Eleanor estava linda no seu modesto vestido de renda branca. Tinha os olhos postos no seu retrato enquanto apreciava uma ultima vez a sua figura no espelho da pequena sala antes do átrio principal da capela. Respirou profundamente duas vezes e quando bateram na porta do cómodo soube logo que era a sua mãe. Ela entrou, conversaram muito, sobre o passado, o presente e como o futuro seria. A mãe deu-lhe as melhores palavras que disponha para explicar o quão orgulhosa estava. Depois saiu, e o pai entrou. Suava e tinha lágrimas nos olhos, beijou-lhe as faces antes de acarinhar as mãos claras e suaves da sua única filha. Fez a típica declaração de que ela poderia fugir ainda e que ele nunca iria reclamar disso. Ofereceu-lhe um lenço azul que ela colocou no lado esquerdo do decote.
- Acho que nunca na vida um pai não se sentirá pressionado com o casamento da sua filha. - Beijou-lhe a testa antes de sair.
Apanhou todo o ar do mundo nos seus pulmões e expulsou-o suavemente enquanto pegava no seu bouquet de rosas brancas e laranjas. Uma ultima vista para o espelho, para apenas ver se estava tudo no sitio. Por baixo do pequeno véu também de renda, o cabelo castanho e encaracolada espreitava nas suas nuances ruivas. A maquilhagem simples e feita por ela tinha o seu encanto e tornava-a a noiva dos seus sonhos.
Desde pequena Ella sonhava em casar-se num vestido de renda modesto, com mangas e que quase chegava ao chão. Sem cauda, sem volume. Mas o mais importante, Ella sonhava casar-se com alguém que lhe trocasse a botija do gás, que soubesse a sua marca de cerveja e com quem ela poderia passar a bebedeira ao pé do rio Cam. E ela tinha encontrado realmente essa pessoa.
- Posso entrar? - Ryan abriu a porta antes de ela responder. Sorria alegremente enquanto segurava a mão de Ana, a sua filha. - Ana queria ver a madrinha e saber se ela estava tão bonita e elegante como a tia Margo estava a contar a todo o mundo lá fora.
- Oh. Claro! - Ela sorriu alegremente dando uma pequena volta sobre si mesma. - Então, Ana, estou à altura das outras noivas? - Sacudiu as ancas e depois o cabelo.
- Tia, estás melhor que qualquer outra noiva que já vi! Até mesmo que a princesa Kate! - Bateu palmas orgulhosa.
- Uau, melhor que uma princesa! - Chegou mais perto deles, Ryan beijou-lhe a testa orgulhoso. - Então, a minha menina das alianças está segura da sua grande tarefa?
- Claro que sim! O papá até comprou uma almofada bonita para eu as colocar em cima.
- É mesmo? Uau o papá esmerou-se desta vez. - Piscou o olho para o melhor amigo. E depois sacudiu a cabeleira loira da sua afilhada e sobrinha.
- Querida, deixas-me ficar um minuto sozinho com a tia Ella? - A pequena acenou que sim e saiu sem fazer mais perguntas.
- Ela está tão grande...
- É, nem parece que já passaram quatro anos. - Sorriu.
- Quem me dera que a Sophie estivesse aqui para a ver.
- Eu também.
- Mas, acredito que ela está mais que orgulhosa com a maneira como criaste a Ana.
- Criamos. Mas, mais importante agora é o quão orgulhoso eu estou da minha pequena Eleanor que se irá casar.
- Sou mais velha dois meses.
- Não interessa, tenho trinca centímetros a mais. - Riram-se. - Diz-me, ele sabe mudar a botija do gás?
- Sabe.
- E também gosta da tua marca de cerveja? E de passear a noite perto do rio Cam? E comer pequeno-almoço cedo? - Ela acenou rindo. - E, mais importante ainda. Ele é o tal?
Eleanor queria dizer-lhe que o tal já tinha ido embora à imenso tempo, tinha tido uma filha, tinha passado por problemas e desastres emocionais. Mas ela sabia que nunca seria a tal para ele. E William era o mais perto do tal, que ela alguma vez conseguiria chegar.
- Claro que é. Achas que me casaria com algum qualquer?
- Não, mas acredito que um qualquer com cerveja e fish & ships, fizesse o truque.
- Hey! - Deu-lhe um encontrão com o ombro. Ryan afagou-lhe a cara e sorriu serenamente enquanto apreciava os pormenores da cara mais familiar que a sua. Tirou do bolso do casaco cinzento um colar. Era pequeno, de ouro branco e tinha duas letras gravadas num pequeno medalhão, "R&E". Ela pediu que lho colocasse antes que começasse a chorar e estragasse a maquilhagem toda. Ryan obedeceu.
- Lembra-te, estaremos aqui para tudo o que for necessário.
- Mesmo para mudar a bilha do gás?
- Não disseste que ele sabia fazer isso?
- Posso ter mentido um bocadinho.
- Então está bem, até mesmo para mudar a bilha do gás podes chamar-me.
Ana bateu na porta e gritou para se despachassem que iam perder a entrada do tio William ao altar. A porta fechou-se, Eleanor roçou os dedos no medalhão e olhou para cima. Sacudiu os nervos e as borboletas do estômago.
- Estamos prontos?
- Pai, achas que ainda é tarde...
- Pra fugir!?
- Para beber uma fresca London Pride?