As Luzes de Bowling House
Holzwarth
Tipo: Conto ou Crônica
Postado: 27/08/19 16:14
Editado: 27/08/19 16:15
Gênero(s): Crônica
Avaliação: 9
Tempo de Leitura: 2min a 3min
Apreciadores: 7
Comentários: 3
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Palavras: 411
Não recomendado para menores de doze anos
Capítulo Único As Luzes de Bowling House

Numa noite fria de um novembro gelado, com curativos coloridos pelo corpo machucado, Júpiter ia ao boliche ver os pinos serem derrubados, ver silhuetas das moças e dos rapazes brilharem em neon. Lá, via o rosa, o verde e o roxo, via as cores da alegria dos jogadores, que empunhavam belíssimas bolas brilhantes e pesadas, coloridas como as luzes de Bowling House.

Strike! E todos os pinos caíram de uma vez.

Para sempre e por todo o sempre, cores intensas como aquelas que vestia não abandonariam a tristeza, o peso e a podridão que carregavam. Podridão de seu corpo podre, de sua alma degenerada, brutalmente sequestrada pelo monstro que lhe chupava o sangue, a vontade e a felicidade. Para sempre e por todo o sempre, jovem Júpiter trajaria os mesmos tênis surrados, menos vermelhos do que antes, e os mesmos jeans gastos, menos brilhantes do que antes. Seu corpo inteiro era, de fato, menos do que antes, mas não que, algum dia em sua vida, tivesse sido mais do que alguma coisa.

Strike! E jovem Júpiter sentia aquele gosto amargo de novo.

Há muito fora a temida fera comedora de constelações e suspiros, mas, agora, era um pequenino rato encolhido, cheio de dores e tremedeiras, incapaz de devorar planetas ou de devorar corações partidos. Maltratado por dentro, jovem Júpiter exibia no semblante densas olheiras negras, impregnadas na claríssima tez de sua face, que lhe adornavam os olhos cansados e tristonhos escondidos por trás de lentes grossas.

Strike! E todos os jovens brilharam em neon.

A cada passo, vagueava freneticamente os olhos pelo lugar colorido e pulsante, em cujas paredes tremiam batidas de canções sem vozes. Por mais que o medo lhe mandasse recuar, suas pernas fracas o conduziam para as mesas no escuro, onde o rosa, o laranja e o azul não alcançariam seus ossos aparentes. As luzes de Bowling House eram sempre coloridas, sempre da mesma maneira, assim como jovem Júpiter e o grande fardo sobre suas costas magras. Sofrimento físico não era comparável ao tamanho das muitas horas que passara chorando, com as lágrimas a umedecer a face fina, de nariz e queixo afiados, ambos sem cor como seus lábios secos. A boca trêmula de imenso pesar sacudiu-se quando os olhos ficaram úmidos, reluzindo em suas íris claras, grandes como pratos, silhuetas pretas, delgadas e dançantes. As luzes piscavam, os pinos caíam, as bolas rolavam pela pista.

Strike! E lá se ia Júpiter esvaindo-se em lágrimas, mais uma vez.

❖❖❖
Notas de Rodapé

Esse texto foi escrito em 2018, e eu nem lembrava que ele existia. Aliás, minto: eu me lembro de Júpiter, mas não sabia que ele protagonizava uma história como As Luzes de Bowling House. O texto não foi enriquecido com detalhes ou trama antes de ser postado, e eu diria que ele é bem simples, bem singelo.

Apreciadores (7)
Comentários (3)
Postado 09/10/19 09:15

Tá muito bem escrito. Parabéns.

Postado 10/10/19 16:18

Embora eu não pense o mesmo, muito obrigado, confrade.

Postado 31/07/20 14:22

Amei seu texto! Você tem uma habilidade singular incrível de escrita que sempre consegue prender o leitor do começo ao fim.

Parabéns ♥

Postado 26/08/20 13:06

Eu amei o triste universo de Júpiter! Seu texto está incrível, muito descritivo, muito intenso, foi como se eu, assim como Júpiter, pudesse sentir os Strikes em minhas costas... Foi tocante demais!

Parabéns pela obra e obrigada por postá-la aqui no site <3