Doutor, eu me arrependo
Francisco L Serafini
Tipo: Conto ou Crônica
Postado: 15/03/16 09:47
Editado: 15/03/16 14:14
Gênero(s): Drama
Avaliação: Não avaliado
Tempo de Leitura: 4min a 5min
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Comentários: 2
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Palavras: 702
Livre para todos os públicos
Capítulo Único Doutor, eu me arrependo

— Eu me sinto culpada por todas as desgraças que os seres humanos são obrigados a sentirem na pele. Deveria ter sido menos displicente e ter percebido o mal que aquilo geraria.

— O que está no passado continuará imutável. Você não pode se penalizar no presente para prejudicar seu futuro por algo que você não tem mais acesso. Conforme-se com isso.

— Mas, doutor! Eu não consigo dormir à noite. Tudo que estava destinado aos homens foi perdido. Isso dói demais em mim!

— Então encoraja-se e compartilhe comigo o seu trauma. Permita-me saber o que aconteceu no seu passado para que eu possa lhe ajudar. O que lhe faz sentir tão mal?

Como doem as imagens do passado que não cansam de pulular em minha mente. Tudo era diferente, tudo era bom, tudo era lindo e puro. Mas tudo isso se transformou em dor e sofrimento, pois eu decidi desrespeitar uma única lei.

Lembro-me nitidamente do dia em que tudo mudou. Meu marido e eu andávamos por um bosque lindo. Divertíamo-nos na beira de um rio de água gelada e cristalina. Joguei um pouco de água nele, o que fez com se zangasse comigo a ponto de retrucar. Permanecemos nessa brincadeira por alguns minutos até avistarmos um grande pomar no outro lado do rio. Adorávamos frutas e logo rumamos para lá.

Que aroma delicioso! Nunca tinha imaginado sequer que a mistura de frutas poderia ter um aroma tão gostoso. Olhávamos para as árvores e víamos uma grande de mistura de cores. O verde das folhas predominava, mas as milhares de frutas deixavam o ambiente mais vermelho, laranja e púrpuro. Pegamos uma fruta de cada árvore e sentamos para degustá-las. Saborosíssimas! Eram doces, azedas e até mesmo amargas. Nossas papilas gustativas nunca tinham experimentados tantos sabores diferentes.

O pomar era divino. Extremamente colorido e cheiroso. Tanto que compartilhamos algumas frutas com animais que vieram até nós atraídos pela fartura de alimento. Nesse lugar, a paz reinava absolutamente e tudo parecia ser belo. Levantamos para tentar encontrar alguma fruta ainda não degustada e logo avistamos uma árvore até então despercebida. Ao nos aproximarmos, vimos uma pequena cerca ao redor da árvore, com a clara intenção de isolá-la. Logo percebemos que não haviam animais que comiam o seu fruto. Inclusive, pareciam que todos os frutos estavam no pé, sem nunca ao menos um ter caído ao amadurecer.

Ficamos intrigados. Colocamo-nos a pensar em porque aquela árvore de frutos tão bonitos e aparentemente saborosos estava isolada e nenhum animal desfrutava de seus sabores. Logo lembrei de uma história que uma amiga tinha me contado há alguns dias. Ela dizia ter experimentado uma fruta rara, e de tão rara era protegida. Os animais não a comiam, pois a julgavam ser danosa à saúde. Completou dizendo que os animais não sabiam o incrível sabor que estavam perdendo e recomendou-me a desfruta-la se tivesse a oportunidade. Conclui que a oportunidade estava frente a nossos olhos.

Extremamente curiosa, apanhei a fruta para conhecer o seu sabor. Logo percebo um senhor idoso me observando. Ele se aproxima e reprova nossa atitude. Disse que aquela fruta estava isolada justamente para ninguém a experimentar. Tento contra-argumentar contando a história de minha amiga, mas logo o senhor desmente tudo o que ela disse. Seu semblante mostrava como estava descontente com minha atitude de desobediência. Decidi ignorá-lo completamente, pois, afinal, era apenas um senhor esquisito que queria desmentir minha amiga. Mordi aquela fruta e senti uma infinidade de sabores, mas os quais traziam sensações maravilhosas e tenebrosas.

Não consegui engolir um pedaço se quer. Meu coração começou a sentir fortes pontadas e meus sentidos fazia-me crer que a terra girava. Meu marido começou a agir estranhamente e a partir desse instante ele nunca mais foi o mesmo. E eu tampouco fui a mesma. Era difícil de compreender o que acontecia tão repentinamente. Instantaneamente, conhecemos sensações até então inimagináveis. Hoje, as chamamos de dor, sofrimento, angustia, arrependimento, ódio. Todas essas sensações nos moldaram e moldaram o mundo por completo e para sempre. O que era belo e convivia em plena sintonia se tornou um miserável movido a rancor, como conhecemos hoje e onde somos obrigados a viver.

— Doutor, eu me arrependo! Eu jamais deveria ter comido aquela maçã.

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Postado 15/03/16 13:08

descreveu de uma maneira lúdica o éden heim...hum....parabéns moço..

não é por nada não, mas observei dois errinhos de ortografia aí..rssss..bjocas

Postado 15/03/16 13:37

Hehehe. Pois é. Foi pra um concurso esse texto, mas acabou nem indo para a avaliação do jurados. E quais são os erros? Bah, li umas 30 vezes já esse texto, heehe.

Postado 15/03/16 13:58

coisa boba, poço ( posso) e se quer ( sequer).

mas nem por isso não adorei ler..pra mim , minha ancestral foi mto curiosa em comer , com isso , sangramos todo mês por causa dela...rsssssss

Postado 15/03/16 14:16

Obrigado! Já tá corrigido. Que erros bobos, hehe.

E de fato, esse negócio de sangrar aí só trouxe problemas. Vocês aguentam as cólicas, nós aguentamos vocês com cólicas, hehehee :p