Nem te falo moça,
Mas apaixonei-me por ti.
Esses teus olhos negros
Que como por empuxo
Contradizem a gravidade,
Atraem a mim até mais que o planeta aos meus pés,
Não te minto, já sonhei com nosso noivado,
Casamento, filhos, casa e terraço.
Sei que te pareço meio apressado,
Mas é que sou por assim mesmo,
Meio alucinado, me perco por esse mundo,
Dentro de todo esse ar,
Meus pensamentos flutuam como em um espaço,
Livre de atrito, viajo vagamente constante,
Intermitente, sem atrasos
Ou rotas a serem erradas.
O sol que agora bate forte no rosto,
E fatiga meus olhos perdidos no vão
Desperta a mim.
Outro devaneio e mais uma parada perdida,
Desço na próxima como sem falta,
Sonhar acordado não me permite chegar me casa,
Ou acordo de vez
Ou ando por vários metros já percorridos,
De qualquer modo, o que me sobra é tempo,
Talvez delirar com algo mais não faça mal,
De todo mal que pudesse ser feito,
O Sol já faz ao me acordar,
Mais uma casa para reconstruir,
Mais uma família para refazer,
Mais uma vida para criar,
Mais um heterônimo para morar.