_ Concentre-se ! _ ralhou meu mestre dando outra cajadada em minha cabeça.
_ Ai! Poxa eu estou tentando! _ resmunguei voltando a posição de lótus usada na meditação.
_ Endireita a coluna e tenta ficar de bico fechado _ grasnou a voz masculina, meu mentor era mesmo um chato!
Tá, tá bom mas que merda! _ murmuro e fecho os olhos já perdendo a paciencia.
E lá se vai mais uma cajadada que ele me dá! E desta vez doeu pra valer.
_ Por que me bateu? _ abro os olhos alarmada e massageio o coro cabeludo dolorido.
Ele não respondeu e tentou me acertar de novo, eu desviei e dei a lingua já cantando vitória, quando recebo outra nas costelas, sem dó nem piedade.
_ Filho de uma puta! _ grunhi de dor, já saia lagrimas dos meus olhos devido a força e precisão que ele usou.
Ele sequer respondeu a minha ofensa, simplesmente se aproximou quieto e endireitou minha pose, afastou minhas pernas, endireitou minhas costas e enxugou a lagrima que caiu em meu rosto de forma terna, e em seguida deu um beijo demorado em minha testa.
Admito que gostei daquilo, e muito... Era uma sensação boa, era tão raro receber afeto dele...
_ Esvazie a mente _ mandou meu mestre e eu o fiz, porém mal deu dois minutos e eu falhei, pois lembrei do beijo que ganhei na testa e acabei por rir, perdendo a concentração pela milésima vez.
E mais uma vez senti o carvalho sólido contra meus miolos.
_ Desisto da senhorita! És uma aluna incorrigivel ! _ gritou ele e se sentou na mesma posição que eu. _ Custa ficar séria? É tão dificil assim levar a sério e deixar de ser uma tagarela inutil e ainda por cima dada a palhaçadas? _ terminou ele por fim, em um tom sério e rouco.
Aquilo me magoou, ele nunca havia dito isto para mim, está bem que havia horas que eu tentava e fracassava na arte de meditar.
Mas ele nunca gritou e nem nunca disse coisas grosseiras daquela forma, o susto foi tanto que levantei abruptamente e sai correndo, me sentia terrivel. Quase como um monstro !
Corri ao meu aposento e joguei meu corpo sobre a minha cama acolchoada, abracei a primeira coisa fofa que encontrei e desatei a chorar.
Nem sabia o por que chorava, nem senti-me tão ofendida, mas por algum motivo eu desabei, é como se eu fosse a pior pessoa do mundo naquele instante, como se fosse indigna de aprender.
fiquei a soluçar como uma criança, e fiz isso por uns bons minutos.
Quando de repente senti um peso na ponta da minha cama e logo em seguida um carinho de mãos asperas sob meus cabelos.
_ Me perdoe querida, mas você precisa concentrar-se _ disse a voz suave. _ Não precisa chorar, não suporto ve-la assim, sou rude e amargo pelo tempo, mas nunca quis que esse amargor caisse sobre ti. _ completou ele tirando os fios de cabelo umidos da minha vista.
_ Eu sou um fracasso _ disse em um tom abafado apertando ainda mais o rosto contra o travesseiro.
_ Vem, tente de novo, por favor, você conseguirá desta vez.
Eu fiquei alguns segundos a pensar, eu deveria tentar? Mas e se ele ver meu rosto vermelho de choro?
Meu mestre deve achar-me uma tola, coisa que provaria que não era!
Convenci a mim mesma disso e me coloquei sentada sobre a cama, enxuguei o rosto e fiz a mesma posição, coluna reta, pernas afastadas e peito para frente, e fechei os olhos, depositando ali toda a energia que havia em mim, quando de repente senti a cabeça esvaziar pela primeira vez.
Eu não ouvia, nem sentia nada, estava em plenitude.
Estava certo!
Quem diria !
Eu consegui meditar !
Aquilo demorou apenas alguns minutos, quando despertei, queria ter conseguido por mais tempo, porém fiquei imensamente contente ao ver o homem á minha frente sorrir e me apertar contra seu peito como se eu fosse a melhor aprendiz deste mundo.
Que professor turrão eu tenho...
E eu agradeço cada vez mais por ter meu querido mestre ao meu lado.
Fim