Nada é permanente, tudo é mutável e nada é como foi um dia.
Ao passar pela rua e tropeçar em uma pedra, você fica aborrecido. Desce a rua xingando e amaldiçoando. A pedra precisava mesmo te atrapalhar?
O que você não sabe é a viagem que aquela pedra fez. O que você não sabe é que essa pedrinha esteve em uma belíssima construção, um castelo! Muito lindo e evoluído pro século em que se encontrava, várias donzelas se casaram ali.
Mas um belo dia, a vida aprontou uma das suas.
As placas tectônicas decidiram que estavam com saudades uma da outra, e resolveram se encontrar! O que causou um terrível terremoto. O castelo veio abaixo.
Todas as histórias de amor que aconteceram ali, todas as pessoas que por ali passavam, todas as risadas foram abafadas pelas pedras. Uma terrível, trágica e fatídica história. As pedras sentiam-se culpadas por acabar com tantas histórias de amor, por encerrar tantos estudos, paixões e sonhos. Mas não havia nada a ser feito, a não ser esperar o tempo passar.
E ele passou. Ele sempre passa.
Algumas pedras foram retiradas, outras recolhidas e jogadas no lago por crianças ou casais apaixonados que ali brincavam. Uma dessas pedras, que agora se encontrava no fundo do rio, um belo dia se viu sendo erguida. O que era isso? Ela gostava de sua casa, já estava acomodada há tempos... mas no fim, resolveu não reclamar, pois percebeu que o tempo novamente agia em sua vida. Ela foi erguida, mas não sozinha. Muitos peixes a acompanhava! Era uma rede de pesca. Um dos pescadores achou o formato da pedra engraçado e resolveu guarda-la por algum motivo. A guardou no bolso que, por coincidência, estava furado. A pedra percorreu um curto caminho até perceber que novamente estava no chão seco e áspero.
Permaneceu ali, por alguns minutos, que se tornaram horas, que se tornaram dias, que se tornaram anos. Sempre alguém a chutava uns centímetros a mais.
Acontece, que dali, a pedra via muita coisa! Pedidos de casamento, términos de noivado, negócios sendo fechados. A pedra entendeu que não importava o caminho, afinal, todos passavam por ele, mas somente o viajante poderia escolher como agir. E não importa pelo que você passou, você precisa seguir. Algumas vezes, não poderá escolher seu caminho. Mas poderá escolher o que fazer com ele, como reagir a ele. E também não importa o que você vai fazer com as coisas ou pessoas que encontrar durante o caminho.
A pedra? Você pode usá-la para construir, pode querer guarda-lá consigo pra sempre, pode a mandar para longe. Se for para ser, será. Alguns ciclos devem se concluir, não adianta joga-los para longe, no fundo de um rio, a vida faz questão de reerguer todos aqueles que merecem. Assim como não adianta querer guardar consigo aquilo que não é para ser seu, ele esta destinado a sair da sua vida.
Tudo tem motivo, mas também consequências. Por isso precisamos pensar e avaliar antes de agir. Precisamos saber que as pedras que encontramos são necessárias, não sabemos pelo que passaram. Algumas dificultam nossa vida simplesmente por ter passado por muita coisa, por serem calejadas. Você não sabe o quanto o processo de erosão pode ser destrutivo. Da mesma forma que não sabe quem passou pelo mesmo caminho que você.
Na verdade, o caminho pouco importa. A pedrinha, durante o tempo que estava no lago, aprendeu que muitos o atravessavam nadando, outros de barco, uns andando pela margem. E isso lhe trouxe mais uma lição, o caminho pode sim até ser o mesmo, mas somente você decide como trilha-lo.
Antes de xingar e amaldiçoar pense no que aquela "pedrinha" passou, ou porque aquilo aconteceu na sua vida.
Você pode ter tropeçado na sua felicidade e nem imaginar, pode ter esquecido a parte que falta no seu castelo. Ou, caso não tenha absorvido, simplesmente machucou seu pé.