Buquê
substantivo masculino
1.
m.q. RAMALHETE ('ramo de flores').
2.
POR ANALOGIA
ou p.metf. reunião de coisas ou pessoas formando um conjunto.
"b. de exemplos"
Os salto-altos faziam barulho quando batiam no piso cimentado da Avenida Paulista.
A sexta-feira já escurecera a tempos mas seu caminho não era longo e a via era movimentada, ela não andava apressada, a maquiagem perfeita havia despendido de muito tempo para ser feita, o cabelo muito tempo para ser escovado e ela precisava continuar linda.
O vestido dourado brilhava, refletindo as milhares de luzes brancas saídas dos enormes prédios que se erguem, imponentes, de ambos os lados da Avenida. Os vários bares à via estavam entulhados de pessoas e tantas garrafas sobre as pequenas mesas que, com outros olhos, a cena poderia parecer cômica. Mas aquelas pessoas, já fora de seu estado normal eram apenas uma prévia de como ela esperava estar no mais tardar daquela noite.
Houve um tempo em que aquilo lhe soaria estranho, mas o tempo não era bom. No fim ela também estava consumida com aquilo, com o vai e vem diário que era a vida de todos: trabalho, faculdade e casa. A ganância movendo todos pelo mais e a vaidade os corroendo pelo melhor.
Tudo o que ela ansiava agora era perder-se entre outras pessoas vazias, buscando um gole de vida em um shot de Vodka.
Saindo da correria daquela cidade.
Alguém a parou pedindo algo, ela não olhou para o lado, não se importava mais. Essa parte dela tinha morrido também, aprendendo que era melhor não se importar. Quando você liga, você sofre.
Um grande grafite triste num alto prédio ao longe, reflexo de mais uma alma desesperada, observou-a virar a esquina da Rua Augusta.
Tão rápido quanto entrou na balada já estava com um doce na boca e um copo de alguma coisa forte na mão, balançando o corpo no ritmo envolvente da música eletrônica, esfregando-se em um estranho. Tudo em busca do calor de outra pessoa. Em busca de sentir.
Todos ali arrumados, chapados, vazios. Como lindas flores arranjadas em um buquê.
No final ela era apenas mais uma flor morta naquele buquê que era a vida das pessoas naquela cidade sem amor, sem sentimentos, semi automática.
“Não existe amor em SP…
Não precisa morrer pra ver Deus
Não precisa sofrer pra saber
O que é melhor pra você…
Cuidado com doce
São Paulo é um buquê
Buquês são flores mortas
Num lindo arranjo
Arranjo lindo feito pra você
Aqui ninguém vai pro céu”
(Não existe amor em SP - Criolo)