Eu suspirei longamente e dei um passo para frente, terminando em uma queda livre.
O vento que me atingia em instantes parou ao mesmo passo que minha visão escureceu.
Eu abri os olhos e tudo estava diferente, até eu mesma.
Cantava e dançava entre pessoas como eu, em um mundo infinito de alegria.
Enquanto tocavam e cantavam, todos gritavam "Bis! Bis! Bis!" e atendiamos juntos os nossos próprios pedidos.
Mas, por deslize, escorreguei e tudo se apagou de novo.
"Acorda!" uma voz carinhosa e gentil me acariciou quando disse isto.
Não encontrei quem era o dono dessa voz, mas meu coração guardava essa pessoa cuidadosamente.
Olhei a minha volta e encontrei-me em um jardim florido, colorido como o carinho de um abraço que eu nunca recebi.
Mas, a tempestade veio e tudo se apagou, junto com as cores desse carinho.
Me vi correndo como uma criança, junto de outras crianças.
Eu não era rápida, porém ninguém me deixava para trás. O mundo era nosso!
Nós gritavamos e brincavamos: "Nós podemos ser heroís! O mundo é nosso!".
E nós podiamos mesmo, porém meus joelhos tremeram e eu caí rolando no chão, enquanto o cenário se apagava.
Então, me encontrei vestindo apenas minha pele em frente a um telão apagado.
Quando o mesmo acendeu, vi uma versão minha "criança", sorrindo ao lado de uma outra garota da mesma idade que minha "eu criança". Nós duas andavamos alegres por aí, até que em um cruzamento e nós erramos o momento. Nós não podiamos ser "heróis".
A garota que me acompanhava viu um carro na nossa direção, com medo, ela empurrou minha "eu criança" e correu para a calçada, mas antes de fugir, ela se virou para trás e me encarou e então voltou a correr.
Enquanto eu via minha "eu criança" caída no chão, não consegui sustentar meu peso e caí no chão, desolada. Com a pouca força que me restava eu gritei: "Volte! Volte! Não me deixe sozinha! Eu nunca te quis isso! Volte para mim! Apague isso"
Porém a menina no telão não voltou. Ela deixou a minha "eu criança lá". Sozinha.
E eu voltei a gritar:"Não! Pare isso! Eu não quero lembrar! Eu prefiro não ter memórias felizes e não ter o gosto de felicidade nunca! Pare!"
E o telão mudou o que exibia. Eu arrumei forças para me levantar, mas assim que identifiquei o cenário meus olhos se encheram de lágrimas e eu estendi a mão ao telão, tentando consolar minha "eu pré-adolescente".
Minha "eu pré-adolescente" espiava entre a fresta da porta de um consultório médico duas pessoas conversando com um médico, quando o mesmo disse: Bem, como vocês podem ver... é depressão."
Minha "eu" no telão arregalou seus olhos e com medo correu de lá, porém, ninguém viu isso.
"Vão atrás de mim! Me parem! Parem com as imagens"
E o cenário mudou completamente. Eu estava agora em um local escuro, onde nada existia além de mim.
Uma voz me acolheu enquanto dizia:
"O que te faz sorrir?"
"Pensar que um dia eu deixarei de viver."
No final eu voltei a observar o chão na minha queda livre inicial. Vendo o chão se aproximar, eu sorri e disse
"Obrigada pelas memórias."
E tudo se apagou.