Pesadelo III
Mica e eu casamos no mesmo dia e fomos mãe no mesmo dia, o casamento dela acabou antes do meu e eu a consolei por meses, agora ela estava ao meu lado e ao mesmo tempo ela não acreditava em fatalidade, algo para ela não batia, primeiro os dois estavam juntos e na nossa casa debaixo do meu nariz, a cena agora dizia tudo e o olhar dos dois e a desculpa perfeita dela.
Mica não conseguia engolir como o homem da boate surgiu diante de mim entre ela e eu sem passar por ela, ele não estava no bar, não houve troca de olhares na pista e do nada ele surgiu e mesmo alta do chão eu não me confundiria com alguém idêntico a ele, no primeiro beijo eu perceberia a diferença e pararia ali mesmo na boate.
Algo não batia e ela insistia para eu repetir e repetir a mesma historia, ela não se convencia e cismou que fui dopada e ela descobriria e como o tempo passou o vestígio da droga se houve já havia sumido e nada poderia ser provado, restava o cara e qual ligação ele tinha com os dois ou com um dos dois.
Mica nas minhas costas sem me informar investigava a vida do meu ex, e por longos anos mesmo antes de tudo acontecer ela tinha tudo catalogado, meu cérebro estava paralisado e eu não me dei conta que o nosso casamento foi com separação de bens, exigência do ex, assim se um dia por infelicidade, nós não brigaríamos pelos bens e cada sairia com o que era seu.
Ele era de origem simples, seus pais deram duro para ele ser alguém na vida e uma tia pagava a escola pra ele, eu era de família classe media alta, meus tinham uma fazenda em minas, sitio em Nova Friburgo e dois apartamento um na Barra da tijuca e o outro em Copacabana.
Eu era filha única e quando meus pais morreram no acidente ainda era solteira e um bom partido nos dois sentidos e isso sempre deixou Mica com a pulga atrás da orelha em relação ao meu ex e talvez por essa razão ela catalogasse todas as mudanças que aconteceram no meu patrimônio após o casamento.
A primeira mudança foi do sitio em Nova Friburgo realmente era de difícil acesso, então nos resolvemos vender e comprar um próximo à Barra, nós escolhemos juntos o sitio e meu marido cuidou da negociação, mas Mica estava presente e como cricri me dando ordens.
Meu marido pagaria pela compra do sitio, mas o dinheiro dele só seria liberado pelo laboratório o qual fomos a Paris conhecer dois meses depois da compra, tudo bem, a venda do sitio e mais minhas economias dava para pagar, eu iria preencher o chegue o meu ex afirmou que eu deveria sacar o dinheiro e irmos até o sitio e entregar pessoalmente o dinheiro fechando a venda, Mica sorriu e disse, para isso existe transferência e andar com dinheiro vivo é suicídio, nunca se sabe um assalto no caminho, melhor transferir, meu ex reafirmou que com dinheiro vivo, Mica sorriu e disse, foi que eu disse transferência é dinheiro vivo e assim foi feita a transação contrariando meu ex, por coincidência fomos assaltados no caminho do sitio e levaram o carro e alguns pertences, eu agradeci Mica e não relacionei o fato.
Dois meses se passaram e meu ex continuava com problema com o dinheiro, não liguei para o fato que o sitio estava em nome dele, logo em seguida veio a casa na praia na região dos lagos quase um balneário com piscina, quadra de esporte e um duplex, novamente meu ex pagaria pela propriedade, mas como ele estava com o dinheiro preso no laboratório, por exigência de Mica eu transferi a entrada e paguei as prestações até meu marido me repor o que não aconteceu e novamente não me liguei no fato de ele ser o responsável pela negociação e estar no nome dele, Mica é claro a cada prestação da casa na hora de pagar lá estava ela me obrigando pagar em debito.
Como eu disse nesse período o qual vivi feliz ao lado do meu ex o meu cérebro estava simplesmente danificado e fatos corriqueiros que toda mulher esta ligada e não deixaria passar em brancas nuvens passava por mim sem eu me ligar, mas Mica estava sempre de butuca ligada.
Um dos fatos que hoje me faz me sentir uma otária lesada aconteceu na casa de praia, na terceira ou na quarta visita da Sayuri, ela estava de partida para mais um desfile, com a mala sem fechar ela murmurou.
- Melhor passar em casa e deixar um pouco de roupa, dois dias não vou usar nem a meta...
Meu ex sugeriu “deixe no guarda-roupa do quarto de hospede onde você está acomodada, não temos muitos hospedes e se precisarmos a empregada dobra e assim que o quarto estiver disponível ela repõe a roupa nos cabides”, nada demais naquele momento, Mica tinha roupa no meu guarda-roupa e eu tinha roupa no dela, ela vestia as minhas roupas e eu vestia as roupas dela tanto na minha casa quanto na casa dela, acho que nem ela e nem eu algum dia estivemos vestidas com as nossas roupas sempre tínhamos uma peça ao menos da outra.
No entanto o fato se repetiu no sitio e depois na casa da barra, Sayuri chegava e estava na sua casa independente de estar no sito, na praia ou na Barra e suas visitas se tornaram frequentes como se ela não tivesse onde ficar e os nossos endereços fosse o dela e eu não me ligava.
Logo depois da separação Mica me arrastou para o banco e solicitou um estrato dos últimos oito anos, o tempo que eu fiquei casada, eu estranhei e a questionei.
- Você esta insinuando que ele me roubou por todos esses anos, eu te conheço desembucha?
- Pra isso eu sou advogada da vara da família, extrato na minha mão e depois te peço desculpa ou você me agradece...
Eu entreguei a ela, não tinha como discutir e mostrei a língua, ela sorriu e passou a tesoura na minha língua no sentido de a minha língua ficar entre os seus dois dedos.
Meu cérebro estava paralisado e aquele homem diante dos meus olhos era imaculado, santo e jamais me roubaria e nada demais deixar ela feliz em me proteger desde criança.