Arlindo era um sujeito normal, desses que vão à missa as quintas de noite e aos domingos pela manhã, aparentava uns 25 anos e morava só.
Dele, a vizinhança só sabia que trabalhava com tecnologia, técnico de alguma coisa, supunham.
A casa simples que ele morava não ficava à vista do povo, um muro enorme a escondia, acima do muro haviam uns fios e uma câmera de vigilância pendia, sempre que alguém se aproximava do portão, se podia ouvir o latido forte de um cão feroz, junto com isso, um arrastar de corrente.
Sempre que o Arlindo chegava, passava rápido para dentro do quintal, como se tivesse medo que o cachorro saísse para a rua.
Apesar de nenhum vizinho, jamais ter posto os olhos no Jacaré, todos o respeitavam e temiam sua fúria.
Qualquer pessoa que passasse em frente da casa, ouvia o latido ameaçador, muitos evitavam, quando iam chegando neste trecho da rua, mudavam de calçada.
E se imaginava como poderia ser o Jacaré...talvez um capa preta, ou um fila, quem sabe um dobermann...eram várias as opções, no que todo mundo concordava era que, o bicho era enorme.
A curiosidade do pessoal era tanta que, a professora do primário, da escola do bairro, passou de lição de casa um desenho do Jacaré, como cada criança imaginava a aparência do famoso cachorro do Arlindo.
É claro que as crianças se soltaram, em todos os desenhos o Jacaré era gigante, uma menina desenhou o diabo e coloriu de vermelho.
Houve uma temporada em que quase todas as casas foram invadidas e tiveram vários aparelhos e dinheiro furtados, me diga qual a única casa que os larápios pouparam...isso, a casa do Arlindo.
No dia que o Arlindo disse que ia se mudar do bairro, uma verdadeira multidão se formou do outro lado da calçada, a maioria já preparada para correr, nunca se sabe.
O povo fazia aposta, alguns guris se apinhavam nas arvores da rua.
Alheio a tudo aquilo, com o portão aberto, Arlindo ajudou os carregadores com os moveis e as caixas, toda vez que ele entrava em casa, a expectativa aumentava, os vizinhos ficavam com a emoção à flor da pele, o estranho é que ninguém ouvia o forte latido do cachorro.
Quando Arlindo e os carregadores terminaram o serviço, ele tinha uma caixa media na mão, passou a chave no portão e a guardou no bolso da calça.
Houve um grito na multidão:
_vai deixar o pobre do cachorro sozinho???
E o povo todo se indignou, Arlindo foi vaiado em coral, um vizinho criou coragem e deu um passo à frente:
_. Não pode, isso é desumano, tens que levar o cachorro contigo.
_mas eu estou levando o Jacaré comigo. Respondeu-lhe o Arlindo.
Alguns riram, uns se indignaram e a vaia aumentou.
_. Então cadê ele???
Diante da interrogação geral, Arlindo abriu a caixa que carregava e a mostrou para o vizinho.
O vizinho pareceu que estava tendo taquicardia, deu um grito e pareceu rir, ou chorar, só se sabe é que ele perdeu a fala.
O Jacaré nada mais era que um gravador, que funcionava com sensor eletrônico de movimento.