Era de noite, e estavamos sentados de forma esparramada em poltronas, a garrafa de vinho estava pela metade, nem sabiamos onde estavamos direito, era uma sala bela, ampla e agradavel, a janela aberta trazia uma corrente leve de ar perfumado por conta das rosas que ficavam no parapeito.
Você me contava uma história engraçada, e eu ria em demasia e você junto comigo, eu fazia comentários sem nexo hora ou outra por conta do alcool em meu sangue, mas você não parecia se importar, e adorava ouvir-me falar, assim como eu apreciava você, daquele jeito tão desarrumado, paletó largado no chão mesmo, a camisa social com os três primeiros botões abertos. Todo a vontade.
Então, de repente, sua pessoa de forma totalmente boba, levantou-se ainda rindo do ultimo comentário feito por mim, se dirigiu a um velho rádio, e o ligou, começou a tocar uma musica do Frank Sinatra, nem lembro-me mais do nome da canção, era lenta e muito bonita, isso era tudo que me recordo, então em passos lentos dirigiu-se a mim cambaleante e ofereceu sua mão.
E eu a aceitei sem pensar duas vezes, me puxaste da poltrona e procuramos a posição da dança ainda rindo por estarmos tão ridiculos ao tentar dançar, até que finalmente achamos nossos lugares, e começamos uma valsa, e que valsa atrapalhada aquela !
Mas apesar de tudo, pareciamos um casal, pela primeira vez, senti que achei meu lugar, apesar de nem saber se iamos para frente ou para trás na dança, eu não ligava, estava feliz.
Riamos e cantavamos a musica tocada baixo, então de forma inconsequente, você tentou me girar para dar o "gran finale" na dança, o resultado foi catastrófico! Quase fui ao chão por que não consegui sustentar o passo, você então, que apesar de ébrio era precavido, segurou-me a cintura antes que eu atingisse o solo.
Nossos olhares se cruzaram e assim ficaram, um a encarar o outro, eu com o cabelo nos olhos, assustada pelo clima que se formou em tão poucos segundos, você parecia calmo, e ao mesmo tempo elétrico com a situação. Ficamos daquele jeito, eu dependurada em ti a poucos centimetros do chão, então tu de repente avançou, seus lábios se chocaram contra os meus. Foi uma surpresa que eu não esperava por aquilo, nem em sonhos.
Mas apesar de não esperar por tal ato, retribui aquilo como se fosse a primeira e ultima vez, não durou muito, estavamos muito sem coordenação para bolar algo longo, então quando o beijo acabou, me colocou de "pé" por assim dizer, e se afastou.
_ Não sei por que fiz isto, perdão, acho que a assustei _ disse você com os olhos baixos.
_ Tudo bem, está tudo bem _ respondi sentindo as maçãs do rosto arderem de vergonha.
Você tirou a mecha que ficou em meus olhos, e colocou atrás da orelha, e então apenas dando um aceno amigavel de despedida, pegou o paletó e saiu pela porta e a fechou em seguida, estava nervoso. Mas senti uma pitada de alegria naquele seu olhar antes de partir. E bem, enquanto a mim, me sentei na poltrona, agora não mais risonha, e sim pensativa.
Vi a garrafa de vinho quase vazia, e balancei a cabeça negativamente e encostei a cabeça contra o estofado macio, passei a ponta dos dedos sobre os lábios, e fiquei lá a encarar as pernas cobertas pelo vestido azul que usava.
A lua parecia me observar da janela, e o cheiro das rosas agora era mais forte, se a lua tivesse um rosto, estaria rindo de mim agora por ter deixa-lo ir embora, mas eu lá tinha outra escolha? Eu fiquei assustada, retraida, não tinha mais certeza alguma, nem sabia mais quem eu era.
A unica coisa que talvez eu não tivesse duvidas, era que aquela dança,nossa primeira e ultima dança...
Ficaria para sempre na minha cabeça.
fim--