha, beberam o conteúdo do copo num gole só, todos ao mesmo tempo.
E se passaram aproximados sete minutos, ninguém deu sinal de que ia ganhar a disputa, o Viana arriscou um longo bocejo em voz alta..._Bom, deve ser lento o processo.
Mais dez minutos e o Tadeu gritou empolgado:
_Espera um pouco, acho que senti alguma coisa.
_Eu também...disse o Farofa.
Eu também havia sentido mas, era outra coisa.
Repentinamente, o que se ouviu no primeiro dormitório do pavilhão 22, foi um ressoar de tambores e relâmpagos ensurdecedores, com tanta violência que os meninos puseram-se a correr desesperados pelo corredor.
Lembra que eu disse que sempre fui uma pessoa de sorte??pois bem, ocupei uma das seis privadas do banheirão, nove meninos tiveram que se aliviar no mato lá fora.