Eu estava andando pela rua, o vento gelado batia em meu rosto, balançando meus curtos cabelos negros. A cidade ao meu redor continuava igual: uma floresta fria de concreto, encoberta por nuvens que prometiam uma tempestade a qualquer instante. Eu não sabia o porquê, mas aquela cidade me dava medo, apavorava-me, para ser mais exata.
Como poder explicar? Eu me sentia tão pequena diante daqueles gigantes de concreto, aquelas torres que mais pareciam prisões. Sim, para mim eram prisões. As pessoas poderiam chamá-los de prédios. Poderiam dizer que eram um lar, que eram seguros e aconchegantes. Eu não duvidava que o fossem, mas, ainda assim, não deixavam de ser prisões.
As pessoas se isolavam naquelas torres de pedra, da mesma forma que um coelho se isola dentro de sua toca, escondendo-se dos predadores, escondendo-se do mundo. Mas do que as pessoas se isolam? Dos outros talvez? É isso que penso, mas não tenho certeza, afinal, posso falar apenas por mim mesma.
Para mim a existência dos outros me assusta. Bem, expressei-me mal. Não é a existência deles que me assusta, mas sim a proximidade com eles. Relacionar-se é sempre complicado, abrir-se com o outro, doar-se a outro... isso é perigoso, nos deixa vulneráveis. Quem gosta de se sentir vulnerável?
Uma segunda rajada de vento acertou-me, mais forte e mais gélida que a anterior. Meus cabelos balançaram, eu abracei meu próprio corpo, em um gesto automático de defesa. Aquele gesto da mãe natureza, acertando-me com uma bofetada de ar frio, retirou-me de meus pensamentos. Ok, talvez eu devesse não pensar tanto assim nesse tipo de coisa. No tipo de coisa que eu não posso mudar.
Voltei a olhar ao redor, lá estavam os mesmos prédios que tanto temo, cercando-me imponentes com suas faces de concreto. Eu os sentia me observando de todos os lados, deuses desse vasto mundo o qual eu sou apenas uma mísera partícula, um grão insignificante de areia. Eles pareciam me dizer “coloque-se no seu lugar, você não é nada. Esconda-se dentro de nossos muros e aceite que nós governamos aqui”.
Eu suspirei, derrotada, estava mesmo na hora de voltar para casa. Lentamente caminhei, desviando-me cuidadosamente das dezenas de pessoas que passavam por mim na rua. De volta a segurança dos titãs gigantes, de volta a solidão de minha prisão.
Sim, eu os temia, mas tinha que admitir que os seus muros me davam uma falsa, mas nem por isso negligenciável, sensação de segurança.