Fruta madura
Nilton Victorino Filho
Tipo: Conto ou Crônica
Postado: 15/07/19 20:05
Gênero(s): Cotidiano
Avaliação: Não avaliado
Tempo de Leitura: 3min a 4min
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Palavras: 540
Livre para todos os públicos
Capítulo Único Fruta madura

Pra me desculpar da hstória do casal do 14, aquela que expus uma parte triste da minha infância e, posso ter dado a impressão de que a vida dos internos era sofrida, vou me redimir e contar sobre um casal que nos veio depois, a frase é batida, mas é real(depois da tempestade vem a bonança).

O seu João e a dona Helena trouxeram pra nós, a certeza de que a vida era muito boa.

O seu João era mineiro, daqueles mineiros de fala mansa, que contam histórias, conversam de igual pra igual e nunca recorria à violência, a dona Helena chamava os guris de filho.

Era o retorno do casal ao Educa, anos antes, eles cuidaram do pavilhão 13 e ainda que estivesse agora no 14, todos o chamavam de seu João do 13.

Logo que chegou, falou pros meninos, que quisessem, que se carpissem a produção seria divididas em partes iguais e uma parte seria dele.

Então fomos produzir e, com boa vontade, fazíamos muito mais em menor tempo.

Deu uma boa produção e vendemos tudo, a nossa parte deu pra comprar muitos doces e várias bolas de capotão oficial, com a parte dele, nos deu uma visita ao Zoológico e o melhor natal de todos os tempos.

O casal tinha dois filhos, o Cesar e a Lúcia.

O Cesar tinha 23 anos, formado em arqueologia, vivia viajando e quando vinha, trazia uns apetrechos da África e do Egito, vestia-se com botas de pele de cobra e tinha chapéus de John Wayne, era o herói da molecada e dos grandes também.

A Lúcia tinha uns 25 e era a criatura mais formosa em que os guris do 14 já haviam posto os olhos.

Quando ela passava, fazia um profundo silêncio, em seus olhos brilhava a luz, quando ela sorria, o dia se iluminava, quando ela respirava, a rosa tinha inveja. Pra os meninos do 14, havia a beleza e havia a Lúcia, ela era a beleza elevada ao cubo.

Do lado de fora do pavilhão 14, seguia-se uns 10 metros de terra batida e principiava-se um barranco de uns 2 metros, se muito, acima do barranco havia uns pés de uvaia, uma frutinha amarela que, mesmo quando amadurecia, era azeda.

Numa bela tardinha, eu o Viana e o Téquinha subimos cada um num pé e ficamos em cima, colhendo, tirando os bichinhos e comendo, enquanto isso conversávamos.

A Lúcia saiu para a área trazendo uma cadeira de praia, ajeitou-a na terra batida e se sentou os galhos das arvores não permitia que ela nos visse e nós a víamos nitidamente.

Escravo dela, o raio de sol iluminava e uma doce brisa veio beijar-lhe os cabelos negros.

Um galho me atrapalhava a visão e ao tentar me ajeitar num outro galho, pisei num galho mais fino e, feito fruta madura, cai.

A Lúcia se assustou e subiu o barranco pra me ajudar, não doía nada, mas eu gemia, gemia de vergonha.

A Lúcia, além de linda, era generosa:

_Onde dói? perguntou agoniada.

Ainda a gemer, levei a mão direita à face esquerda, ela pegou a minha cabeça com as duas mãos e beijou-me a face.

No mesmo instante do beijo, as duas frutas que ainda havia nas arvores despencaram.

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Apreciadores (2)
Comentários (2)
Postado 03/06/20 19:33

Um belo conto, eu não li essa outra história do "casal do 14", por isso, fico um pouco curiosa. HAHAHHA

Seu texto me entregou uma sensação de "infancia do meu pai", dando-me muitos sorriso e prendendo-me instantaneamente a leitura de sua obra.

Agradeço por compartilhar sua história.

Assisnado alguém que tem medo de altura, <3

Postado 18/07/20 14:44

Eu sempre acho suas obras TÃO BOAS! Você tem o total controle e poder das palavras, você pode escrever sobre qualquer coisa cotidiana ou não, e isso será magnânimo. Parabéns, mais uma vez <3