Quando me mudei pra Camaçari (e, isso, já faz 13 anos) montei um time de futsal, nesse time tinha um goleiro chamado Marcio, não era nenhuma Brastemp, mas, era alegre, dessas pessoas que falam alto, brincam com todo mundo, fiz amizade de cara. Quando a coisa se complicava em quadra, ele sempre dizia uma frase:
Aí fica fácil, Paulista.
Paulista é como me chamam, o Marcio tentava dizer que, se a coisa não melhorasse, ele ia abandonar o gol.
O tempo passou e a frase pegou, aonde o Marcio me via, gritava:
Ai fica fácil paulista _ muitas vezes, eu nem chegava a vê-lo, só o ouvia gritar.
Quando eu dava aulas de esporte, pros meninos da Pestalozzi, na Praça Abrantes, no meio de um exercício ou na hora de uma reprimenda, ele, do outro lado da praça, punha a cabeça pra fora da janela e gritava, os meninos caíam na risada.
Alguns anos atrás, ele se envolveu numa briga, essas coisas passionais que acabam mal e ele sumiu, pouco depois me disseram que o amigo havia passado dessa pra melhor, como um bom amigo senti, mas a noticia chegou-me com uns meses de atraso, continuei a vida.
Dia desses, distraído vinha eu e meu neto na Praça Abrantes, olhando o chafariz, escutei uma voz distante:
_ Ai fica fácil Paulista.
Olhei em volta e não vi ninguém, a voz ecoou uma segunda vez, pude ver que um ônibus, desses que vão pra orla, já ia longe.
Das duas uma, ou esse defunto está pedindo vela, ou a criatura está viva ainda, em todo caso vou marcar consulta no psiquiatra.