O dia acabou e seis dias surgiram depois da ultima conversa que tive com meu mestre.
Abri meus olhos contra minha vontade, pois em realidade não queria acordar, apalpei o travesseiro umido... Eu havia chorado uma noite toda? E quantas outras noites chorei? Já não sabia mais.
Aquela conversa não saia de minha mente, o fato dele estar partindo e indo se juntar a força, aquela voz calma dizendo tais coisas, era demais para mim suportar.
Estava não mais triste no momento, na verdade estava, mas agora a raiva estava a ultrapassar a tristeza, levantei-me rapidamente e fui em passadas pesadas até o aposento dele, abri a porta sem ao menos bater, ele estava a meditar mas não me importei, peguei-o pelo colarinho e ele despertou assustado.
_ Temos que conversar _ disse entre dentes.
_ Já falamos tudo o que precisamos ontem, feche a porta quando sair _ ele disse calmamente, como se não percebesse meu ódio.
_ Como se atreve a me deixar? _ rosnei sacolejando-o, ele não tinha reação, é como se estivesse dormindo o tempo todo.
_ É o destino _ retrucou ele e em um movimento rapido se livrou das minhas mãos que o puxavam. _ Aprenda a ser responsavel e aceitar o que a força traz a todos! _ disse sériamente, quase que grosseiro.
Agora era sim? Ele quase não me dirigia a palavra desde que me disse que iria ir para o mundo espiritual em breve, como se temesse que eu sofresse, mal sabia ele que eu sofria ainda mais ao ser ignorada.
_ Por que? Por que eu sempre tenho que aceitar mestre!? _ gritei e com o ódio derrubei um vaso de flores do criado mudo _ Estou cansada de aceitar, não vou perde-lo! _ abaixei os olhos terminando com um sussurro _ Não suporto olha-lo como se fosse a ultima vez...
O homem á minha frente passou a me fitar com seriedade, mas no fundo daquela carranca, havia tristeza, havia algo a mais, como se me escondesse algo.
Porém ele apenas se levantou e me puxou para o que eu poderia nomear sem duvida o maior abraço do mundo, apertou-me contra seu peito, senti seu cheiro, adorava o cheiro de insenso que ele carregava o tempo todo por passar horas no templo, eu adorava seu cheiro, e tudo nele.
Aquele abraço simbolizou tudo, não evitei e me pus a chorar novamente, céus como eu estava sensivel! Ele pareceu ler meu ultimo pensamento e sorriu, não sei se sorria pelo fato de eu estar sensivel ou pelo fato de estar quase me fundindo a ele para sentir mais sua presença.
eu amava-o, eu o respeitava e o admirava, mas sem duvida, o amava mais que todos os sentimentos.
mas ele iria partir sem eu o dizer, e será melhor assim.
ele nunca saberia do que eu sentia, ou talvez ele soubesse, e se fosse esse o caso, era melhor que ele continuasse a fingir que não sabia de nada.
eu continuaria olhando ele como se fosse a ultima vez.
Mas ainda continuaria o olhando, não importa por quanto tempo, eu ainda o olharia.
era o suficiente.
permanessemos abraçados por um tempo que parecia não passar.
Como se fosse a ultima vez.
fim